Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

quarta-feira, 18 de maio de 2016

ÊITA TREM DE VIDA, SÔ!






Deve ser porque andei distraída por aí e muito confiante no meu passo. Ou pode ser porque o trem resolveu acelerar sem aviso prévio. Quando vi, quase tudo estava fora do ritmo. Perdi o rumo, mas foi só por um tempo. Agora, respiro fundo e vou tentando acertar na dança. Mas tudo isso são apenas suposições para esses dias estranhos. Certo mesmo é que é difícil e desafiador abrir o peito, os braços e os olhos para viver a vida que eu quero.
Soa o apito e os passageiros se agitam. Com ou sem bagagem, preparados ou não, em êxtase ou entediados, ouvem o trem anunciar a partida.
Não há tempo para despedidas. – Senhores passageiros, ocupem seus lugares!
A frase, a mesma de todas as estações, soa como ordem ou convite, conforme a disposição. E lá se vão os passageiros. É gente entre gente. Multidão, coletivo de olhares, de gestos condicionados e esbarros. Multidão, eufemismo para anônimos, condição dos passageiros. Juntos no mesmo trem, prontos para seguir.  Os curiosos sentam-se à janela e olham. Lá fora, há uma paisagem diferente, há a cena em movimento. Esses não medem distância nem tempo, não pensam onde vão chegar, apenas aproveitam. Oh, viajar pode ser tão estimulante!
Os assustados, aqueles que temem o destino, encolhem-se graves no assento. Há muita incerteza a esconder. Já os presunçosos se agitam, questionando a existência do maquinista, dos trilhos e do trem. Depois, assentam-se altivos como líderes. Só não se sabe líder de quê.
Há os que se divertem. Circulam pelos corredores, arriscam-se, encenam um show e contam casos, falam de outras bagagens, de outra gente, de outros lugares, inventam histórias fantásticas e, no final, aguardam os aplausos. Essa gente teme o descaso.
Há moças tímidas, senhoras distintas, senhores oficiais, homens de bem, homens do mal, há meninos esquecidos, jovens esquisitos, bonecas antigas, idosos aflitos... Há passageiros muito interessantes nesse trem. Olho em volta e percebo o vagão em que estou. 
Há gente nova por aqui. Ainda me ajeitando no assento, entristeço-me, porque algumas pessoas não embarcaram comigo. Nem tive a chance de me despedir. Mas a viagem me emociona tanto que, depois da curva, recomponho-me com entusiasmo. 
Percebo que está tudo certo, cá está a minha bagagem. Trago-a grande e preciosa. Embalei para viagem as lembranças todas... o que foi realizado, o que aprendi, os sonhos antigos e, claro, dei bom espaço para os novos. 
Talvez, você que me lê agora, esteja no mesmo vagão desse trem. Então, veja, eu sou a moça ao lado, aquela que olha para fora e vê possibilidades adiante. Sou aquela que escreve num papelzinho o destino, para não esquecer que viajar é outra história. 
Antes que o trem nos surpreenda com outra estação, antes que nos separe e convoque para um novo embarque imediato sem que possamos dar adeus num abraço, vamos nos sentar aqui e trocar confidências, vamos somar descobertas, vamos aprender a verdade de que a viagem ainda não chegou ao fim.