Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Que rêiva SÔ!



A palavra é o mesmo que raiva. Muito usada no interior e pela população rural. Pode parecer bobagem, mas acho que exprime muito melhor o que raiva significa. Segundo dia do mês de julho. Tão início, tantas emoções para serem sentidas e acordo com essa?! Já faz tempo que recebi um e-mail que dizia o seguinte:
– Se alguém chega até você com um presente 
e você não o aceita, 
a quem pertence o presente? – Perguntou o Samurai.
– A quem tentou entregá-lo – respondeu o discípulo.
– O mesmo vale para a inveja, a raiva 
e os insultos – disse o mestre. 
Quando não são aceitos,
continuam pertencendo a quem os carrega...

As palavras caíram como um temporal em solo sertanejo carente de água há meses. As boas intenções vieram-me como uma enxurrada. Só me pergunto se algum dia eu aprendo que chuva forte não irriga nada, apenas arrasta e arrasa. Para mudar, é preciso que as palavras caiam como chuva leve. Mas eu me esqueço disso. Quando percebo, estou bebendo lições em grandes goles, com a avidez de quem quer fazer a vida dar certo. E eu quero mais: quero fazer bonito.
Mas fiz feio. Saindo de casa, percebi uma raiva encolhida num canto e quis saber: “Por que estou me sentindo assim?” Vieram-me possíveis explicações: estresse, cansaço das tarefas domésticas, assunto mal resolvido... Não era nada disso. Então, conclui que o sentimento era apenas uma sombra imitando fantasma.
Estava enganada. Após uma pergunta, respondi com um berro, depois outro, outro... Não conseguia me controlar e pensei: “Meu Deus, o que está acontecendo comigo?” Eu queria retroagir, queria transformar o imperfeito em mais que perfeito, queria apagar o "eu errava" e escrever "eu errara". Esforço inútil. Então, aquele que andava comigo, percebendo que o presente não era seu, calou-se e me devolveu a raiva. Tive que carregá-la.
Segui pesada e muda de raiva. De repente, num insight, percebi que ficar calada era a melhor arma. Após uma hora, o silêncio fez sua obra. Descobri que a vontade de ser perfeita era a causa. Faz algum sentido? Para mim fez. Eu quis ser a filha perfeita, a profissional perfeita, a namorada perfeita, a esposa perfeita, a mãe perfeita e, porque isso é impossível, errei. Quanto mais eu errava, maior minha raiva. Ainda bem que, quando se enxerga, resolver fica mais fácil. Cheguei em casa e tomei um banho com sabonete de mel. Eu queria ficar doce? Ri que sim. Deixei-me perfumadamente imperfeita.
(Imagem: Google)
 

17 comentários:

  1. Gosto de si assim imperfeita minha Irmiga Querida...Jinhos

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  2. Adorei! Me faz tão bem ler o que você escreve...bjos

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  3. Nada de preencher expectativas exageradas! Nem as nossas próprias e, menos ainda, as dos outros. Leveza e permissão. Ainda bem que você conseguiu. Tem gente que passa pela vida sem, sequer perceber... Bravo, Rê! Beijinhos, Angel

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  4. Que beleza Regina!
    Precisamos nos ouvir assim mais vezes, né!
    E eu, por aqui, vou indo, já acostumada à minha imperfeição.....

    Beijinhos

    Bia

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  5. Adorei te ler pois todos somos imperfeitos e por vezes "nos achamos"rs... beijos,tudo de bom e adoro vir aqui!!! chica

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  6. Nossa imperfeições, Rê !! Ainda bem que vc parou e se ouviu... a raiva só sofro quem a emana mesmo.....
    Amei mais uma lição de vida!!
    Milbjos,
    Sheyla.

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  7. Olá Rê! como eu te compreendo!!!!!!!!! Tens de me emprestar esse tal sabonete também. Bjs, fica bem.

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  8. Rê minha Iluminada até na rêiva!!!!
    Adorei e muito o teu texto.
    Me fez um bem danado de baum, sabia?
    Amiga, como eu gostaria de que as pessoas agissem comigo assim como agiram com vc.
    Ficando em silêncio. Como dizem: me deixando "no vácuo".
    Outro dia fazendo um retrospecto de mim desde menina. Sempre fui afiada nas respostas mas não briguenta. Nem gritava nem falava alto.
    Ando percebendo que briguenta, mea culpa, com alguns alvos certos, geralmente sem arrependimentos pois me provocaram muito, isso está diminuindo.
    Mas creio que diminuem na medida que talvez pela experiência ou pelo fator idade rs aguçou o meu instinto de sobrevivência.
    Sim. E diminui por isto , assim como no FB só tenho 113 amigos... Na vida , embora me convidem muito para reuniões e festinhas, e para reunir para bater papo - diminui o meu número de afetos justo para evitar desafetos.
    As pessoas são boas, sim!
    Mas a conversa delas é superficial demais. No social há muitas risadas e conversas vazias. Fofocas, se deixarmos, vira papo. E eu já estou cansada de gente fofoqueira.
    Até no Templo há uma compulsão para amizades e conversinhas e comidinhas. E o que eu anseio da religião é o Silêncio para ouvir Deus e caridade , a gente faz a qualquer hora em qualquer lugar.
    Acabei com tudo isso.
    Quero aprender a ser melhor, peço a D'us que ninguém me provoque risos mil.
    Pobre Senhor Deus, que peso, hein?
    pois eu adoro , é meu defeito e minha qualidade, aceito desafios numa boa, sem medo.
    Ai que rêiva, sô!!!!!
    Beijos neste coração que eu amo de viverrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
    Linda!!!!!!!

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  9. perfeição não existe. a verdade é cruel quando a gente se dá conta. quando mais fizermos aquilo que pudermos, dentro das nossas limitações-imperfeições, melhor [bom, assim penso eu].

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  10. É certo! A chuva, quando vem forte, assola plantações e pensamentos.....a calmaria vai embora. E cá entre nós, PERFEIÇÃO com todas as letras não existe!!!
    Beijinhos

    Bia

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  11. Olá,RÊ!

    Perfeição não é coisa de mortal.Mas fazer melhor "todos nós" queremos, e quando assim é e achamos ter falhado não há juiz mais implacável que nós mesmos.

    O melhor, se pudermos, é colocar a fasquia mais baixa para ter a satisfação de por cima dela conseguir saltar...

    Gostei muito do texto, muito bem escrito e cheio de sabedoria.

    Beijinhos e boa semana.
    Vitor

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  12. Todos nós temos nossos momentos de ira, mas eles nunca trazem nada de bom, só frustração...
    Melhor esquecer e se voltar para outra coisa, se possível...
    Bjs!

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  13. Oi, Regina!
    Tomou a decisão correta ;) Não é certo ser perfeita num mundo de gente imperfeita! Não encontraria peça para encaixar em você!
    :)
    Beijus,

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  14. Regina, tu és demais, mesmo.
    Quando te leio, parece que falas pra mim.
    Temos grande identificação.
    Nada de raiva, ainda mais quando buscamos a perfeição(ela não existe).
    Saudades d'ôce! (he he he - gostou?)
    Xerosssssssss

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  15. Cultiva com amor tuas belas imperfeições...

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  16. Luz de Luma falou em ti no meu blog e vim aqui te conhecer... e fiquei. Casa mineira (é isso, né?), é sempre aconchegante! Adorei a rêiva. Lembrei de vários momentos em que me sinto bem assim. E, pensando, acho que muitas vezes é resultado da mania de perfeição, sim! É bom se libertar disso! Abs. Marion, do blog Criações em família & cia.

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  17. Mais uma excelente postagem, querida Rê! Sempre bebendo da tua fonte...
    Tenho um princípio: nunca agir na altura da emoção, do descontrolo. Se o fizer, o descontrolo é meu e sempre me arrependo.
    Aos poucos virei atualuzar as leituras...
    BJO, querida :)

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