Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sábado, 26 de julho de 2014

CHÁ DE LENÇOS



“É mais importante conhecer a pessoa que tem a doença que conhecer a doença que a pessoa tem.” Hipócrates – 460 anos antes de Cristo.
Já tinha ido a vários tipos de chás: bebê, panelas, lingerie, casa nova, e até mesmo de divórcio. Esse foi o primeiro e vou contar: fantástico!
Quase duas décadas de atendimento em um hospital geral me possibilitou não só uma especialização em Psicologia Hospitalar, mas a certeza – na prática - que qualquer adoecimento é muito mais que sinais, sintomas e diagnóstico. Além disso, que a maneira como o sujeito lida com sua doença faz tooooda a diferença no processo de cura.
Patrícia, Pat amaaada, foi minha colega de colégio. Não por muitos anos, mas por tempo suficiente para que a amizade, carinho e amor vencessem a distância e décadas sem contato. Nosso reencontro aconteceu há alguns anos e a afinidade se fez como se não tivéssemos ficado separadas.
No início de 2014 ela recebeu o diagnóstico de câncer no útero. Desde o primeiro momento se fez guerreira com um sorriso escancarado – marca registrada – de quem “já está curada!”. Com sua maneira especial de ser fez-se uma corrente de amigas. Afinal, colhemos o que plantamos! Mesmo enfrentando os efeitos da quimio e das mudanças corporais arruma tempo para se ocupar de outras pacientes oncológicas que não tem essa mesma corrente de amorosidade. Assim, fez esse chá de lenços com o objetivo de doá-los às mulheres que enfrentam a doença no Hospital Mário Pena. Mais de 40 amigas atenderam seu chamado e se reuniram no CCBB nessa última quinta-feira. Todas de lenços na cabeça! Pude perceber como a “união faz a força”. Força para Patrícia e para todas que enfrentam esse caranguejo. Sem dúvida há leveza no amor!!! Patrícia, Pat amaaada, que seu gesto ecoe para além das cabeças, trazendo a beleza que habita as almas femininas. Você é YESSSSS!!!
"Porque uma mulher doente, só está doente".
O link acima é o slogan de uma loja francesa que descobri com minha amiga Ieda. Vale a pena conhecer meninas.


terça-feira, 15 de julho de 2014

CHEIRO DA RIQUEZA



Já contei que de todos os meus sentidos o olfato é o mais apurado. Gostava que
fosse o tal sexto para assim me livrar de certas armadilhas. Tem amigo que afirma que é. E cliente também. Mas eu considero mesmo é o olfato. Adoro aromas. Aspiro e viajo no tempo. Vem de muito longe as lembranças que cheiros me despertam. Revivo sensações e sentimentos bons: casa de vó, mãe, maresia, romance, bebê, roupa lavada, casa limpa... Mais do que isso, todo o meu ser responde com prazer. Às vezes, o coração acelera e a pulsação aumenta, é quando aflora a emoção da descoberta amorosa. Cheiros tem essa propriedade, acessam canais diversos, são portas que se abrem para uma percepção mais sutil, mudam o astral, carregam uma energia de transformação. Li em algum lugar que o aroma aspirado atinge a parte anterior do cérebro, responsável pelo ajuizamento das coisas e pelo comportamento emocional. Atinge também o lobo temporal, receptor emotivo, e o hipocampo, gerenciador da memória de ocorrências, mas que possui também um importante papel no controle dos estados afetivos. Dá para perceber que o cheiro atinge o centro das emoções e é ali que resgata história e estimula novas buscas. É por isso que não dispenso um cheirinho. Velas perfumadas, réchaud, essências, pout pourris, incensos, aromatizador de ambientes, vale tudo.
Acredito mesmo que a aromaterapia funciona. Eu só não sei por que nunca me lembro de aspirar umas gotas de lavanda quando estou com os nervos à flor da pele e acabo sendo grossa com os incautos que atravessam meu caminho, como a moça do telemarketing. Seria mais simpático aspirar uma essência e não levar a vida tão a sério.
Agora relembro cenas de novelas em que a protagonista rica e chiliquenta desmaia e alguém vem com um vidro de sais. Acho que nós, simples mortais, merecemos este luxo. Acredito nessa espécie de luxo e riqueza que é feita de serenidade, bons sentimentos e paz.
Por falar em riqueza, quem nunca entrou numa loja perfumada e se sentiu imediatamente à vontade? Entrar numa loja chique, dessas que investem numa essência especial, deixa a gente se sentindo rica, feliz e muito propícia a gastar mais do que devia. Às vezes vale a pena. Enquanto isso não acontece (gastar mais do que devia) após um dia de lerê pego o aromatizador, cheiro da riqueza, e borrifo pela casa. Ah e vou contar: tem riqueza maior que nosso cantinho?!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Que rêiva SÔ!



A palavra é o mesmo que raiva. Muito usada no interior e pela população rural. Pode parecer bobagem, mas acho que exprime muito melhor o que raiva significa. Segundo dia do mês de julho. Tão início, tantas emoções para serem sentidas e acordo com essa?! Já faz tempo que recebi um e-mail que dizia o seguinte:
– Se alguém chega até você com um presente 
e você não o aceita, 
a quem pertence o presente? – Perguntou o Samurai.
– A quem tentou entregá-lo – respondeu o discípulo.
– O mesmo vale para a inveja, a raiva 
e os insultos – disse o mestre. 
Quando não são aceitos,
continuam pertencendo a quem os carrega...

As palavras caíram como um temporal em solo sertanejo carente de água há meses. As boas intenções vieram-me como uma enxurrada. Só me pergunto se algum dia eu aprendo que chuva forte não irriga nada, apenas arrasta e arrasa. Para mudar, é preciso que as palavras caiam como chuva leve. Mas eu me esqueço disso. Quando percebo, estou bebendo lições em grandes goles, com a avidez de quem quer fazer a vida dar certo. E eu quero mais: quero fazer bonito.
Mas fiz feio. Saindo de casa, percebi uma raiva encolhida num canto e quis saber: “Por que estou me sentindo assim?” Vieram-me possíveis explicações: estresse, cansaço das tarefas domésticas, assunto mal resolvido... Não era nada disso. Então, conclui que o sentimento era apenas uma sombra imitando fantasma.
Estava enganada. Após uma pergunta, respondi com um berro, depois outro, outro... Não conseguia me controlar e pensei: “Meu Deus, o que está acontecendo comigo?” Eu queria retroagir, queria transformar o imperfeito em mais que perfeito, queria apagar o "eu errava" e escrever "eu errara". Esforço inútil. Então, aquele que andava comigo, percebendo que o presente não era seu, calou-se e me devolveu a raiva. Tive que carregá-la.
Segui pesada e muda de raiva. De repente, num insight, percebi que ficar calada era a melhor arma. Após uma hora, o silêncio fez sua obra. Descobri que a vontade de ser perfeita era a causa. Faz algum sentido? Para mim fez. Eu quis ser a filha perfeita, a profissional perfeita, a namorada perfeita, a esposa perfeita, a mãe perfeita e, porque isso é impossível, errei. Quanto mais eu errava, maior minha raiva. Ainda bem que, quando se enxerga, resolver fica mais fácil. Cheguei em casa e tomei um banho com sabonete de mel. Eu queria ficar doce? Ri que sim. Deixei-me perfumadamente imperfeita.
(Imagem: Google)