Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

DOS 96 DE HOJE

   Nasceu Lucy Pitchon em 26 de novembro de 1922 em Belo Horizonte. Segunda filha de imigrantes turcos de origem judaica foi criada em Sete Lagoas. Perdeu o pai aos 08 anos de idade. Sua mãe viúva com 05 crianças pequenas, casou-se novamente e teve mais uma filha.
  Quando ela e sua irmã mais velha se tornaram moças, na idade de casar, a família voltou para Belo Horizonte.
  Aos 20 anos apaixonou-se perdidamente por um imigrante polonês, naturalizado brasileiro, Moszek Jakob Rozenbaum, com quem se casou um ano depois, adotando seu sobrenome. Tiveram 06 filhas.
Como era costume à época, Lucy se dedicava ao lar e à educação das meninas. Seu marido, vendedor de tecidos importados, passava grande parte do tempo viajando e, quando estava em Belo Horizonte, gostava de levar as filhas para passear na Praça da Liberdade em seu Dodge Coronet.
  Pouco após comemorar 40 anos, Lucy ficou viúva, com a responsabilidade de criar as 06 filhas: a mais velha com 17 anos e a caçula com pouco mais de 02. Precisou lidar pela primeira vez com uma série de atividades tipicamente masculinas, como movimentar contas bancárias e aprender a dirigir.
  Para manter a família, reformou sua casa, de forma a permitir o aluguel do segundo andar e dos barracões que havia no fundo. Para complementar a renda abriu um salão de beleza, que não durou muito tempo. Decidiu então montar uma boutique em sua casa que funcionou por muitos anos até formar a filha caçula na universidade.
  Nunca quis se casar de novo, assim como jamais reclamou da missão que lhe coube.
  Lucy era muito vaidosa, alegre e habilidosa. Gostava de dançar, jogar cartas e viajar. Sabia desenhar, bordar, fazer crochê, costurar e cozinhava muito bem!
  Sempre recebia com mesa farta e comida saborosa influenciada pela sua origem turca.
  Teve 07 netos e 02 bisnetos enquanto ainda era viva. A família era seu maior orgulho. A este respeito dizia: "A maçã não cai longe da árvore!" referindo-se à boa educação e ótimo exemplo que dava aos seus descendentes. Lucy era motivo de orgulho para toda para toda a família com quem gostava de comemorar a vida e sempre tirar fotos para "guardar para posteridade".
  Lucy fazia questão de comemorar as festas judaicas com sua família e celebrava com muita alegria todos os momentos da vida. Costumava dizer: "A vida é uma só e precisa ser vivida com entusiasmo!"
  Lucy faleceu em 2009, em Belo Horizonte, aos 86 anos, de causas naturais.
  O nome desse edifício é uma homenagem a essa mulher corajosa, alegre, elegante, forte e cheia de vida para que lembremos sempre que o maior valor da da vida é a própria vida!



(Biografia escrita por Raquel e Maurício Rozenbaum Waks por ocasião da inauguração do Edifício Lucy Rozenbaum em setembro de 2018) 

sábado, 26 de novembro de 2016

ANINHADA EM AMOROSIDADE

Esse é um mês que a saudade aperta mais...E não é que arrumando minhas gavetas, reencontro esse presente dado pelo meu, nosso,amado Bruxo/Rodolfo Barcelos?! Estava tão recente a perda...latejava em dor, tão minha, apropriada de cada pedacinho do meu ser. Um poeta ouviu, acolheu e converteu nessa belezura amorosa. De onde você está Rodolfo se fez PRESENTE e sou-lhe, mais uma vez, gratidão!!! Saudades, diárias, de você mãe...

"A amizade e a solidariedade entre certas pessoas é mágica. Produz milagres. E aqui está um 777 para nossa querida Rê - por sugestão da Denise. Beijos às duas."


Hoje não teremos aula,
Minha Leoa querida.
Entro hoje em tua jaula
Sabendo que estás ferida;
E tua dor me corrói
Pois sei bem como te dói 
Essa ausência tão sentida.

A quantos extraviados
Tu mostrastes o caminho?
E quantos desesperados
Sentiram o teu carinho?
Se hoje estás perdida
Segue minha voz, querida,
Vem em busca do teu ninho.

Deixei cadeira e chicote
Num canto do picadeiro;
E inda que te sofra o bote
Veloz, mortal e certeiro,
Te abraçarei com carinho,
Te falarei de mansinho,
Serei o teu enfermeiro.

Deita a cabeça em meu ombro,
Sente o afago de quem te ama
Com afeto e desassombro.
Ouve a voz de quem te chama;
Eu venho trazer-te a calma,
Eu venho beijar-te a alma,
Eu venho avivar-te a flama.

Sossega, Leoa inquieta,
Pra ti não há domador.
Eu sou tão só um poeta
Que te faz versos de amor;
Pois tu sabes que te amo,
E hoje sobre ti derramo
As preces de um sonhador. 

Vem, querida, adormece
Sem sobressalto ou cuidado,
E no teu repouso esquece
Este doer arraigado.
Vem, aninha-te em meus braços,
Depõe aqui teus cansaços,
E dorme em paz a meu lado.

Quando enfim adormeceres,
Enquanto não acordares
Cantarei os teus quereres,
Quererei os teus cantares.
E tua dor terá sido
Não mais que um sonho esquecido
Que se esvaiu pelos ares. (Rodolfo Barcelos)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

AFETO CULINÁRIO



Quando eu era menina via minha mãe cozinhar sempre. Diariamente os mais variados cheiros e aromas invadiam minha casa.  
Mulher assoberbada de trabalho, seis filhas pra criar, casa, cozinha, então ela não tinha mesmo muito tempo. Não gostava de ajuda no preparo da comida. Não tinha tempo para ensinar e muito menos paciência. 
Ficávamos com o "lava o arroz, descasca o chuchu, cata o feijão, lava a louça". Eu, invariavelmente, com a louça. Nós, as filhas, sempre reclamávamos um pouco na hora de ir para a cozinha ajudá-la. Hoje, como faz pouco tempo que me aventurei na arte do cozinhar, me arrependo. 
Todas as irmãs sempre souberam um pouco desse ofício. Eu não. Mas ela, carinhosa e protetora com sua caçulinha, dizia que cada um leva jeito no que deve... O meu eram as coisas da cabeça e os livros. Mãe nunca erra. Quando muito se distrai
Hoje, quando cozinho, tenho a sensação de revisitar aqueles tempos... Tenho a sensação de que abro arquivos e trago à tona aprendizados e descobertas que ficaram adormecidos. Parece mágica. Aliás, era um dito constante dela: “o fruto nunca cai longe da árvore”. Foi um ganho e tanto. 
Adoro o cheiro do bolo assando porque me faz voltar no tempo. Revejo minha mãe segurando com firmeza a bacia e a colher de pau e mexendo a massa. Acho que tinha certa preguiça de pegar lá nas alturas a batedeira, que naqueles tempos era um trambolho de grande e pesado. 
É o cheiro de infância, é o cheiro da menina sonhando com a transformação da carne bem temperada em alimento. Só não sabia que seria um alimento para a alma também.
Aprendi a refogar arroz, aprendi a fazer carne cozida, aprendi segredos do preparo, porque minha mãe cozinhava e explicava: "não existe cozinheira boa que larga a comida na panela e não mexe". Ela até dizia como devíamos experimentar, verificar o ponto, deixar o gosto apurar antes de despejar água. Que comida salgada não tem jeito, então melhor errar pra menos. E o máximo era: “não tem como dar errado com ingredientes tão bons”!
Outro dia, minha mãe sussurrou em meus ouvidos: "cozinhe sempre assim, com capricho, não vai fazer comida com descaso, faz como se fosse para você." Mas eu já sabia disso. Aprendi lá nos idos da infância, vendo-a apressada, mas nem um pouco descuidada, que cozinhar exige atenção, cuidado, imaginação e, sobretudo, carinho.
Hoje, eu gosto de cozinhar e faço com carinho e a delicadeza de quem está dando seus primeiros passos. Essa é uma das heranças maternas que carrego comigo e passo adiante em cada prato que ando preparando.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

HOJE É DIA




Desde ontem, estou pensando nisto: viver é uma questão de dias. 
Não de minutos, porque é pouco.
Não de instantes, difíceis de captar. Para saber do instante é preciso ser zen (isso eu ainda não sou).
Também não é questão de horas. Estas, às vezes, não fazem o menor sentido. Quando estou dormindo, por exemplo.
Mas um dia, um dia inteirinho, dá para mudar uma vida. Cismei com isso.  Então, hoje, minhas escolhas se processaram a partir de uma pergunta: "o que fazer para tornar este dia importante, como de fato é?" E não dei conta de desperdiçar meu tempo. É nisso que dá ser consciente. 
Talvez amanhã eu chute o balde – o que também é válido – mas, hoje, o que há, é este dia que não vai passar em vão!
Vou abrir um vinho chileno, fazer um belo arranjo floral, uma fritada de abobrinha (agora, finalmente, eu sei!) colocar o CD com suas músicas prediletas – de quando fez 80 anos - e celebrar à sua vida. Le Chaim!!! Feliz aniversário mãe! Saudades eternas...

terça-feira, 24 de março de 2015

QUERIDA MÃE



Hoje já faz seis anos que você nos deixou. Naquela terça-feira à noite algo me impedia de sair do CTI e descansar de um plantão, que havia começado às sete da manhã. Foi com a promessa do coordenador, que qualquer coisa me ligava, que fui embora. 
Logo voltei e ainda pude - um privilégio - ficar de mãos dadas com você enquanto, serenamente, você fazia a passagem.   
Hoje, não venho falar das saudades. Porque essas danadas, mesmo acomodadas pulsam diárias. Venho lhe contar as últimas novas. 
Este 2015 começou com a perda de nosso tio Juca, seu único irmão que ainda estava por aqui. Posso imaginar que a alegria de vocês, em recebê-lo por aí, foi proporcional a nossa tristeza em despedir de quem, invariavelmente, trazia você e todos os outros tios em presença. 
Logo em seguida veio a maioridade judaica de seu primeiro bisneto! Felipe rezou lindamente, fazendo valer muito mais que uma tradição: a perpetuação da família! A festa foi maravilhosa com aquela animação e alegria que você adorava. Depois, o aniversário de 40 anos de seu primeiro neto. Nem te conto que beleza!!! Arranjos florais de hortênsias. Uma de suas prediletas! 
E, nesse mês, o milagre da vida se fez novamente: nascimento do seu quarto bisneto! Eduardo chegou como qualquer bebê: renovando a VIDA e iniciando novo ciclo. Lembramo-nos de você mãe, pois a história se repetiu. Seu cabelo é tão vermelho que você diria o mesmo que disse quando seu pai nasceu: por que as enfermeiras passaram mercúrio cromo na cabeça dele???!!! Ele é calmo, tranquilo, e estamos todos ba-ban-do. 
É isso mãe. Em três meses esse carrossel de emoções! Continue a olhar por todos nós, protegendo, iluminando e guiando seus frutos. E os frutos de seus frutos. Ah, quando puder mande notícias daí!
Com amor eterno
Sua caçulinha