Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

CARIDADE/DOAÇÃO

Fala-se muito sobre doação. Eu mesma chamo assim o ato praticado por todos nós, trabalhadores da Casa do Richard, às quintas-feiras. Nessa última semana precisei relembrar os oito níveis da “caridade”, ou as maneiras de sermos generosos com o próximo, descritos por Maimônides (o grande médico e sábio) num dos textos da *Mishná.
No oitavo e mais baixo nível de generosidade com o próximo, um homem compra de má vontade um casaco para um outro que treme de frio e lhe pede ajuda. Ele entrega o presente diante de testemunhas e espera receber agradecimento.
No sétimo nível, um homem faz o mesmo, sem esperar que lhe peçam ajuda.
No sexto nível, ele faz o mesmo, de coração aberto, sem esperar que lhe peçam ajuda.
No quinto nível, um homem dá um casaco que tinha comprado, de bom grado, mas o faz sem que ninguém saiba.
No quarto nível, um homem, de bom grado e sem testemunhas, dá o seu próprio casaco a um outro.
No terceiro nível, um homem, de bom grado, dá o seu próprio casaco a um outro que não sabe quem lhe ofertou tal presente. Mas aquele que deu conhece a pessoa que lhe ficou devedora.
No segundo nível ele dá o seu casaco, de bom grado, sem ter ideia de quem o recebeu. Mas o homem que recebeu o presente sabe quem merece seu agradecimento.
Finalmente, no primeiro e mais puro dos níveis, um homem, de bom grado, dá o seu próprio casaco sem saber quem vai recebê-lo e aquele que o recebe não sabe quem ofertou. Então, o ato de dar torna-se uma expressão natural da bondade em cada um e acontece de maneira tão simples quanto as flores oferecendo seu perfume.
Aqui existe uma situação muito especial. Imaginem que todas as pessoas fossem generosas com os que estão ao seu redor da maneira como fez o primeiro homem: de má vontade, um casaco comprado, na presença de testemunhas, a alguém que precisa e pediu ajuda. Se todos nós agíssemos assim, haveria maior ou menor sofrimento no mundo? Tempo para refletir...
Menor, claro! É verdade. Algumas coisas tem tamanha bondade em si que merecem ser feitas da maneira que for possível.
Sem dúvida, existem formas de dar que diminuem o outro, roubando-lhe a dignidade e o amor-próprio. Podemos aprender como dar sem tirar nada e com frequência aprendemos enquanto fazemos. E ainda creio que é melhor abençoar “mal” (num degrau mais baixo) a vida do que não abençoá-la nunca! Só mais um lembrete: doação não tem nada a ver com descarte. Quando for doar qualquer coisa para outra pessoa: livros, revistas, roupas, objetos de higiene e limpeza, bijuteria, cobertores, comida, antes faça uma pequena reflexão: isso que eu estou doando pode ser verdadeiramente reaproveitado? Gostaria de receber de outra pessoa isso que estou doando? Não repasse algo pra frente porque você quer se livrar, mas não tem coragem, porque outra pessoa “pobrinha” poderia aproveitar. Se não dá para aproveitar, é lixo.
*MISHNÁ: A Mishná, também conhecida como Mixná (em hebraico משנה, "repetição", do verbo שנה, ''shanah, "estudar e revisar") é uma das principais obras do judaísmo rabínico, e a primeira grande redação na forma escrita da tradição oral judaica, chamada a Torá Oral.(Fonte: Wikipédia)

19 comentários:

  1. Simplesmente MARAVILHOSO! Uma perfeita aula! ADOREI! beijos,chica

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  2. Que delícia esse post.
    Me trouxe antigos/presentes ensinamentos de meu Avó querido.
    A verdadeira caridade é delicada e engenhosa para dissimular o beneficio.
    Ao contrário a caridade orgulhosa, confunde o beneficiado, magoando-o fazendo-o sofrer.
    Obrigada Regina por isso também.
    Bjs.
    Wilma

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  3. Que post ótimo, Regina. Adorei a verdadeira aula sobre os "níveis". Aliás, aula muito verdadeira. Bjs e boa quinta.

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  4. Oi Regina
    Outro dia, dei meu guarda chuva a uma senhora que estava debaixo de uma marquise, se protegendo de uma chuva torrencial, sem nada que lhe protegesse. Voltei para casa feliz, me deixando molhar. Fazia tempo não sentia uma chuva tão boa.... A doação é algo natural e nos faz tão bem! Todo mês levo algumas coisas novas a uma igreja que serve a comunidade. Também costumo comprar coisas em brechós, cuja renda vai para os mais necessitados. Faço isso desde pequenina, pois aprendi com minha mãe o dom da bondade.
    ADOREI o ensinamento judeu!

    Beijinhos

    Bia
    www.biaviagemambiental.blogspot.com

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  5. Que ótimo post Rê!! Caridade é o amor, esse amor que Jesus ensinou, amar ao próximo como a si mesmo. Precisamos mesmo exercitar todos os dias, mesmo que um pouquinho. Quanto aos ensinamentos judaicos, eu estava lendo um Livro chamado ATOS DE FÉ de Erich Seagall. Muito lindo e fala muito sobre o judaísmo, gostei muito e aprendi muitas coisas que não sabia. E aqui com vc estou sempre aprendendo! Obrigada amiga!! SHALOM! Bjss

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  6. Partilhar o último pedaço de pão é talvez a forma mais sublime de doação.
    Beijos.

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  7. Regina,
    Fiquei sem palavras, simplesmente maravilhoso.
    Sabe, essa peça, se posso chamar assim, do Judaismo é dita de forma diferente pelo Budismo, no fundo a essência é simplesmente única !
    Obrigado
    beijo

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  8. Olá!
    Muito me ensinas amiga!
    Sobre doar penso o mesmo que tu, oito é?!!
    Para mim ou se dá de coração ou então, não se o faça.
    O meu problema (ou melhor o que me causa por vezes problemas !!) é que eu acho que por muito pouco que se dê a alguém, esse alguém se sabe quem doou deve retribuir, seja com um sorriso, um olhar, um aperto de mão , sei lá ...
    Não é uma questão de obrigação (subserviência) mas sim um gesto de carinho, pois quem dá o que tem a mais (ou não) também sempre precisa de algo, e normalmente um carinho é sempre uma dádiva dos deuses, é sempre bem vindo.
    Tomara certas pessoas que conheço(?) pensarem assim la´do seu "alto".
    Bj, fica bem.

    Obs: sempre grato pelas visitas e pela amabilidade.

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  9. Olá, RÊ!

    O tema faz-me pensar no momento que estamos a atravessar em Portugal: em que muitas são as pessoa e famílias que só conseguem sobreviver à custa daquilo que recebem; quer do estado quer de instituições particulares - e ainda da generosidade de muitas outras pessoas, a título individual.
    Com algumas delas a esconder o rosto das reportagens de televisão, ao serem mostradas na situação de quem está a estender a mão à caridade...

    O gesto de dar faz-nos sentir bem connosco, e às vezes custa tão pouco ... mas também é verdade, como diz o texto, que devemos ter a sensibilidade e o bom senso de não magoar os sentimentos de quem recebe.

    Tema interessante, e ainda mais sério.

    Bom fim de semana; beijinhos amigos.
    Vitor

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  10. Lembro que um dia me perguntaram sobre o significado da palavra doação, e eu respondi que junto com aquilo que estamos dando, seja o que for - material ou um gesto (abraço, telefonema, um email, uma visita inesperada...) vai um pedaço de nós... mantenho essa ideia, pq quem "pratica o escarte" , tá fora... né amadinha??

    Contagem regressiva, obaaaaaaaa!!
    Bjãozão, Rê! Inté logo mais...

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  11. Regininha lindaaaaaa,

    adorei a explicitação dos oito níveis. Excelente.
    Como você também penso que doar o que está amontoado na nossa casa é descarte. E nada tem a ver com a caridade pura. Embora seja útil para quem o recebe. Se faz bem, melhor assim.
    E livro eu não dou em deixo perdido em bancos de lugar nenhum! Compro um igual rs Bem, já doei um montão de coleções minhas para um jardineiro daqui perto que é Evangélico e fez uma biblioteca na casa dele na sua comunidade. Legal, né mesmo?
    Mas , como meu netinho Guigui fala : É MEU! Lindinho é que ele, fazendo agora dia 6/09, três aninhos, diz , principalmente, para biscoitos e cosas comíveis( para sues carrinhos a coisa muda) esse "é meu!" mas divide o que tem contigo. Já peguei duas gripes com aquele pequeno lourinho! Ele enfia o que está comendo na minha boca rsrsrs Sempre falo para meu filho que ele e a norinha sobre o quanto seus frutos, o de 16 anos sempre deu o último pedaço da coisa mais gostosa. E é extremamente generoso até hoje.
    Não me compraz doar e mostrar-me ao outro. Na verdade, fiz campanhas num Centro onde trabalhei por 11 anos comprando e coletado cobertores e no dia da entrega, me pediram para ficar lá. Foi terrível. Aquela posição da assistida receber e agradecer me incomodou tanto que nunca mais fui. fazia as campanhas e ficava lá mas longe do "obrigada". Afffeeee
    A caridade é o amor mas puro. Doar a si mesmo aos outros é a mais doce sensação que invade nosso coração. Não tenho dificuldades em dar o que tenho. Minhas noras morrem de rir. Eu compro algo lindo e quando elas elogiam, já vai a pergunta: Quer para vc? Elas dizem que não podem elogiar.
    Amada_iluminada, o mundo seria muito melhor sim!
    Ser generoso é estar perto de Deus. le qu nos deu tanto ao nos dar este Cosmos Sagrado, essa sol que nos aquece( bem, aqui no RJ não tem sol, tem frio e chuva) mas o sol está lá, altivo, no Centro do nosso sistema solar. E Deus lá no Centro de todas as Galáxias a nos incitar a amar. Ouve quem abre os portais da alma.
    Beijos amada minha!Amo tu de viverrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!!!

    Querida, em tempo,
    onde está a Maria Alzira Dinelli, a ZIZI? Ela sumiu. Ela está bem? Adoro aquela lindinha!

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  12. Oi, Regina!!
    Certamente o mundo seria bem melhor se as pessoas fossem solidárias e dividissem aquilo que tem. Apego às coisas materiais é carência afetiva. Quem dá amor, recebe amor!!
    Bom Domingo!!
    Beijus,

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  13. Querida Regina!
    É isso mesmo, dar sem esperar nada e de preferência aquilo que outros possam aproveitar em todos os sentidos.
    Conheci uma mulher que costumava ligar pra minha casa e pedir para que meu jardineiro fosse lá depois do trabalho que ela tinha algo para lhe dar. Um dia perguntei a ele se o que ela lhe dava era coisa boa e ele respondeu-me que o que ela queria mesmo era marcar um dia para que ele fosse trabalhar pra ela e por menor preço. Aí costumava dar uma roupa bem velha para ele, segundo me disse o pobre, nunca dava para aproveitar de tão velha que era. Existe sim gente mesquinha e interesseira neste mundo, infelizmente.
    um super abraço carioca e ... parabéns pra você, queridona!


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  14. Regis quérida, sem tempo de passar pelos blogs que eu gosto...e logo hj que passei, adorei o q vc disse...muito bom...voltei num bom momento...rs
    bjos bjos minha querida

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  15. Detesto a caridade; só aceito a doação e a de "primeiro nível" (mais uma que aprendo....). De resto, entendo tratar-se de promoção pessoal/social. E, sim, quem recebe tem direito a receber algo que seja digno...

    Uma temática que mexe comigo quando vejo uma doação usando os primeiros níveis que referiu...

    Bjoss, RÊ

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  16. Regina, adorei tanto e hoje acabou de entrar por lá: Podes ver aqui:

    Obrigadão! beijos,chica


    http://cuidandonossocanteirointerior.blogspot.com.br/2013/10/doacao-e-seus-8-niveis.html

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  17. Olá Regina , cheguei até aqui através do blog da Chica que republicou esse seu maravilhoso texto. Peço licença também para postá-lo no meu blog "evangelizarepreciso".Considero-o bem adequado ao objetivo de meu blog. Claro que deixarei os devidos créditos. Obrigada. Bjs . Bfds

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