Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Vem que vem 2017!



Preparo um canto para mim e, nele, as coisas não vão além da conta. 
Só quero alguns enfeites, como velas diferentes, que sugerem noites coloridas; quero cortinas esvoaçantes, só para ver o vento dançar no sopro das manhãs. Nas paredes, quero fotos das pessoas que eu gosto, porque afeto é bom de mostrar. No meu canto, quero um caderno para os registros comovidos e poéticos do viver, quero um tapete, flores, almofada para meditar, livros de poesia para me inspirar, quero o que me move e o que me comove, porque o meu canto vai além do espaço físico. O canto que eu preparo é, sobretudo, uma extensão do meu coração! Que nesse novo ano tenhamos um canto, recanto, recheado das pequenas preciosidades que nos movem. Sejamos gratos e abençoados. FELIZ 2017!


domingo, 18 de dezembro de 2016

Antes que o ano acabe

Um ano passa rápido. Uma gripe também passa.
O fim de semana passa rápido e a segunda-feira parece que se arrasta.
Mas não, segundas-feiras passam bem rápido. Quando você vê, já é terça.
E a terça-feira vai passar em 24 horas, o que é muito rápido, porque um terço desse tempo, você vai passar dormindo.
Aliás, é assim que o sono passa e a noite acaba.
É rápido, como os ponteiros dos segundos. Só é lento quando a gente prende a respiração num mergulho.
Adulto passa rápido, criança é tempo lento. Bebês engatinham e, se querem colo, o percurso fica longo. Bebês pesam, depois crescem e passam. E toda mãe acha que foi rápido.
Gastar é rápido. Pagar é lento. É como penitência, como cólica ou dor de dente, lento como a noite de insônia e o arrependimento. O consolo é lembrar que passa.  A Terra gira rápido. O tempo também é rápido e deixa um rastro. Outras histórias. Que podem ser rápidas, como contos, ou longas epopeias. É preciso passar as páginas para entender a versão do tempo.
Cada ano que passa correndo é uma história que se escreve lentamente.
Galinha chocando, árvore crescendo, goiaba amadurecendo, rio manso,
boi no pasto, tudo parece parado, enquanto, na verdade, passa acelerado.
Ter saudade parece que não passa. Aí, basta o tempo de um abraço.
Há tanto se passando agora mesmo: a chuva lá fora, a água na torneira,
o sol se pondo, o ônibus cheio, a moça na sala, o menino no quintal, um pássaro, a nuvem lá no alto... Da janela, vejo a vida passando.
E lá se vai mais um dia, mais um mês, o ano todo.
Curtir é desacelerar. É o que eu desejo para você no ano que está chegando. 
Ser feliz é no plural, porque ser feliz é soma de tudo o que é grande e, sobretudo, do que é pequeno. 
Pequenas coisas do dia a dia, como uma disposição inédita para a caminhada, que soma ao sol na medida exata, que se soma à alegria de uma encontro inesperado, que se soma a voltar mais leve, que se soma a um banho longo e perfumado, que se soma a uma roupa confortável, que se soma a um gostoso café da manhã, que se soma a um bom trabalho. 
Eu vivo tanto isso que, ao final de mais um ano, tudo o que eu peço é mais disposição para a caminhada. E agradeço por essa felicidade!

sábado, 26 de novembro de 2016

ANINHADA EM AMOROSIDADE

Esse é um mês que a saudade aperta mais...E não é que arrumando minhas gavetas, reencontro esse presente dado pelo meu, nosso,amado Bruxo/Rodolfo Barcelos?! Estava tão recente a perda...latejava em dor, tão minha, apropriada de cada pedacinho do meu ser. Um poeta ouviu, acolheu e converteu nessa belezura amorosa. De onde você está Rodolfo se fez PRESENTE e sou-lhe, mais uma vez, gratidão!!! Saudades, diárias, de você mãe...

"A amizade e a solidariedade entre certas pessoas é mágica. Produz milagres. E aqui está um 777 para nossa querida Rê - por sugestão da Denise. Beijos às duas."


Hoje não teremos aula,
Minha Leoa querida.
Entro hoje em tua jaula
Sabendo que estás ferida;
E tua dor me corrói
Pois sei bem como te dói 
Essa ausência tão sentida.

A quantos extraviados
Tu mostrastes o caminho?
E quantos desesperados
Sentiram o teu carinho?
Se hoje estás perdida
Segue minha voz, querida,
Vem em busca do teu ninho.

Deixei cadeira e chicote
Num canto do picadeiro;
E inda que te sofra o bote
Veloz, mortal e certeiro,
Te abraçarei com carinho,
Te falarei de mansinho,
Serei o teu enfermeiro.

Deita a cabeça em meu ombro,
Sente o afago de quem te ama
Com afeto e desassombro.
Ouve a voz de quem te chama;
Eu venho trazer-te a calma,
Eu venho beijar-te a alma,
Eu venho avivar-te a flama.

Sossega, Leoa inquieta,
Pra ti não há domador.
Eu sou tão só um poeta
Que te faz versos de amor;
Pois tu sabes que te amo,
E hoje sobre ti derramo
As preces de um sonhador. 

Vem, querida, adormece
Sem sobressalto ou cuidado,
E no teu repouso esquece
Este doer arraigado.
Vem, aninha-te em meus braços,
Depõe aqui teus cansaços,
E dorme em paz a meu lado.

Quando enfim adormeceres,
Enquanto não acordares
Cantarei os teus quereres,
Quererei os teus cantares.
E tua dor terá sido
Não mais que um sonho esquecido
Que se esvaiu pelos ares. (Rodolfo Barcelos)

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

ANJOS POR AQUI?



Gosto de presentear. Principalmente quando vejo algo que me faz lembrar alguém e acho que é “a cara” da pessoa. Meus amigos dizem que sou fácil de presentear também, porque gosto de tudo. É verdade. Mais ainda quando é fora de datas especiais. Assim sem hora e que nos pega de surpresa quebrando a frieza da rotina.
Ele chegou, caprichosamente, embalado para presente e me foi entregue por mãos amorosas. Como sempre acontece quando recebo um presente fora das datas especiais, fiquei sem palavras, calada no meu encantamento. Era um anjo! E ela – a auxiliar de serviços gerais da empresa – me disse:
–A senhora é um anjo, Dra. Regina, que entrou em minha vida! Então comprei um para protegê-la.
Eu, anjo? Tem tantos escritos sobre isso. Que ninguém entra em nossas vidas por acaso. Se não for bênção é lição... Enfim, parei de pensar e acolhi emocionada a fala.  
 Aquele não era o anjo que eu tinha no meu imaginário. Se fosse para ter um, queria ele todo branco. Simples assim. Não digo que ele se destinava a ser apenas um enfeite, porque tenho cá a minha fé, mas digo que ficaria ótimo num certo canto da casa. Ainda bem que não recebi o anjo imaginado. O imprevisto tem mais beleza.
O anjo que ganhei conquistou o meu coração e outro canto. Agora fica aqui, ao meu lado, observando o meu trabalho. Suas vestes são brancas com detalhes dourados, um luxo limpo e iluminado. Numa mão, traz um bouquet de lírios e quase posso sentir o perfume exalando-se. Adoro lírios brancos. Na outra mão, o anjo carrega um papel que, para mim, é prenúncio de boas novas. As asas são puro acolhimento. Só de olhar, fico em paz. O rosto que é sério, para mim tem um quê de responsabilidade acrescido de suavidade.
Sim, eu viajei na imagem. E fui mais longe: procurei saber mais ainda sobre o Arcanjo Gabriel.
Li que ele é o portador das grandes mensagens divinas aos homens. Fiquei me perguntando que sinal seria esse, porque, afinal de contas, acredito nos sinais que vem de lá.
E se quase me constranjo por refletir tanto sobre o que, para muitos, seria apenas um objeto, acabo por concluir que o que vejo ali é o reflexo do que carrego. Projeto na resina endurecida a suavidade da minha alma. Se eu invento que ele me trará boas notícias, é porque, no fundo do meu coração, espero por elas e acredito que virão.
O que me resta dizer? Apenas que o presente inspirou os meus melhores pensamentos. Isso é muito. Isso é bom. E basta. Sou pela grata surpresa! 
Se sou ou não anjo, isso já é uma outra história.

domingo, 21 de agosto de 2016

DO MEU NATAL



Sou não. Melhor dizendo, não sou. Descubro nas evidências dos dias que os meus opostos, as minhas faltas, carências, dificuldades e os meus avessos me definem tão bem quanto minhas afirmações, realizações, escolhas, aptidões e talento.
Para todo não, existe um sim e eu vou completando a figura retorcida pelos caminhos da vida, como a figura de yin e yang. Lado negro, cabeça para baixo, regresso e retrocesso. Desse modo, não sou yin. Não sou e não gosto. Mas aprendo que dar e receber, ouvir e falar, calar e dar o grito, acertar e errar, ser feliz e sofrer fazem parte do movimento.
Já tive receio da roda da fortuna, quando se torna descendente e me remete para longe dos altos a que aspiro. Depois, descobri que lançar fora o que não me cabe apenas me deixa mais próxima de quem eu quero ser. Digo não agora: não sou santa nem beata, não sou dura nem madura, não sou dona nem quero, não sou rica nem renúncia, não sou alegre que nem gargalhada, não sou triste nem cinza, não sou sexta nem de segunda, não sou ida nem volta, não sou distância percorrida, não sou dia nem noite, não sou madrugada, não sou bicho do mato nem cidade, não sou daqui nem de lá, não sou ocidente nem me oriente...
Não quero e não me defino. 
Encho a página de palavras e me esvazio. 
Quanto menos eu sou, mais o mundo me é. No paradoxo do copo meio cheio, meio vazio, sou mais de mim nos nãos, senãos e nas promessas de algum sim, até que a morte nos separe. Viva la vida!

sábado, 6 de agosto de 2016

DAS OLIMPÍADAS E DAS EMOÇÕES



Foi em frente a uma tela plana que meu orgulho, em ser brasileira, despertou. Já faz algum tempo que fazer parte das manchetes diárias, principalmente internacionais, foi anestesiando esse sentimento que jamais deveria adormecer.
Foi em frente a uma tela plana assistindo à abertura dos jogos olímpicos Rio/2016 que o “sou brasileira, com muito orgulho, com muita raça...” se agigantou e fez rolar umas tantas acanhadas lágrimas.
Também foi em frente às telas, celular, computador e TV, que leio comentários, trechos de reportagens, maledicências, desaforos e, felizmente, também leio frases sábias, pedidos de calma, votos de amor e paz. É uma lástima que estas últimas sejam tão poucas. Há muita estupidez no ar, muito ego inflado, há falta de vontade de se colocar no lugar do outro, há egoísmo e, pior que tudo, há ódio declarado ou muito bem disfarçado.
Meu coração andava oprimido neste mundo virtual que sabe ser tão cruel. Internautas se imbuem de uma tal coragem, que se permitem digitar posts deselegantes num impulso, sem refletir. Eu também já digitei frases cheias de razão, conhecimento e fúria. A diferença entre mim e alguns sábios virtuais é que, passada a raiva, engolido o orgulho e respirando fundo, tão fundo que toco minha consciência e o meu coração, fica impossível clicar em: publicar. Sempre deleto. Fica apenas o exercício de desabafo e, depois, não fica nada. Pensando bem, sim, fica alguma coisa e é o que me comove, fica a tristeza.
O que posso fazer? Sou romântica, ingênua e o meu bom senso se cala para a leveza da alma. Não responder não é minha covardia, é apenas o meu jeito de mostrar que o silêncio é mais sábio e valioso. Mas, a tal ponto as notícias e comentários me tocam que vou dormir me perguntando: será que essa pessoa que provoca, julga, condena e pune tão duramente vai dormir feliz? Será que, na calada da noite, congratula-se por ter razão e provas? Será que acorda com o coração leve e a alma lavada? Eu não.
Sinto-me parte de algo maior, como se todos nós fôssemos um único organismo, pulsando, existindo. Sinto isso quando medito e ouço pulsar o coração do mundo. É nele que me acolho. Por isso, acredito que tudo precisa funcionar para que o mundo fique bem. Não consigo ficar satisfeita se milhões de pessoas vivem em privação, sem paz, sem chão, sem dignidade, sem necessidades básicas atendidas. Por toda parte, vejo pessoas que carecem de um olhar, de um movimento, de uma mão e fico triste.
Apesar de tudo isso, foi diante de uma tela plana e da beleza da abertura das olimpíadas 2016, na nossa cidade maravilhosa, no nosso país, que minha fé - e a cor verde- iluminaram minha sala!
Que a torcida do meu Galo me permita e que os marqueteiros do Obama também: #eu acredito# e #sim, nós podemos#. Vaiiii Brasil! Que voltemos a brilhar como uma chama que jamais se apaga!
(Imagem:Guilherme Bcheche) 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

OS INCOMODADOS QUE SE RETIREM




Sempre fui uma pessoa alegre. A descoberta de uma fotografia- tirada pelo meu primeiro chefe- e a dedicatória nela contida, reafirma esse meu estado de ser. Nunca precisei lançar mão de álcool para me soltar e ficar “alegrinha”. Aliás, só aprendi a beber, socialmente, bem mais velha. Geralmente as pessoas, que convivem conosco, acham estranho você estar - às sete da manhã - de bom humor e alegre. Há que se ter um motivo! De graça não pode. A imaginação corre solta... Vai desde uma noitada de sexo selvagem, aumento de salário, promoção, até ter ganhado na loteria. Perguntas do que você anda tomando também acontecem. E eu respondo: “tóchico” na veia. Pois vou dizer: não mudarei meu jeito de ser. Falo alto, sorrio solto, enrubesço diante a maravilha do amanhecer e me escandalizo com a descoberta do nascimento de uma florzinha miúda no meu vasinho predileto. Fico alegre assim... Com o simples despertar para mais um dia. Claro que tenho chateações, instantes de raiva, indignação, revolta, problemas, como qualquer mortal. Mas há seis anos, depois de descobrir uma doença mamária e lutar pela minha saúde e vida, refiz e renovei meu contrato com ela. A partir daí revi meus valores e decidi que, sendo merecedora de estar nesse plano, não desperdiçaria a alegria de estar viva por nada nem ninguém! E assim tem sido e assim será. Alegria não contagia?! Pura balela. Já a tristeza é vírus de imensurável solidariedade. Alegria incomoda, incomoda, incomoda muita gente! É mesmo um “tóchico”.  Com tantos disponíveis decido por ela! O máximo que pode acontecer é ter que conviver com seus efeitos colaterais.
Então, se você se incomoda, é difícil, não é tranqüilo nem favorável em conviver com a alegria alheia, retire-se... Simples assim!