Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

CARRO ESTRAGADO

Meu carro estragou na última terça-feira. Engatava as marchas e não desenvolvia. Parece com a gente que, muitas vezes só fazendo a manutenção básica – alimentação/gasolina, higiene/lava-jato, atividade física quando dá/troca de óleo, calibragem dos pneus – também pifamos e temos que ir ao médico/mecânico.
Ficar sem carro é um transtorno, tanto quanto marcar e ir à consulta médica, fazer os exames, tomar as medicações. Quebra-se o ritmo já tão conhecido e dá um descompasso danado. Mas até que dessa vez, talvez pelas “semiférias”, encarei com mais tranqüilidade.
Andei a pé e no sinal da Leopoldina com Contorno pude tomar café com meus velhos conhecidos, vendedores de sombrinhas e pano de chão: – ué “Dra.” cadê o carro? – Pifou! Tem um tempinho prum café?
Andei de ônibus e pude experimentar vários motoristas, e diversos modelos de “carro”. Fui até conduzida por uma mulher, jovem, bonita, maquiada, que só tinha visto em reportagem na TV. É a constatação das conquistas femininas.
A descoberta maior foi o táxi-lotação! Por R$2,40 conheci gente de todas as profissões, trocamos opiniões sobre assuntos variados, rimos e até desejamos nos rever como velhos conhecidos.
Andar a pé faz a gente enxergar coisas, sentir cheiros, perceber detalhes que de dentro do nosso carro passam desapercebidos. Brinquei com as formiguinhas que tentam deixar nossos caminhos mais limpos, cumprimentei outros andarilhos em resposta a gestos gentis, descobri que onde meu filho faz estágio é quase ao lado do SOCOR, ouvi assovios (quanto tempo!) que me fizeram sorrir. Claro que também me lembrei, do quanto sou privilegiada em possuir um carro e não ter que esperar 10, 15, 20 minutos um ônibus, depois de um longo dia de trabalho e ir espremida que nem sardinha em lata.
Mas de qualquer forma pude reviver emoções e experimentar coisas novas. Fiquei pensando que não quero pifar para poder experimentar coisas novas e reviver emoções. Também somos, como um carro, uma máquina com um tempo de vida útil. A diferença, é que não dá para a gente se trocar ou vender. Dá, isso sim, para fazermos uma constante revisão, sem esperar a quilometragem recomendada!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

MINHA CASA

Regina Rozenbaum

Existem como instrumentos de trabalho para o psicólogo, vários tipos de testes. Um deles é o teste projetivo H.T.P. (House,Tree and Person) que através do desenho é avaliado os aspectos projetivos e expressivos da personalidade, refletindo a maneira como o sujeito percebe o mundo, expressa suas vivências emocionais e ideacionais, associadas ao desenvolvimento da personalidade. Portanto, o desenho representa a maneira que o indivíduo percebe o seu meio, as pessoas e de como sente e se posiciona diante delas. Indica a maneira peculiar de ser e sentir de uma pessoa.
Quando compramos ou alugamos uma casa, sua construção, organização, decoração se faz de acordo não só com nossas condições financeiras, mas de como estamos funcionando na vida. Não precisa de nenhum teste psicológico, é só exercitar a observação e aguçar os nossos sentidos.
As cores utilizadas nas paredes, a escolha e disposição dos móveis, a iluminação, os objetos decorativos falam, silenciosamente, de seu proprietário e de usa história. Se há ou não aconchego, se é fria, impessoal, com a cara do arquiteto ou decoradora você, logo ao entrar, sente no ar.
Adoro minha casa. Gosto de ficar nela - às vezes sozinha, outras com a alegria contagiante dos meus filhos e seus amigos, muitas de receber a família, os amigos – e simplesmente desfrutar.
Através da minha casa descubro o meu modo de ser, de viver, de amar. É dentro dela que encontro soluções novas para problemas antigos. É através do seu desgaste que percebo minha capacidade de inovar e criar.
Na época que me mudei, tive a ajuda de uma profissional fantástica, gente que é gente, e tive vontade de escrever uma carta aberta a AMIDE e afins dizendo o que é ser uma decoradora/profissional:
1. Não é aquela que faz Casa Cor, mas sim que faz cor na sua casa/vida;
2. É ver, ouvir e sentir a cliente antes de pensar só no R$;
3. É ir a Tamoios, Guarani, Olegário Maciel batalhando a favor da cliente;
4. É negociar brindes variados com os fornecedores, ajudando no orçamento apertado da cliente, sem se preocupar com a comi$$ão perdida;
5. É transformar o desânimo, a dificuldade de visualização da cliente numa constante afirmação: “Deixa comigo; vai dar tudo certo”;
6. É não estar à disposição, mas disponível mesmo depois das 22h;
7. É dar abertura para conhecer e acolher a intimidade da cliente e não utiliza-la em benefício próprio;
8. Éentrar nas brincadeiras da cliente, nas lojas mais $ofi$ticada$ e cara$, sem perder seu estilo;
9. É deixar sua marca não só no detalhamento dos desenhos, escolha de cores, disposição de mobiliário, mas em pequenos mimos dados, generosamente, a toda a família;
10. É deixar de ser uma arquiteta/decoradora, profissional competente, e se tornar amiga, torcendo, rezando, energizando e iluminando a nova casa e o coração da cliente, que agora é amiga.
Cuidem bem de suas casas e que elas possam refletir sempre a alegria de bem viver!

sábado, 24 de janeiro de 2009

ESCOLADO OU DESCOLADO

Não conheço pais que não sofram com as questões escolares de seus filhos. Desde a escolha da escolinha na mais tenra idade, até o colégio que irá prepara-los para o vestibular.
Profissão honrosa e rendosa é a que tem diploma universitário. Houve um tempo que o diploma era mais que garantia de emprego. Era um atestado de nobreza.
Os pais já podiam estar prontos para morrer quando uma dessas coisas acontecia: 1) a filha se casava. Isso garantia o seu sustento pelo resto da vida; 2) a filha tirava diploma de normalista. Isso garantiria o seu sustento caso ficasse para titia; 3) um filho entrava para o Banco do Brasil, outro para o seminário para ser padre, outro para o exército para ser oficial e mais um tirava diploma de doutor: médico, engenheiro ou advogado.
Lembro, com carinho, do meu Tio Jaques, o doutor médico, orgulho da minha avó e de toda família, orientando minha mãe nesse assunto: - bota essas meninas para estudar! Uma para ser médica, outra advogada, outra engenheira, outra arquiteta. Você ficará tranquila com o futuro delas! Não foi bem assim: uma fez serviço social, duas letras, outra comunicação social e uma só casou. Quando lhe contei que faria psicologia, respondeu: é melhor que pedagogia, mas não sei se dá dinheiro!?!
Mesmo estando no século XXI, esta ilusão continua a morar na cabeça de todos os pais, e é introduzida na cabeça dos filhos desde pequenos. A diferença é que hoje, além de existirem uma infinidade de cursos, a escolha não é mais garantia de emprego nem de sobrevivência honrosa.
Quando se pergunta a uma criança “o que você vai ser quando crescer?” E ela, baseada no seu mais puro desejo responde “bombeiro, polícia, bailarina, astronauta” acham bonitinho. Quando se pergunta a um jovem vestibulando “o que você vai fazer?” o sentido dessa pergunta e a expectativa da resposta são a mesma de ontem: garantia e tranquilidade no futuro.
Saber o que se deseja aos dezessete anos não é tarefa fácil. Ouço a angústia existente na fala de cada cliente nesse momento decisivo. Sentem-se pressionados pelos familiares, pela realidade daqueles que já com o diploma na mão não conseguem arranjar emprego e por si mesmos quando ainda não sabem de seu desejo ou não conseguem sustenta-lo por ser profissão pouco valorizada.
Dois dias antes do início do vestibular da UFMG falo com meu filho de um compromisso familiar que teríamos no domingo e assim acontece:
- Não vou poder ir mãe, porque vou fazer o vestibular da federal.
- Como assim???? Misto de surpresa com “mãe é a última a ficar sabendo das coisas”.
Ele já cursa direito na PUC. Na época da escolha, também muito jovem, não sabia o que queria. Estava em análise, fez teste vocacional, conversou com muitos, trocou idéias com pais, tios e primos. Tomou sua decisão, eu bem sei, porque na hora de preencher os formulários do vestibular, precisava escolher uma das opções oferecidas. Cursou o primeiro ano, viajou no segundo para o exterior e aprendeu coisas que nenhum banco de escola oferece. Questionou sua escolha. Retomou o curso quando retornou.
- É um curso novo, mãe, abriu esse ano: Ciência do Estado e da Governança Política.
- ???????
- Eu vi a ementa e me interessei por várias disciplinas.
- O que um cientista do estado faz? Que tipo de emprego ele tem?
Afinal, faço parte desse grupo de pais que se pré-ocupam com o futuro dos filhos.
- Mãe fica calma, não vou largar o direito não. Se passar, pretendo fazer as duas faculdades. Inclusive elas tem tudo haver.
- Ta bom. Mas você está estudando?
Estou no meio de um atendimento quando meu celular toca e um cliente, pura alegria, me avisa que passou na segunda etapa. O resultado havia acabado de sair. Batalha vencida.
Vou rapidinho para a internet pesquisar o resultado do meu filho. Como é mesmo o nome do curso? Vejo na telinha seu nome e me emociono com essa nova conquista. Quero lhe contar a notícia em primeira mão, mas ele está de férias, viajando e saboreando a vida.
Quero lhe dizer, filho, que muito mais que escolado*, sustente seu(s) desejo(s) se transformando num Homem descolado*.

Escolado = esperto, vivo, sabido; experimentado, ensinado.
Descolado= que se despegou ou desuniu; gíria: diz-se de pessoa que se dá bem no que faz.


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

MENINA-MOÇA

(Para minha Preta)


Saio do consultório atrasada para buscar minha filha no colégio. O trânsito não coopera e o tempo do relógio, implacável, não para.
Os quinze minutos de atraso geram, com tom impaciente, a mesma pergunta: - o que aconteceu mãeee? Nos segundos seguintes para a resposta, penso em todas as mães que trabalham fora para realizar seus próprios desejos depois, é claro, daqueles que concretizam para suas filhas.
Jornadas duplas, triplas enfrentando filas em ônibus, bancos, shopings, supermercados. Salas de espera de dentistas, médicos, terapeutas. Muito mais que quinze minutos aguardando a aula de inglês, natação, vôlei, tênis, terminar. Na porta da casa do colega onde foi fazer um trabalho, do cinema no shoping com os amigos, nas festinhas com a galera.
Mãetorista de todas as horas e haja horas, nesse relógio que cronológico só tem vinte e quatro horas, mas num outro tempo se estica e desdobra através da mágica materna.
- O que você acha? - é minha resposta. Ela já bem sabia, mas com a inocência “malvada” de toda criança, transforma sua resposta, numa questão quase genuína: - consultório???
Chegamos em casa e com aqueles quinze minutos devorando minha hora de almoço vem um chamado: - maeeeeee, vem cá no banheiro! Rápido!
A imagem de uma pequena mancha com cores borradas, em sua calcinha, faz o meu relógio interno desregular: anda para trás, quando da emoção de saber que estava grávida de uma menina e arruma-la feito uma boneca, com direito a laço colado com sabonete na penugem de sua cabeça. Das paredes da casa pintadas com meus batons; da escuta, tão aguardada, da palavra mãe.
Anda bem para frente, ficou moça e um dia se tornará mãe. Meus olhos se enchem de emoção, minha boca escancara um sorriso e lá do fundo d’alma sai uma única palavra, pintada com as cores do arco-íris: filha!
Filho é um serzinho adorável e todo seu, que um dia, de repente cresce e passa a ser todo dele!
Queria que os ponteiros tivessem parado para poder ficar ali pertinho, da minha menina, agora moça. Mas, eles insistiam em rodar me chamando para o trabalho.
Queria ter ido à drogaria e descoberto, com ela, que agora existem absorventes “teens” , como os band-aids coloridos com bichinhos que outro dia mesmo, colocava em seu joelho ralado de menina sapeca.
Queria ter ligado para a avó, tias, madrinha e contado que ela começava sua jornada de moça, nos dizendo com isso que os ponteiros do relógio da vida não param.
Retornei ao consultório pontualmente para a primeira sessão, mas absolutamente atrasada na minha emoção.
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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

DESABAFO DE UMA BIOS

Hoje vou desabafar! Venho me esforçando para me elevar, um dia, à categoria de uma PEUS. Mas vocês, amigos, familiares, conhecidos, não estão me ajudando nem um pouquinho! Passei a semana passada todinha, instalando internet Banda Larga no consultório para, nos intervalos, atualizar meu blogger. Comprando os "utensílios" necessários para a boa utilização do meu notebook. Contei com a boa vontade de um sobrinho (dizem que é agregado, pois é o marido de uma sobrinha) para a instalação e algumas explicações do sistema wireless e afins. Valeu Tiago! Estou tentanto achar o ponto de interrogação nesse teclado, e não estou gostando nem um pouco desse esconde-esconde (com hífen ou sem pela nova regra do português!leia aqui interrogação). Já li o manual, já enviei um email para o setor de informática e até agora nada! E com todo esse esforço acontecendo, vocês não me dão retorno! Não quero receber as opiniões de vocês por email. Tenho assim, que fazer mágica com o meu tempo. Aqui ,no próprio blogger, no final de cada postagem tem um ícone como se fosse uma cartinha, para vocês deixarem suas opiniões. Vocês são todos BIOS como eu!(interrogação) Não tem problema... Eu os perdoo (caiu o acento) acreditando que vocês ainda o farão!(exclamação mesmo). Tenho coisas bacanas para postar, mas agora tô de birra. Também tenho esse direito.
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Psicologia Hospitalar

Psicologia Hospitalar: O dia-a-dia da atuação profissional, os desafios e os percalços. (Texto publicado no Estado de Minas em 06/06/2008)
Você já se viu ou presenciou alguém que você ama sendo internado em um hospital de forma inesperada? Existem situações na vida que, por mais que sejam primárias ou se repitam, trazem uma nova emoção.O que fazer quando se vive a experiência de estar desorientado, sem saída e em sofrimento?
A inserção do psicólogo nos hospitais gerais não é recente (1954, primeiro registro no Brasil de um psicólogo em uma instituição hospitalar/São Paulo) e remonta a um período anterior a regulamentação da profissão (Lei Federal 4.119/62) no país. Contudo, sua presença estável e significativa no ambiente hospitalar só se deu a partir dos anos 1990. Ao ser internado, o paciente traz consigo sua história. Sofre um processo de total despersonalização: deixa de ter seu próprio nome e passa a ser um número de leito ou o portador de uma determinada patologia. A gravidade do quadro clínico, a incerteza do diagnóstico e a imprevisibilidade da evolução do tratamento vão de encontro à estrutura psíquica de cada paciente e de seus familiares, atualizando peculiarmente, no hospital, a vivência de “extremo desamparo”, que é o destino humano. Assim, aquilo que se passa no corpo, que é uma crise objetiva, pode se transformar em uma crise subjetiva.
Como os sujeitos são constituídos de fala, eles precisam se reposicionar acerca do que lhes ocorreu. A psicologia hospitalar pode então ser definida como o campo do entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento.A Psicologia Hospitalar, assim como a psicoterapia, tem seu instrumental teórico de atuação calcada na área clínica. E, apesar dessa convergência há pontos de divergência que mostram os limites de atuação do psicólogo no contexto hospitalar, mas não seu impedimento. O trabalho do psicólogo no hospital geral tem características peculiares: temos como cliente alguém que não nos buscou (o médico encaminhou), que tem seu corpo exposto, dolorido, costurado e até mesmo mutilado. Atendemos em pé, ao lado do leito, nos corredores, diante dos integrantes da equipe ou de familiares, não tendo nem por perto as características do setting de um consultório. Não há problema! O objetivo principal do atendimento hospitalar é a minimização do sofrimento provocado pela hospitalização. Possibilitar ao paciente e a seus familiares a verbalização de sua angústia, medo e sofrimento. Esse processo deve ser entendido não apenas como uma mera institucionalização hospitalar, mas e principalmente como um conjunto de fatos que decorrem desse processo e suas implicações na vida do paciente e de sua família.
Ao priorizar o eixo clínico, o psicólogo hospitalar aposta na emergência do sujeito, não apenas dando sentido e significado à sua própria experiência, mas participando de forma ativa e dinâmica em seu tratamento. Inicialmente – e até hoje, em muitos casos – os psicólogos não eram contratados pelos hospitais e atendiam apenas depois da indicação médica. Atualmente, o campo já tem muitas áreas definidas por lei, como a presença dos psicólogos em CTIs e nos serviços de hemodiálise. Outro problema enfrentado pelos profissionais é o reduzido número de planos de saúde que cobrem as consultas psicológicas. Desde abril, essa cobertura se tornou obrigatória por lei, mas ainda há ressalvas: são permitidas apenas 12 sessões anuais, por meio de pedido médico. Apesar das dificuldades encontradas, continuamos nosso trabalho por testemunharmos, diariamente, que, embora as palavras não sejam capazes de transformar aquilo o que no psiquismo, é impossível de simbolização, elas podem, contudo, promover uma mudança na posição do sujeito frente aos desígnios de seu desejo. REGINA ROZENBAUM (Especialista em Psicologia Hospitalar)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Tristeza ou Depressão?


Ano passado dei inúmeras palestras sobre esse assunto e não vou me esquecer quando cheguei numa grande empresa e a recepcionista disse: - Oh Doutora, queria tanto ouvir a Sra. falar da Ina! Sem ela, acho que nem estaria aqui.
-Ina? Como assim?
-A fluoxetina, paroxetina, venlafaxina...
Tristeza é uma resposta normal a perdas que sofremos na vida. Só que agora se tornou comum chamá-la de depressão. Algo normal foi transformado em doença. A cultura dos antidepressivos transformou em doença, dificuldades que fazem parte da vida de todos nós.
Ficamos naturalmente tristes pelas perdas do dia-a-dia, como de um relacionamento amoroso, de um emprego, de uma notícia de que seu estado de saúde não é bom. Ou quando há condições estressantes – como a pobreza – ou relações sociais em que se sofrem abusos, como os de poder.
São situações ruins, mas sofrê-las não significa que algo esteja errado. É diferente de depressão que surge sem razão específica. Não precisa acontecer algo terrível para surgir a depressão, que tem características biológicas. Ainda assim, a maior diferença não é o que acontece no cérebro. É o que ocorre dentro do contexto social.
Sempre há a pergunta, depois de quanto tempo a tristeza passa a ser um quadro preocupante? Não existe uma linha divisória definida. Podemos dizer que se uma tristeza dura mais de dois meses, algo pode estar errado. Mas não significa que não tenha solução. O que importa é que estão tratando quem levou um fora do namorado e não consegue se concentrar, dormir, ou comer direito, por ex., da mesma maneira que a alguém com sintomas que persistem por longos períodos.
Não tenho nada contra a utilização da medicação. A evolução da farmacologia é fantástica e nos auxilia , de forma incontestável, no controle e cura de várias doenças psíquicas. É preciso, somente, uma avaliação mais criteriosa.
E enquanto isso a(s) Ina(s) impera(m).
 

Café Requentado? Não Obrigada!

Apesar de estarmos no século XXI, com uma variedade de arranjos afetivos – ficantes, namorados, ajuntamentos, casamentos sob o mesmo teto ou cada um na sua casa - as queixas que ouço na minha clínica, sejam pelos homens ou pelas mulheres, remontam a épocas bem menos modernas.
Mesmo que as prioridades sejam outras – carreira profissional, estabilidade e independência financeiras – encontrar a cara metade, alma gêmea, viver para sempre a paixão do início da relação, é perseguida por ambos os sexos. Atrelado a isso o medo da solidão, inquilino fantasma, sem a princípio, possibilidade de despejo. Essa dificuldade de encontrar alguém e apesar do sofrimento que ambos carregam, faz com que permaneçam numa mesma relação por motivos variados: preguiça de recomeçar, escassez no mercado, medo do novo, falta de garantias ou a famosa frase “vou trocar seis por meia dúzia mesmo!”
Não estou me referindo aqui aos esforços mútuos que devem existir para ajustar-se, disposição para transigir e a experiência de aprender como solucionar conflitos que ajuda aos casais a conviverem e construírem uma relação cheia de amor e funcionando relativamente bem. Mas falo de relacionamentos que já se esgotaram.
No início de toda relação, predomina a paixão, um estado de euforia, caracterizado pelo encantamento, fascinação, aceitação total das diferenças que camuflam a formal REAL de ser do parceiro. Ambos se apaixonam por personagens fantásticos, idealizados onde predomina aquilo que neles é projetado. A proposta é seduzir e agradar. Não é permitido ver, realmente, quem o outro é. Escolhem os pares pelo comportamento aparente.
Com o passar do tempo e o conhecimento maior, começam a surgir os problemas, as discussões e iniciar uma intolerância com relação aos defeitos do outro, tornando-os tão envolvidos em quem está com a razão que se impede o diálogo, o entendimento de significados de cada um, fazendo assim que se refugiem em seus mundos. Vem a separação... Uma briga daqui, um pedido de desculpas dali. Uma discussão feia de cá, uma mágoa de lá.
Os relatos clínicos denunciam que, quando se ama, tanto se teme enfrentar a possibilidade de dar certo – cheia de prisões e tentáculos – como o risco de não dar certo e ficar rompida uma harmonia que poderia ter dado certo. E se poderia, vai doer se não viver.
Reatam e reinicia todo o processo acrescido agora de mágoa e daquele fantasma, agora encarnado chamado solidão.
Reencontros, momentos de prazer, pedidos de desculpas e inicia-se o jogo de ioiô: vai, volta, vai, volta.
Esse vai e vem pode continuar indefinidamente, porque requentar um café é mais rápido e menos trabalhoso. Passar um café novo é começar tudo de novo. É correr risco, é não ter garantias. Então, preferem ir sentindo aquele gosto esquisito na alma de café requentado.
“Viver bem” não é “dar certo”. Dar certo é ser capaz de prosseguir apesar do desacerto. “Viver mal” não é necessariamente “dar errado”. Dar errado é não prosseguir, é não ter a coragem de dizer como finalmente uma paciente disse: -café requentado? Não, obrigado!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Marinheira de primeira viagem.

Marinheira de primeira viagem



Como já havia escrito antes, sou assumidamente uma BIOS! Estou querendo aproveitar minha semiférias (você já viu alguma semigrávida?!?) para aprender a manusear sozinha meu blog. Não tem sido nada fácil!
Inicialmente tive a ajuda do meu filho, mas agora que ele viajou de férias estou sozinha diante desse computador e seguindo aquela instrução simples de "vai fuçando". O problema não é fuçar, mas o desejo de fazer as postagens do jeito que eu gostaria e aquele medo de tudo sumir repentinamente da minha frente. Mas vou em frente.
Estou tão animada, que no Natal resolvi me dar um mimo para me auxiliar: um lap top! Foi minha primeira compra via internet sem ajuda! Sites não confiáveis, reportagens no Fantástico, clonagens de cartão de crédito e outros tantos avisos, foram vencidos pelo meu desejo. Segundo a previsão da loja só iria recebê-lo nesse mês de janeiro. Então, me desliguei.
Sábado, anterior ao Natal, o interfone toca e meu lap cai em meus braços.
Quanta emoção! Parecia uma criança quando Papai Noel deixa o brinquedo que foi pedido na cartinha. Abri, cuidadosamente, toda a embalagem e o adorei até o momento de ter que ler, decifrar e seguir o manual de instruções. Odeio manual de instruções! Eles foram criados pelos homens e é para que eles mesmos leiam e sigam as instruções, instalem e façam funcionar e não nós mulheres. Não conheço uma que goste. Passada essa fase queria ligá-lo e vê-lo funcionar. Mas veio o medo de fazer algo errado e perder a garantia por “abuso, uso incorreto, negligência ou acidente”. Fui lendo as instruções e nada de encontrar o botão, a tecla... Coisa tão básica! Estava com vergonha para pedir esse tipo de ajuda. Depois de todas as teclas apertadas, quase amassadas, liguei para um sobrinho (Gui) que pacientemente pelo telefone: - abre ele, já sabe abrir né? Ta vendo acima do teclado uns quatro botões?
-Não!
-Tiaaa, compridinho, com um risquinho na vertical e uma bolinha?
-Ah, achei!
-Aperta ele e vê se umas luzes verdes acendem lá embaixo?
-Apertei. Acendeu! Apagou... Acendeu de novo! Apagou de novo...
-Calma, aperta e solta...
-Acendeu! Ta abrindo, ta começando a passar um filminho... É lindo!
E vocês acham que termina aí esse semiparto? Falta roteador, mouse, instalar internet no consultório, retirar o PC jurássico de lá e o mais importante, comprar um software para instalar o Office (meu quesito básico, como assim ele não tem?!? Como vou escrever?!?).
Filho não nasce totalmente como imaginamos, que dirá esses mimos!

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Conservada II

A saga continua... Saí da academia, mais um dia, feliz por ter conseguido malhar e crente que minha luta contra o vinagre estava dando certo. Persistência, determinação, disciplina, resistência, confiança, assertividade, desaparecimento mágico do pecado da gula, chá verde, pequenas porções a cada três horas e alimentação balanceada para não dizer spa-radrapo na boca são meus dez mandamentos!
Não é nada fácil cumpri-los. Com a chegada do final do ano e todas as festas de confraternização que temos que ir convenhamos, o confessionário funciona a todo vapor. E bota vapor nisso! No dia seguinte perdemos a hora da caminhada, hidro, ginástica e pecamos contra a disciplina. Se vamos, mal conseguimos terminar uma série para o “tchaucéps” e ficamos a nos perguntar como ontem fazíamos o “alterocopismo” com tanta facilidade? Lá se foram a determinação, persistência, resistência de uma só vez.
Mas hoje fui e culpa à parte me consolei pensando que ainda teria o restante do dia para praticar os outros mandamentos. Passei rapidamente no super mercado para a compra do leite das crianças e ao abrir a porta do elevador, empurrando o carrinho como se estivesse numa maratona escuto: - eu não sou rei, mas com uma coroa dessas, conquistava todos os reinados -!
Freei o carrinho como se tivesse freado meu carro para evitar uma colisão no trânsito. Virei para trás para ver o pretenso rei, e o meu olhar misto de quanta criatividade com ira, o fez completar: - com todo respeito minha senhora-! Já havia pecado muito por um só dia e não poderia acrescentar na minha lista o não matarás.
Entre uma risada e outra fui embora pensando nas minhas amigas. Aquelas acima dos quarenta que batalham em seguir os novos mandamentos e, entre um pecado e outro, estão conservadas e ajudando um simples plebeu a sonhar com reinados.

Regina Rozenbaum

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quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

BIOS

Hoje as crianças nascem com chip. Antes mesmo de aprenderem a falar, monitoram com desenvoltura os controles-remoto disponíveis em casa. Brincam sem a menor dificuldade com os joguinhos do celular da mamãe e brigam pelo seu espaço no computador.
Não vou dizer como era bom brincar na rua, com os vizinhos/amigos, de pique-esconde, de cabra cega, carrinho de rolimã, roda, pára bola, seu mestre mandou, estátua, pêra, uva ou maçã e tantas outras.
Não vou dizer que resisti, muito, a essa invenção de nome computador, que computa a minha incompetência, mas que é, sem dúvida, a vigésima maravilha moderna.
Vou dizer que assumidamente sou uma “BIOS”. Fui batizada assim pelos azes da computação. No começo acreditei se tratar de vida e orgulhosa até fiquei! Mas, como diz o ditado, tudo que é bom dura pouco, veio a tradução da sigla: Bichinho Ignorante Operando Sistema!
Realmente comecei minhas aulas de computação por obrigação. Prá não ficar prá trás... porque facilitaria minha vida profissional... por encontrar tudo apenas com um enter... prá comprar, vender, alugar sem sair de casa, prá falar com alguém do outro lado do mundo, prá encontrar e ser encontrada, prá estar por dentro! Nunca vou esquecer do treino com o mouse e o professor dizendo: “você consegue, fique calma, tem nome de rato, mas não morde!" Quase marquei umas consultas com uma amiga psicomotricista, pois achava que nunca iria dominar aquela setinha. Clicava e abria algo que não queria. De vez em quando, para meu pavor, ela desaparecia do monitor e era o pique-esconde mais sem graça que já brinquei. E quando o que estava escrevendo sumia misteriosamente? “Você se esqueceu de salvar”, dizia o professor. Ah... Tenho que salvar!!! Ninguém pediu socorro, ora essa! E os alertas que, subitamente, apareciam na tela, me fizeram acreditar que a polícia estava vindo atrás de mim: “você executou uma operação ilegal”! Eu ilegal?!?! Tinha que escrever, passo a passo, tudo que o P.E.U.S explicava e lá  iam hora$ e hora$ de aula$ de informática. E para lustrar minha auto-estima, quando não estava conseguindo executar algo, chamava meu filho e vinha o “pirra” (na época com uns sete anos), sem capa de super-homem me salvar,  num misto de satisfação e decepção com a mãe, estampados em seu rostinho.
Não vou dizer que minha praia é o Word e as aulas de excel, power point e outros programas, simplesmente ficaram nas anotações do caderno.
Por pura necessidade e saudade, quando o não mais “pirra” foi fazer um intercâmbio do outro lado do mundo, aprendi a ter e-mail e manuseá-lo. Com isso, fiquei conectada com amigos, mas sempre digo a todos: computador não é meu objeto de trabalho, não o ligo, às vezes, por vários dias. Por isso, não me convidem por e-mail, não se queixem, não se declarem, porque não abro mão da minha leitura, de um happy hour, de um cinema, de um cara a cara e outras tantas coisas, por computador nenhum! Outro dia recebi, por e-mail, uma edição eletrônica de um livro. Foi prá lixeira.
Sou uma BIOS, sim, e não me envergonho. E a vocês, agora por mim batizados de P.E.U.S = Primata Evoluído Usando o Sistema, que acreditam ser descendentes diretos de Zeus (vide pequena informação a respeito), só posso dizer muito obrigada por toda a ajuda que venho recebendo, para quem sabe um dia me tornar uma P.E.U.S!
Regina Rozenbaum
Zeus é o principal deus da mitologia grega. Era considerado, na Grécia Antiga, como o deus dos deuses. O nome Zeus em grego antigo significava “rei divino”.
Poderes e Atributos: Era representado nas pinturas e esculturas num trono ou em pé, ao lado de um raio, carvalho, touro ou águia. Estas representações simbolizavam qualidades e poderes (rapidez, força, energia, comando) atribuídos ao deus.


"Conservada"

Recebi umas amigas em minha casa para um lanche e entre assuntos ora sérios, ora divertidos, iniciou-se uma troca de confidências semelhantes e com uma mesma pergunta: está assim com você também?
Todas na faixa dos quarenta reclamavam da transformação corporal que, observavam diariamente, independente dos cuidados particulares que tomavam, persistia. O acúmulo de gordura na região do estômago, abdômen e quadris foi a campeã! A dificuldade de disfarçar ou mesmo esconder as que se depositavam nas costas não havia soutien no mercado que desse conta.
Apesar das risadas, de um certo alívio de que não é só comigo, havia uma tristeza no tom de todas. Tinha uma consulta marcada com meu ginecologista no dia seguinte. Entrei no consultório resoluta e antes mesmo dele terminar a pergunta “como vão as coisas?”, em pé, levantei minha blusa e comecei a responder, mostrando-lhe aquelas massas disformes que, repentinamente, passaram a fazer parte de mim. Não me interessavam os pedidos de exame, a pressão e nem mesmo a coleta preventiva. Só sabia dizer: “Dá um jeito nisso, essa coisa não me pertence!”
Com a calma que sempre me encantou e a confiança de mais de 20 anos juntos, respondeu: “Observe suas amigas acima dos quarenta, a maioria é assim, os hormônios...” Ah! Eu estava ali sendo porta voz delas também, mas não queria ouvir explicações fisiológicas, nem mesmo consolo de que eu não era a única. Uma solução, só uma me bastaria.
Já na academia, enquanto suava a camisa com o som “bate estaca” da moçada de 20, tentando transformar meu atual “panceps” em um simples abdômen ou o “tchauceps” em tríceps, a música que tocava em minha cabeça e no meu corpo era “I’ll survive!”
Mais tarde, quando estou atendendo um cliente em sua primeira sessão e digo-lhe dos meus 25 anos de clínica, fui obrigada a ouvir: “Puxa, mas a senhora é muito conservada!” Naquele instante, o que deveria ser sentido como um elogio, veio como uma sentença de morte: a imagem de um repolho na minha barriga, abobrinhas saltitantes das laterais do quadril, tomates cereja disputando lugar nas costas com o soutien, batata inglesa na parte interna da coxa e berinjelas murchas dependuradas nos braços.
Não. Conservada, não! Isso não é um elogio a se dar a uma mulher na faixa dos quarenta que, como tantas outras, se cuida, preserva sua saúde, está em dia com os exames e tenta conviver com a dura realidade dos hormônios. Abaixo o vinagre!
Já no encontro seguinte com as amigas, a solução bem simples: “We’ll survive”.

Regina Rozenbaum
Psicóloga/Psicanalista
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Sobre casamento

Outro dia fui a uma loja comprar um presente de casamento. Dei o nome dos noivos e a data à vendedora, para que me fornecesse a lista, e fiquei aguardando. A demora me intrigou e fez com que eu descobrisse que na mesma data haveria outros quarenta casamentos! São, só nessa loja, oitenta pessoas absolutamente diferentes concretizando o sonho de “serem felizes para todo o sempre”.
Fiquei pensando nos inúmeros casais que venho atendendo em minha clínica. Jovens que, há poucos anos atrás, estavam atribulados, estressados, mas também empolgados e excitados com todos os detalhes e decisões para o grande dia. Agora, estão no meu consultório porque não sabem mais o que querem em um parceiro. Nem sabem quem eles são e, sendo assim, como podiam saber naquela época com quem estavam casando?
Quando as pessoas se unem, é com a vivência/convivência muito mais estreita que passam a conhecer o outro, que as tensões crescem e aparecem. São duas pessoas, vindas de ambientes diversos, com personalidades diferentes, características próprias de expressar o que sentem e pensam que absorveram ao longo da vida com suas famílias originárias e de outros relacionamentos.
Com a chegada da rotina no casamento, torna-se possível conhecer a pessoa como ela é de verdade. Há a decepção da descoberta de que o outro não é como você imaginou, nem segue os mesmos princípios e nem tem os mesmos valores. Então, começam a surgir os problemas e inicia-se uma intolerância com relação aos defeitos do outro e fica mais fácil se separar, chutar o pau da barraca, juntar as trouxas e ir embora... Principalmente nesta contemporaneidade que impõe e valoriza, a todo instante e de várias maneiras, o fugaz, o descartável, a velocidade, a quantificação, a competitividade e o ter.
Uma coisa venho aprendendo sobre casamento. É como se submetessem a um teste. Descobrem quem são, quem a outra pessoa é e como se entrosam ou não, a cada dia e diante do varejo das situações que se apresentam. É fácil compreender isso, principalmente em fases de dificuldades. Já me perguntei se existe algum processo para saber se um casamento vai dar certo. As coisas não são tão simples assim. Quem dera! Aliás, seria este o presente que compraria para os noivos: um “Certificado de Garantia Para Todo o Sempre”. Como não há local para se comprar, existem algumas “normas” aplicáveis a amor e casamento que percebo que realmente funcionam:
Se não respeitarem a outra pessoa, vão ter problemas;
Se não souberem ceder aqui e ali, vão ter problemas;
Se não conseguirem falar abertamente sobre o que está acontecendo, vão ter problemas;
Se não tiverem um conjunto de valores em comum com a outra pessoa, vão ter muitos problemas. Os valores não precisam ser iguais, porém, semelhantes.
E sabe qual é o mais importante desses valores? Acreditar na importância do seu casamento! Todos os dias, meses e anos.
A vendedora finalmente retorna com a lista dos meus noivos e saio pela loja em busca dos objetos escolhidos por eles.
Regina Rozenbaum
Psicóloga/Psicanalista

O começo de tudo

Quando era criança, e isso já faz tempo, um dos meus locais prediletos era a Biblioteca Pública da Praça da Liberdade. Morava muito próximo, o que facilitava minhas idas e vindas. Os livros foram meus grandes companheiros de viagens, sonhos, imaginação. A bibliotecária já me conhecia e minha carteirinha precisava sempre ser refeita. Às vezes pegava uma estante como se fosse minha propriedade e só largava quando terminava a leitura dos livros que nela ficavam.
Foi assim, por conta própria e sem as opções atuais de diversão, que me apaixonei pela leitura. Paixão antiga que virou amor. Sei que por causa dele sempre fui boa aluna de português e redação. Soltava a imaginação e escrevendo corretamente tirava quase sempre total nessas provas. O mesmo não acontecia com a Matemática.
Passados muitos anos, mantive a escrita, e sempre falaram que eu escrevia bem, que meus textos tocavam a alma das pessoas, que faziam rir e chorar, que meu talento estava desperdiçado. Respondia que só sabia escrever quando tinha algo para dizer, uma história para contar que brotava de dentro do meu coração. Quem me dera conseguir colocar em palavras para todo mundo ler!
Mas, agora, criei coragem e, com a cara de jacarandá que adquiri ao longo desses anos, resolvi colocar tudo que já saiu, vem saindo e sairá para todos lerem. Não tenho nenhuma pretensão de me tornar escritora, mas quero compartilhar com vocês experiências do cotidiano e aquelas que são fruto do meu trabalho clínico num consultório de psicanálise e num hospital geral.
Coisas simples que todos vivemos, pensamos, sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Em algumas, você pensará: essa é para mim, Regina escreveu por mim. Pode ter certeza que em cada uma delas tem algo de você e de todas, que ainda nem conheço. Em outra você não se reconhecerá, mas saberá de alguém que precisará dela.
Só pretendo, agora, ter cada vez mais histórias para contar!
Beijusss no coração
Regina Rozenbaum
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To fora

Um tempo atrás estava me deliciando com a companhia de uma amiga, quando em função da pergunta feita, ela respondeu: eu? Anota aí www.tôfora.com.br! Adorei e adotei para mim. Era a união, bem humorada, entre os tempos modernos e a sabedoria de vida que adquirimos com a maturidade.
Não sei se vocês se lembram, mas nas brincadeiras de infância (da minha época) alguém fazia o convite, levantava uma das mãos com a palma virada para baixo e todos colocavam, rapidamente, um dedo nela dizendo: dentro, dentro. Ninguém queria ficar de fora e naquele bololô, de gritos excitados, nem se sentir excluído. Como as brincadeiras, as roupas da moda, cadernos ou qualquer outra coisa, que mesmo não gostando tínhamos que possuir para nos sentirmos dentro, incluídos. A gente sabe que tem fases que isso é importante. Nos tempos de adolescência ficávamos indóceis se não arrumávamos um programa de fim de semana. Ficar em casa, no sábado à noite era sinônimo de ser esquecida pelo mundo.Todos iguais, que nem leite pasteurizado. Momento de grupo, de falar a mesma língua. E se não se encaixar a regra é impiedosa: está fora, vai procurar sua turma!
Com o tempo, aprendemos a cultuar nossos espaços externos e internos. É maravilhoso olhar para seu apartamento, mesmo que ele não seja próprio, e sentir que ele é uma extensão de você. Que à sua volta estão as suas escolhas, as coisas que você ama, um pouco da sua alma. Que você não só pode, como deseja ficar em casa num sábado à noite, absolutamente incluída, com seu livro, filme, fotos, música, vinho.
Não precisamos mais que o outro nos diga que somos o melhor. Não precisamos mais de aplausos, nem nos sentirmos tão amados e muito menos buscar essa segurança que vem de fora. A cada dia ficamos mais assim tôdentro. Aprendemos o pulo-do-gato.
Este blog recebeu assim esse nome para sublinhar as nossas escolhas, o nosso desejo, a nossa singularidade e capacidade de dizermos a qualquer um, em qualquer idade, "tô fora ou tô dentro". A escolha é sempre nossa!