Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

SÃO SÓ TRÊS DIAS



Pirulito Praça Sete/ Campanha Carnaval 2013
Então é carnaval. Não vou por meu bloco na rua. Meu ritmo será bem tranquilo e com o cuidado devido para não ocorrer atravessamentos. É uma época que fico sempre apreensiva com os números de acidentes e mortes que ocorrerão pelas estradas desse Brasil. Mesmo com as campanhas educativas no trânsito e tolerância zero para o álcool, quando quarta-feira de cinzas chegar, estarão lá - para quem quiser ver - as consequências da imprudência, irresponsabilidade e total falta de educação nossa. Nunca dirigi embriagada, mas já fui irresponsável, na juventude, sendo passageira com motorista que se dizia estar numa boa. Só na maturidade percebi o quanto meu anjo da guarda trabalhou! Também me incomodo outro tanto com os ensinamentos carnavalescos para o uso da camisinha. É só nesses dias que a prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e ao vírus HIV deve ocorrer? Com certeza são dias de mais festa, de “tá tudo liberado”, pegação geral, irrestrita, etc. e tal... Mas nos outros 360 dias todo mundo entra para um convento/seminário e faz votos de castidade?! Não carecem de informação e proteção? Os números, sempre eles, não me deixam cair nessa esparrela. De qualquer maneira o que desejo e torço, para cada um de vocês, é que sejam dias de folia e alegria com responsabilidade... pela vida sua, minha, nossa de cada dia! Façamos valer a história de sermos um povo hospitaleiro, solidário e trabalhador, que cura suas feridas, com música, samba e amor. Amor pela vida!!! Bom carnaval e inté.
(imagem: google/g1.com.br)


“Custei a compreender que a fantasia
  É um troço que o cara tira no carnaval
  E usa nos outros dias por toda a vida.”
(Aldir Blanc e João Bosco)

"Brasileiro sofre, mas arrasa na felicidade, né?
Fudidos e mal pagos mas pelados no carnaval...genial."
(Rita Lee)

"Vamos sair pela cidade
 Cada um com cada qual
 São só três dias
 De felicidade
 Vamos, porque hoje
 É carnaval."
(Vinicius de Moraes e Francisco Enoé)
 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

DO PIGA DUPLICA



Hoje é o dia mundial de conscientização e luta. Contra esse caranguejo que não escolhe suas presas. Não gostaria que existisse uma data como essa, mas a UICC (União Internacional para o Controle do Câncer) propõe assim, com sua criação, aumentar a conscientização sobre a doença. Uma das principais causas de morte atualmente. Quem de nós não tem alguém, bem pertinho, que já passou ou está lutando contra? Aqui mesmo conheci, torci, orei e vibrei por muitos. E ainda faço diariamente. Homens e mulheres, crianças, jovens e adultos... verdadeiros guerreiros anônimos. Há quase três anos passei por um ET (assim o nomeei). E foi também aqui que recebi virtualmente uma força incalculável. Seres que nunca vi, mas que já os conhecia e os sentia dentro da alma. Sentido que se fez a cada telefonema, mensagem, comentário, visita. E serei eternamente gratidão! Mexendo numa caixinha - de guardados especiais – encontrei essa carta recebida um dia antes de minha cirurgia. Do meu irmigo e médico Ricardo, que esteve ao meu lado em tempo integral. Partilho com vocês numa forma de homenagear os que estão na luta. Em especial meu amigo L. Pois é verdade:

"A amizade é um caminho que desaparece se não pisado constantemente." (Provérbio Africano)

Rê, querida Regina,
A gente se ocupa na vida. Às vezes, se ocupa pra mascarar dificuldades, às vezes pra justificar descompromissos, mas na maioria das vezes é porque precisamos viver, sobreviver.
Viver, sobreviver em todos os aspectos.
Não me incomoda muito quando não posso ver, encontrar, conviver, usufruir das pessoas que amo, como eu gostaria, apesar de tentar sempre compartilhar esses "amores".
Com essas pessoas, sinto a amizade, o carinho, o afeto, mesmo que estejam distantes ou pouco presentes. Quando a gente se encontra, a recompensa é imediata e absoluta.
E pra completar, eu diria que a nossa ocupação pela sobrevivência, é também, de algum modo, abençoada. É através dela que, inesperadamente, inadvertidamente, encontramos, cativamos, eternizamos os sonhos, as alegrias, também as tristezas, as pessoas, o amor.
Mas hoje, eu queria ser um pouco diferente.
Imagino (um pouco, pelo menos) o seu coração, a sua cabeça, sua insegurança, sua solidão, angústia, e, óbvio, a sua convicção, sua esperança, sua fé.
Médicos geralmente sabem que o que será feito nesta cirurgia é simples, e que quase não há riscos. E é possível que vc também saiba.
Mas não é esse consolo que eu queria te prestar, talvez nem consolo eu queira levar.
Quero sim, levar, prestar, emprestar, meu carinho, meu respeito, minha alegria de te ter amiga, meu sonho de viver plenamente as verdades da alma.
A mesma vida que, algumas vezes nos faz acreditar que podemos tudo, em outros nos mostra que quase tudo independe de nós. Nesses momentos, talvez salvos da obrigatoriedade de sermos e podermos tudo, somos apenas pessoas, gente. Gente, gente que pode amar, errar, repetir, tentar, gente que pode ser gente.
Por poder ser gente com vc, te agradeço, a vida inteira.
Por poder ser gente com vc, estou ao seu lado, nesta hora, em que tenho a irrestrita certeza de que, é por vc ser gente e mostrar isso ao mundo, será superada quase sem se perceber.
Sempre irmão,
Piga.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

DASDÔ




O dia amanheceu chuvoso. Continuo dormente. Qual será meu desperta_dor? Penso nas centenas de pessoas que pulsam - nesses últimos dias e noites - dores. O estado de dor extrema, mistura de esvaziamento do eu e de contração em uma imagem-lembrança, é a expressão de uma defesa, de um estremecimento de vida. Essa dor é a última muralha contra a loucura. No registro dos sentimentos humanos, a dor psíquica é efetivamente o derradeiro afeto, a última crispação do eu desesperado, que se retrai para não naufragar no nada. Eu estava ali, desestabilizada pela impenetrável infelicidade dolorosa de centenas. As palavras me pareciam inúteis e fiquei reduzida a fazer eco aos seus gritos lancinantes. Sabia que a dor se irradia para quem escuta. Sabia que, em um primeiro momento, eu tinha apenas que ser aquela que, só por sua presença – mesmo silenciosa e distante – podia dissipar o sofrimento ao receber suas irradiações. E que essa impregnação aquém das palavras poderia, justamente, inspirar-me as palavras adequadas para expressar a dor e acalmá-la enfim. A dor só existe sobre um fundo de amor. 
"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca." (Clarice Lispector)