Agosto termina amanhã. Ao longo
desse mês observei de perto, em minhas caminhadas, a floração dos ipês. Perdem
todas as folhas para que suas bagas desabrochem naquele assombro de beleza.
Penso em nós e como isso ocorre.
O processo é longo. Precisa de um ano inteiro e
muita dedicação. Há que se regar, adubar, buscar boa luminosidade e a
ventilação ideal. “Vigiai o tempo todo!” – parece dizer a planta, após um
descuido ou distanciamento. E lá se vai o viço. Então, porque a natureza não
sabe de mágoas, basta um copo d’água para que ela recupere a boa forma. Tanto
trabalho para quê? Para vê-la florescer.
Um dia, a gente acorda e tudo parece
adormecido na mesmice. Nenhum broto, nem mesmo uma folha morta dando um tom
diferente. Então, a promessa do verde se cumpre: há um broto. Inicia-se o
acompanhamento expectante. Cada dia, uma olhada. Nada. Só resta dar tempo ao
tempo, relaxar na espera, acreditar no curso da natureza. Tanta espera para
quê? Para vê-lo florescer.
E hoje, exatamente
hoje, sábado sem charme, ânimo ou esperança, ele deu o ar da graça. O meu ipê,
lá longe, já tem flor. Várias. Há cachos de pequenas flores amarelas numa
árvore despida de folhas. Perfeita na forma, sutil nas cores, surpreendente na
exuberância. Olho e fico extasiada diante do extraordinário. Depois, reparo que
outros cachos se revelam. Ele ficará cheio, mas não por muito tempo. Logo se
fará tapete para caminhantes desavisados.
Neste sábado vazio, mais um ipê iluminou meu canto. Não há esforço ou
esperança que não valha este espetáculo. O ipê me inspira. Penso em raízes
fortes para me sustentar nos bons e nos maus momentos, penso em ter calma para
realizar minha obra, penso em seguir mais leve, levando apenas o essencial para
o corpo e para a alma (o resto, são superficialidades que o vazio inventa),
penso em cumprir as promessas da semente.
Gostaria de ser como esta planta cujo
destino se concretiza dia após dia, em silêncio, sem estardalhaço, sem porquês,
apenas seguindo para florescer. Mesmo que demore um ano! Gostaria de enfeitar meu lugar no mundo. Quero
o merecimento de florescer o belo que carrego. Será que esse incômodo é um
broto?
Senti saudades do "meu" ipê amarelo... que ficava no caminho para minha casa, que foi minha filha, aos 3 anos, que me mostrou as flores no chão. Eu passava lá sempre e nao havia notado por anos. Entao, nunca mais deixei de olhar para ele.
ResponderExcluirBjs
Re, voltei com o sistema antigo de comentario nos blogs.
ExcluirYESSSSSS! Agradeço Fada_amaaada! Bjus
ExcluirOi, Regina!!
ResponderExcluirSim!! Como nunca tinha pensado nisso, um incômodo é um broto!! O que estará por vir? (rs*)
Acho linda essa época do ano. São os ipês, as amendoeiras... árvores simbólicas que sua folhas forram a terra como se quisessem protegê-la para o que virá na próxima estação.
*Quem não chora, não mama... rs. (Lendo o comentário da Sissym)
:)
Bom domingo!!
Beijus,
Que beleza essa florescer... Façamos como as flores a cada estação! Lindo te ler! bjs, chica
ResponderExcluirTextos como este são como flores brotando da mente...
ResponderExcluirBjs, Rê!
Que lindo seu ipê, Regina!
ResponderExcluirRealmente, o ipês floresce em agosto, mas continua em setembro e outubro a nos presentear com tamanha beleza!!!
Beijos
Bia
Ah que post lindo, um certo 'Q' de poesia nele, adorei!
ResponderExcluirSim, querida amiga broto, você vai florescer sempre, tem guardada na alma a gênese do florescimento, e a cada ano que passa, fica mais sábia e despojada, favorecendo a caminhada. Eu também quero ficar assim, estou ficando, lendo, trocando ideias e aprendendo com a vida e os amigos.
um super abraço carioca e boa semaninha!
(Por aqui são as amendoeiras todas com folhas amareladas e muitas ao chão, dando trabalho aos garis e embelezando nossas ruas.)
Olá, RÊ!
ResponderExcluirBonita analogia esta, comparando o nosso percurso pela vida com a dum lindo Ipê.
Da natureza, a natureza cuida, programando-a para o que há-de ser ao longe da vida. Coisa bem diferente do que acontece connosco - que temos que ir construindo o nosso destino a cada dia que passa...
Belo texto, com um agradável gostinho a poesia..
Beijinhos
Vitor
Oi minha flor.
ResponderExcluirTambém tenho um IPê Amarelo Mágico, a beira da Rodovia dos Tamoios.
A atração entre nós e irresistível, e eu sei que sou correspondida.
Sofri com as obras de duplicação, temendo pela vida do meu amigo intimo e secreto.
Acho que nessa houve uma conspiração do Universo.
E meu amigo brindou a mim, e os demais observadores de Ipês, com mais um belo Setembro Florido.
Regina obrigada por ser em minha/nossa vida esse broto,/embrião em pleno crescimento, deixando a nossa alma mais nutritiva.
Wilma
Olá! Esse ipê ?!! É mesmo bonito!!! Mas ... a natureza é mesmo assim não é? Tem o seu tempo, faz as nossas delícias. Bj, fica bem.
ResponderExcluirRê Amiga,
ResponderExcluirJá não é a primeira vez que evoca os seus coloridos ipês. O certo é que eles despertam cada vez mais a minha curiosidade e admiração dada a sua rara beleza. Considero-os inclusivé um presente da mãe - natureza.
O meu xião
Jorge
O encantamento que sentimos perante estes ritmos silenciosos, tanto nos podem conceder estados de graça com alguma nostalgia. Parece que os teus ipês te animam, operando o milagre da força!
ResponderExcluirLindo texto!
Bjuzz, querida Rê :)
(Hum, comentários em ordem...) :)
Um incômodo é sinal de inconformismo? Que massa! Um incômodo, então, é um broto e vingará n'outro ipê lindo e viçoso. Teu lugar é teu!
ResponderExcluirPor aqui setembro me enganou, voltou ao frio de julho/agosto e não sei quando devolverá a perspectiva das flores.
Beijo, Rê.