Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

terça-feira, 7 de abril de 2015

TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS TRAUMÁTICO (TEPT)



Acidentes de carro, ônibus, trem, metrô, avião ou naturais – enchentes, incêndios, soterramentos, furacões - assaltos, sequestros, são eventos que deixam marcas profundas – traumas - em qualquer pessoa que, por um desses, já sofreu.
No dia 27/04 sofri um assalto com arma de fogo pressionada na minha cabeça. Graças a D’us nada de mais grave ocorreu comigo. Só mesmo as perdas materiais e esse estresse que ainda vivo. Lembrei-me dessa palestra que proferi num congresso de Psicologia Hospitalar há alguns anos. Talvez para me lembrar de que tudo que estou sentindo faz parte de um processo e que, principalmente, passa! Também como auxílio para quem já vivenciou ou ainda esse tipo de estresse. Mas se tiver com preguiça em ler um texto um pouco mais longo ou acredita que "isso jamais vai acontecer comigo", simplesmente veja a última imagem!
Infelizmente, aqui no Brasil, não temos ainda por parte do governo medidas adotadas para socorrer essas vítimas. Falo de equipes especializadas na área do “socorro psicológico” como as - há muito - existentes no exterior. Todos se lembram do acidente com o avião da Air France ocorrido em junho/2009. O governo francês, imediatamente, deslocou esses profissionais para o Rio de Janeiro, aonde prestaram seus serviços aos familiares, enquanto aguardavam as buscas. O mesmo ocorreu em 2008 no Aeroporto de Madri – e sou testemunha ocular – quando de outro acidente aéreo. E mais recentemente no soterramento dos mineiros no Chile. O TEPT atualmente é muito estudado num movimento que tem sua maior produção nos Estados Unidos, alguns países da Europa, Israel e Oceania. No Brasil essa entidade clínica ainda é pouco conhecida, raramente diagnosticada e facilmente confundida; são escassas as publicações científicas, e o tema é pouco tratado em eventos especializados.

O Transtorno de Estresse Pós-Traumático - TEPT - é uma condição clínica que surge após a pessoa vivenciar uma situação traumática – aquela em que ponha em risco tanto a sua vida ou integridade física, assim como a de pessoas afetivamente ligadas. Podem surgir diversos transtornos psiquiátricos desde depressão, fobias (ex. medo de dirigir após acidente de carro) até o mais comum que é o TEPT.
Tradicionalmente a sintomatologia do TEPT é organizada em três grandes grupos: o relacionado à reexperiência traumática, à esquiva e distanciamento emocional e à hiperexcitabilidade psíquica.
Reexperiência traumática
Mesmo estando o perigo afastado e confinado ao passado, o indivíduo pós-traumatizado continuamente revive o ocorrido, vivenciando-o como experiência contemporânea em vez aceitá-lo como algo pertencente ao passado: "Incapaz de retomar o curso de sua vida porquanto o trauma constantemente está a interrompê-la: é como se o tempo parasse no momento do trauma". Quase sempre rumina pensamentos de forma improdutiva sobre temas relacionados ao trauma. Estão presentes as lembranças intrusivas e recorrentes: recordações que assaltam o paciente continuamente. São lembranças fixas, que não se alteram com o tempo, de uma nitidez e vividez distintas, além de carregadas de forte componente afetivo e emocional: a lembrança trazendo angústia e sofrimento intensos. Espontâneas, involuntárias, ao surgirem não são facilmente interrompidas, parecendo "ter vida própria". Muitas vezes as lembranças estão fragmentadas em forma de imagens, sons, odores, sensações físicas (náuseas, tonturas e outras) ou emoções (medo, pavor, horror) não conectadas umas às outras por força do que foi denominada dissociação primária. Com a elaboração psíquica da experiência, essas recordações, que muitas vezes estão guardadas em fragmentos sensoriais com pouco ou nenhum componente de linguagem, vão se integrando e chegando, com o correr do tempo, a se constituir em narrativa que conseguiria traduzir o ocorrido.
Esquiva e distanciamento emocional
Os sintomas relativos à repetição da experiência traumática são acompanhados de considerável sofrimento, que a maioria das vítimas busca evitar, afastando-se de qualquer estímulo que possa desencadear o ciclo das lembranças traumáticas.
Aparece, então, a esquiva ativa de pensamentos, sentimentos, conversas, situações e atividades associadas ao trauma como um mecanismo de defesa contra a ansiedade gerada pelo fenômeno intrusivo.
Dessa maneira, por provocar tamanha angústia, o indivíduo pós-traumatizado não economiza esforços no sentido de afastar-se dela. As estratégias de esquiva podem ser óbvias ou sutis, relativamente adaptativas ou manifestamente inadequadas que vão da recusa em falar sobre o trauma, ao uso de bebidas alcoólicas ou drogas para obscurecer as memórias, até ao engajamento excessivo e compulsivo em atividades como trabalho, jogo, sexo, entre outras.
Hiperexcitabilidade psíquica
O terceiro grupo diz respeito àqueles sintomas que representam um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso central e autonômico e que não se resumiriam apenas a condicionamentos a estímulos traumatogênicos, mas antes seriam reflexos de uma excitação fisiológica extrema em resposta a uma variedade ampla de estímulos. Trata-se dos sintomas mais comuns e também dos menos específicos: especialmente quando em contato com estímulos-trauma afins, uma variedade de reações acompanha o humor ansioso, como taquicardia, respiração curta ou suspirosa, constrição precordial, "formigamentos", parestesias, sudorese, extremidades frias ou também cefaléias, tonturas, sensação de "oco na cabeça", "peso no estômago", entre outras. Há a insônia, e aparece a irritabilidade e a explosividade: sempre alertas, os pacientes passam do estímulo à ação sem o tempo para a necessária reflexão e avaliação criteriosa do estímulo provocador.
Assim o TEPT caracteriza-se por recordações persistentes e revivências da situação traumática causando grande angústia e uma série de sintomas físicos o que leva a um comportamento de esquiva – passa a evitar toda e qualquer situação que possa ativar a recordação com ansiedade intolerável. Há também uma restrição de interesses, isolamento social, distanciamento das pessoas além de insônia, irritabilidade, explosividade, reações de “susto”, sobressaltos exagerados. Algumas reações podem ser consideradas respostas normais e compreensíveis, mas a persistência do quadro após um mês sugere o adoecimento.
Normalmente estas pessoas não procuram ajuda especializada por acharem que o que sentem é normal frente às circunstâncias enfrentadas, mas a persistência destes sintomas não é normal, principalmente se existe prejuízo no funcionamento social, relacionamento interpessoal, desempenho no trabalho.
Conclusão: Não há como negar, todavia, que o grande mérito da introdução do TEPT, ao longo de quase um século de debates, está em reconhecer e legitimar a condição clínica essencialmente derivada do trauma psicológico (apesar do componente individual e constitucional, sem o qual nenhuma reação aconteceria), sendo essa condição não intrinsecamente temporária, admitindo-se sua perpetuação e cronicidade.

  
 Imagens(Google) 

9 comentários:

  1. Não foi fácil, né amiga!?
    Mas, no Brasil, temos que seguir mesmo o que diz o lembrete que vc colocou abaixo do texto, ou seja, toca a andar que esquecerá o stress. Mas, poxa, e como fica a cabeça das pessoas?!
    Por coincidência, ouvi esta semana pela CBN,Rio um especialista em doenças psicológicas modernas e ele dizia que um dos grandes problemas que os brasileiros veem enfrentando ultimamente, são justamente os derivados da violência urbana a que estamos inseridos e como tem gente com problemas de stress ou síndrome do pânico!
    Só sei que não tá fácil viver neste país e é diversos aspectos, mas o que mais nos faz mal é aquilo que nos afeta diretamente na saúde.
    Que você, com sua inteligência e conhecimento, encontre a saída para não adoecer! Uma das melhores coisas é justamente o que você fez neste feriado, sair do cotidiano, ir pro campo ou pra praia, andar com os pés na grama ou na areia, buscar a natureza e sua cura.
    um beijinho carioca

    ResponderExcluir
  2. Rê Amiga,
    O TEPT pode acontecer a todo o momento a cada um de nós. Depois é que são elas...
    Aqui deparamos com ensinamentos que nos poderão ser muito úteis ultrapassando situações tais "como o tempo parar no momento do trauma", paralisando-nos.
    Dificil é por em prática o seu coroado e avisado conselho:
    SEM STRESS E TOCA A ANDAR
    Aqui fica o meu xião como agradecimento,
    Jorge

    ResponderExcluir
  3. Nooooooooooossa,Regina! Que coisa isso! Infelizmente nosso Brasil assim está. Quem não teve experiências assim? Incrível! Uma pena e até quando? Ainda bem que somos fortes e desestressar é preciso! Aqui em Poa, ando com 5 olhos até na bunda, pra tudo ver e tentar me proteger quando ando pelas perigosas e descuidadas ruas! Um horror ! bjs, chica

    ResponderExcluir
  4. Regina!

    Realmente aqui não existe “socorro psicológico". Nos EUA, por ex, tem até centros para deixar por 1 dia uma pessoa com transtorno psicologico. Faz muita falta não ter nenhum tipo de assistencia.

    Em 2007 eu sofri um baque profundo. Denunciar o fulaninho foi um horror, mas horror maior ainda foi o depois, tudo que ele fez comigo. Não há amparo em nenhuma parte. Nada facil. Ate eu me restabelecer foi dificil, uma força de vontade enorme de superação.

    As cidades brasileiras estão cada vez mais violentas. Hoje ouvi um caso horrivel de uma pessoa que fez um assalto com tiros numa cidadezinha com apenas 20 mil habitantes, eles nem estavam acostumados com essas coisas. Temos tambem a violencia no transito. No fds uma mulher morreu na Avenida das Americas atingida por outro veiculo. A familia estava desolada.

    Onde todos encontram força para superar traumas pequenos ou grandes?

    Otimo texto.
    Bjs

    ResponderExcluir
  5. É sempre bom refletir nos seus textos. Gosto muito de os
    ler. Desejo que se encontre bem.
    Bj.
    Irene Alves

    ResponderExcluir
  6. Amada
    Desejo de coração que esse susto saia o mais rápido da sua vida, e que você consiga voltar a ter uma vida “normal”.
    Eu acordava direto de madrugada assustada e acredite: chorando! Até hoje quando obrigatoriamente se faz necessário sair com bolsa, a cada ronco de moto meu coração gela. Não consigo mais usar bolsa no dia a dia, muito raramente qdo vou a Igreja ou estou com o Ricardo do lado que na minha imaginação representa segurança, mas qdo os malditos querem te roubar vc pode estar junto com uma excursão que eles te pegam mesmo assim.
    A minha “sorte” é que como não sou vaidosa, então o que eu preciso cabe em uma dessas sacolinhas de loja, que eu chamo de sacolinha da humildade, pq acredito que ninguém vai me parar pra roubar uma sacola de plástico...rsss. Mas imagino como seria complicado pra quem precisa carregar maquiagens, agenda, celular, etc.
    Infelizmente é esse o mundo que estamos vivendo, cada vez pior, ficamos trancados dentro de casa em qto os “bonitos” tão a solta. Até meu filho paga o pato da violência, já que não podemos mais oferecer diversão na rua pra ele.
    Que o tempo te traga o remédio que só quem já viveu consegue compreender o tamanho de tudo isso.
    Bjos

    ResponderExcluir
  7. Entre os "eventos traumáticos" pode acrescentar alguns tratamentos, como quimioterapia. Mais do que nos assaltos que sofri, eu confirmo todas as tuas citações sobre o comportamento pós-traumático.
    Quanto á assistência pós-traumática, há falhas em todas as situações citadas. No caso dos assaltos, parece que existe mais preocupação com o destino do bandido do que com as vítimas...
    Afinal, vivemos no país do "-1" (menos um), onde os valores são invertidos e o certo é ser errado...
    Ótimo post, Rê! Bjs!

    ResponderExcluir
  8. Oi, Regina!
    Infelizmente o Brasil carece de tantas coisas que se pudéssemos ter um trabalho "pós-traumático" como o existente na França, talvez faltassem funcionários, tal qual o volume de assaltos e acidentes que temos. Mas não podemos encarar como uma normalidade; Também porque cada pessoa reage de uma maneira. Algumas pessoas aparentemente calmas, podem ainda se manterem calmas no momento do trauma, mas carregar internamente o medo de que a qualquer momento alguma coisa ruim poderá acontecer. Isso aconteceu comigo e já faz bastante tempo, porém fiquei obsecada por segurança. Enquanto as pessoas estão relaxadas, estou trancando as portas ou mesmo observando as ruas por onde ando. Sei que não é normal esse tipo de prevenção, mas também sei o país que moramos não lhe dá qualquer segurança como cidadão.
    Esteja bem!
    Beijus,

    ResponderExcluir
  9. Ótima postagem, querida RÊ!
    Lamento o que te aconteceu mas, talvez por isso mesmo, tenha vindo a lume o que acontece às pessoas que sofrem de TEPT.
    Por cá, não sendo perfeito, há este apoio psicológico às vítimas.
    Sempre muito oportunos os teus esclarecimentos.
    BJUZZ :)

    ResponderExcluir

Passou por aqui? Deixa um recado. É tão bom saber se gostou, ou não...o que pensa, o que vc lembra...enfim, sua contribuição!