Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

ANFITRIONANDO NO DOMINGO

Já escrevi aqui (não sei onde) que receber é uma arte de poucos. Dizem que nós, mineiros, somos hospitaleiros. Independente de ser sinto esse acolhimento, hospitalidade nas casas dos meus amigos. Se já te colocam dentro da cozinha, podem ter certeza: você é – realmente – de casa.  Abrir sua casa e preparar para acolher convidados ou hóspedes implica doação em todos os sentidos. Estou com hóspede desde o dia 02/02. Minha irmã, amadíssima, que é mais paulistana que mineira pelas décadas que já mora em Sampa.  Mesmo tendo uma intimidade enorme tento deixá-la o mais confortável possível. Primeira providência: entrego a chave da casa para que possa ir e vir quando bem quiser.  Abro espaço nos armários, gavetas, troco a carne vermelha – não come há anos – pela branca, o suco de maracujá por laranja, rearranjo os horários das refeições, roupa de cama e banho limpinha e cheirosa, e dentro das possibilidades me coloco, de motorista, para levá-la a alguns lugares. Fez uma cirurgia e está sem poder dirigir. Claro que vai a pé, de ônibus ou táxi também. Nada disso é pesado. Faço com gosto. Como já fiz, outras tantas vezes, com amigos dos meus filhos. Uma coisa é fato e venho aprendendo nessa arte: hospitalidade é abrir um lugar para o outro!
 Muitas vezes, ser hospitaleiro não é colocar alguém dormindo na sua casa. É escutar alguém que seja totalmente diferente de você. Que tem ideias, valores, crenças, filosofia e ritmo de vida contrária ao seu. Entregar as chaves da casa é  assim . Alimentar, dar subisistência àquilo que é distinto ou contrário a nós. Para tal proeza é necessário cultivar a prática de lidar com nossos medos. O que acontece - de fato - é uma constante troca, nunca um ato unilateral de benevolência do anfitrião. Na verdade, o maior agraciado nessa troca é, na maioria das vezes, o anfitrião. Ele oferece sua prosperidade externa, seja em forma de abrigo, alimento ou conselho, e recebe em troca a força e a novidade da prosperidade interna de quem está de passagem.
O hóspede traz luz à casa do anfitrião e lhe dispensa esperança e entusiasmo. Cada um de nós sabe disso por experiência própria. Quantas vezes a chegada de alguém em nossa casa, por mais que traga dispêndios econômicos e inconvenientes, nos deixa tão gratos, que temos a nítida sensação de estar em dívida, de ter recebido mais que ofertamos? “O que é meu é teu e o que é teu é meu.” A única finalidade de toda a matéria é o provimento do outro. Como num ato falho, troca-se a identidade de anfitrião e hóspede. Somos hóspedes e anfitriões.
Vai receber alguém hoje para o almoço de domingo? Enfatize o que há em comum. Respeite as diferenças e saboreie o dia. E se o convidado não gosta de feijoada mineira faz uma omelete caprichada!(RR)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

DIA D... DECISÃO

Estive numa reunião e ouvi um amado dizendo que já fazia dois anos de blog e que não tinha tido retorno financeiro.  Você teve? Perguntou-me ele. Não criei o Divã para tal e nele nunca fiz propaganda do meu trabalho, respondi. Algumas vezes relato minhas expervivências profissionais, outras tantas de minha vidinha chinfrin e quase sempre montes  de divagações. Ele se tornou um meio, onde além de encontrar pessoas maravilhosas e suas vivências, histórias incríveis, aprendizagem. Fiz dele o meu divã diário.  Descobri mundos sem fundos. E gosto de o simples escrever.  
Participando da conversa, uma irmiga afirma: Ah, mas a Rê dispensa muito tempo com o dela. Não sei quantas horas gasta por dia. Responde todo mundo. Virou uma obrigação!
A pergunta dele agregada à afirmação de que agora vai conduzir seu blog mais light e a palavra obrigação remexeu mais com minha - instalada - bagunça interior. Sentimentos contraditórios que venho vivendo faz tempo.
Uma vez Rike, em um dos seus comentários, disse-me que era uma “mulher máquina de escrever”.  Talvez seja essa a definição. Vou dedilhando. Escrevo o que vivi, compartilho minhas angústias tanto quanto as alegrias que colho ao longo dos dias. Nada além. Tenho sim, o cuidado de escolher uma imagem, música, citação e claro que isso demanda horas. As visitas faço com prazer e leio, realmente leio, toda a postagem para tecer (quando tenho algo) um comentário. Horas e mais horas. Muita e muitas vezes em madrugadas insones ia deixando fluir e quando percebia, o dia amanhecia e tinha ali algumas postagens que me permitiam deixá-las programadas. Mas, como na vida não há programação que a sustente, as intercorrências me faziam escrever outras coisas. E passavam-se os dias. Todos os dias postando. Desde o final do ano passado afirmei, para mim mesma, que esse ano seria diferente. Estava me sentindo viciada. E como uma adicta ficava louca com a abstinência das horas sem visitar, conhecer os novos amigos, ler os comentários aqui deixados.
Bem no recheio dessa confusão comecei a sentir um esvaziamento de palavras, os dedos parados diante do teclado e até mesmo uma apatia preguiçosa. Vocês já me conhecem o suficiente para saber como gosto de visitá-los e recebê-los aqui. Meus amigos de convivência sabem que quando não estou “inteira”, de bem comigo mesma, nem adianta que não saio nem na janela. Fico quieta. Encasulada.
 Divido tudo isso com vocês por não saber que rumo darei ao Divã. Preciso implicar comigo mesma, desenrolar esse emaranhado de emoções e dar seqüência na vida. Lech lechá (assim convoca D’us a Abraão) vá a si, até a terra que te mostrarei.
Não vivo do Blog. Bem que gostaria. Venho me alimentando sim, com o carinho, amorosidade de muitos de vocês e por isso – sempre – o meu OBRIAGADA!  Mas isso, infelizmente, não paga minhas contas e não coloca o pão na mesa. Depois de muito pensar vou tentar estar aqui as terças, quintas e domingos. Como ando perdida nesse caminhar nem isso sei se vou cumprir... Quem sabe assim encontro minha "terra prometida" e posso andarilhar - desobrigada - pelas terras de todos vocês com o coração descalço de premências. "Sei que realmente nada sei"... Espero que compreendam. E claro, nunca se esqueçam: AMO VOCÊS DE VIVERRR! (RR)
Imagens: Internet

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

PENSANDO NOS SELINHOS


Estes dois selinhos ganhei duplamente. Primeiro da Zizi do Bloguinho da Zizi e em seguida da Dê do Tecendo ideias.
 Vou contar um segredim procês: logo quando abri o divã ficava doidinha prá ganhar esse tal de selinho, que nem sabia como fazia para merecer. Só muito tempo depois é que entendi que fazia parte da convivência por aqui e de uma maneira carinhosa para conhecermos outros espaços. Interagirmos e divulgarmos também além dos nossos  os dos amados. Tem gente que gosta, tem gente que detesta e outros tantos tem sua "política" própria para os tais. A princípio ficava numa alegria só. Depois tive a fase da preguiça. Em seguida de contrariar as regras e hoje nem sei em qual estou! Uma coisa é certa e já disse aqui e repito: se sou merecedora ou não =to nem aí, mas uma vez dado não devolvo nem com reza braba.
Está no dicionário. Iluminar: aclarar, instruir, esclarecer, inspirar. Refletir: fazer retroceder, espelhar, revelar, repercutir, pensar maduramente, meditar. E eu ainda tenho que citar cinco blogs que me fazem isso? Ah nem! Sacanagem pura e refinada. Cada um me inspira, esclarece, revela de maneira única. Às vezes leio exatamente o que estava precisando naquele instante. Como se tivesse sido escrito pra mim. Outras me emociono e choro quinem uma besta dirritidinha. Algumas gargalho tanto, mas tanto que ouço: Mãe tá rindo do PC?! E sempre aprendendo. Cês são chiques no úrtimo e nos primeiro tumém. Deviam cobrar cada aula dada. Mió eu mudá o rumo dessa prosa... Vai que ocês cumeça a gosta dessa ideia?! Então contrariando o contrário, o avesso do avesso vou presentear os tais cinco. Afff... (saco esse trem sô!). E ainda conservando a mesma política desde o início: sintam-se à vontade prá levar ou não. 
1. Cite 05 blogs que te iluminam e fazem refletir:
Carla do Pequenos Barulhos Internos: http://www.carlafarinazzi.com/
Rodolfo do Sete Ramos de Oliveira: http://seteramos.blogspot.com/  
Otília do De mãe prá mãe: http://demaipramai.blogspot.com/
2. Cite algum livro, filme, música, frase que te transformou o dia num dia de luz.
Na realidade clareou... no sentido de iluminar a escuridão das emoções vividas naquele instante:
"Talvez você não perceba quando chegar o momento, mas, no seu caso, talvez um pontapé no traseiro seja a melhor coisa que lhe possa acontecer." (Walt Disney) 
3. Diga o que achou do(s) blog(s) que te presenteou:
Bloguinho da Zizi só tem de diminutivo o nome.  Zizi é uma terapeuta holística que na descrição que faz de si, em seu perfil, está - de maneira intensa - como a percebo: “O que cala em minha alma é sentir a alegria do trabalho cumprido. É ver que algo que partiu de mim levou um pouco de paz a alguém.” É a paz alegre que transmite! Venho insistindo com ela para que, além de nos brindar com mensagens, reflexão de muitos autores escreva e partilhe conosco seus conhecimentos. Cada comentário ou pitaco amoroso que dá é aprendizagem certa! (Não vai começar a cobrar, viu Zizi?!)
Denise do Tecendo ideia é irmigamada por quem babo ovo, faço omelete e coisa tal. Seu tecendo é um porto seguro de AMOR, GENEROSIDADE e LUZ... sempre. Já falei muito dela por aqui e de como tece, magicamente, a nossa essência.

 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

SE NÃO TEM REMÉDIO...REMEDIADO ESTÁ(?)

Gostaria que fosse uma piada. Mas, infelizmente, ainda é uma... de péssimo gosto. Muito já mudou. É fato. Muito mais ainda precisa mudar...Enquanto isso rezemos e agradeçamos pela saúde nossa de cada dia. E rezemos pela doença que é nosso SUS! Enquanto batemos joelhos, eles - os hómi que se dizem da saúde - batem nossos bolsos...
- Bom dia, é da recepção? Eu gostaria de falar com alguém que me desse informações sobre um paciente. Queria saber se certa pessoa está melhor ou piorou...
- Qual e o nome do paciente?
- Chama-se Celso e está no quarto 302.
- Um momentinho, vou transferir a ligação para o setor de enfermagem...
- Bom dia, sou a enfermeira Lourdes...
O que deseja?
- Gostaria de saber as condições clínicas do paciente Celso do quarto 302, por favor!
- Um minuto, vou localizar o médico de plantão.
- Aqui é o Dr. Carlos plantonista. Em que posso ajudar?
- Olá, doutor. Precisaria que alguém me informasse sobre a saúde do Celso que está internado há três semanas no quarto 302.
- Ok, meu senhor, vou consultar o prontuário do paciente... Um instante só! Hummm! Aqui está: ele se alimentou bem hoje, a pressão arterial e pulso estão estáveis, responde bem à medicação prescrita e vai ser retirado do monitor cardíaco até amanhã. Continuando bem, o médico responsável assinará alta em três dias.
- Ahhhh, Graças a Deus! São notícias maravilhosas! Que alegria!
- Pelo seu entusiasmo, deve ser alguém muito próximo, certamente da família!?
- Não, sou o próprio Celso telefonando aqui do 302! É que todo mundo entra e sai desta merda deste quarto e ninguém me diz porra nenhuma. Eu só queria saber como estou.....
(Fonte e Imagem: Internet)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

NECESSIDADE...DO OUTRO


Ouvi mais ou menos assim: não são as nossas expectativas que devem ser saciadas, mas a necessidade do outro. Tóin... que nem um soco na boca da alma. Que desafiante. E qual será a necessidade do outro? A gente sempre sabe das nossas. Das mais básicas, como o arroz com feijão nosso de cada dia, até aquele caviar sonhado e acalentado. De fato não sou fã de ovas de esturjão, mas quem não tem uma iguaria refinada e luxuosa guardada - no mais recôndito de seu ser - para ser degustada? Refiro-me às nossas necessidades para continuar a viver. Que nos movem e removem. Sonhadas. É que se eu tivesse um teto, seria o seu teto - se eu tivesse uma panela de sopa que só chegasse para mim, faria como o povo costuma dizer, acrescentava água para chegar para todos.
Os amigos e família não me deram a mão e o meu amor também não. Terá sido com receio que o seu teto ruísse? Porque será que não pudemos enfrentar as suas e as minhas dificuldades juntos?
Esperava ser mais generosa e por água no caldeirão da sopa. Dividir o que não tenho. Saciar as suas necessidades. Sou pobre aprendiz. Acolher o outro em casa pressupõe um outro verdadeiro. No que é adverso e contrário é que se constitui outro. E, nessa categoria de avesso a nós, ainda há outra subcategoria: o antagônico nas semelhanças. É comum pensarmos que a aceitação das diferenças é o grande teste da tolerância e da compaixão. Na verdade, quanto maior a diferença, mais fácil o exercício da tolerância. As diferenças amenizam o impacto e a ameaça que o outro faz à nossa casa e à nossa identidade. É quando o outro é alguém próximo que os maiores problemas surgem.
Uma bela história da tradição muçulmana ilustra esse soco-noção de minha pobreza d'alma.  
Certa vez, Abraão acolheu um forasteiro que era um homem de setenta anos. Pediu a seu hóspede que se sentasse enquanto providenciava comida e bebida para o mesmo.
Enquanto preparava a mesa, iniciou conversa com o visitante e este foi aos poucos revelando sua crença e seus valores. Tratava-se de um homem politeísta e com idéias totalmente contrárias às de Abraão. O anfitrião foi se contrariando com o que ouvia e de imediato passou-lhe pelo pensamento: “Por que mesmo estou alimentando um infiel como este homem?”
De imediato, ouviu a voz de D’us:
- Abraão, há setenta anos, por três vezes ao dia, eu venho alimentando esse homem sem me importar com suas convicções e você, para lhe dar uma única refeição fica aí conjeturando condições para tal?
Abraão imediatamente caiu em si e serviu com generosidade a seu convidado. (Citação de fonte oral)
Eu sou pobre, pobre, pobre, de marré, marré de mim! Nem só de caviar-sonho vivo.(RR)