Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sexta-feira, 20 de março de 2009

O MÉDICO E O CORPO

Para o Doutor Ricardo Coutinho, mais conhecido como Piga. Doutor à moda antiga. O Doutor da D.Lucy.
Tenho saudades do antigo médico da família. Ele sabia, de toda a história do corpo, de seu paciente, além de medicar com conselhos os problemas da alma.
Bons tempos àqueles que não aguardávamos por mais de uma hora, na sala de espera, a consulta de menos de 20 min.Tempos que não era preciso abrir uma tela de computador para se saber de quem e do quê se tratava. A memória não falhava por que eles sabiam quem era a esposa, que o filho mais velho estava cursando engenharia, que a caçula iria se casar no final do ano.
Antigamente a simples presença do médico irradiava a vida. Naqueles tempos os médicos eram também feiticeiros. A vida circulava nas relações de afeto que ligavam o médico àqueles que o cercavam. Naquela época os médicos sabiam dessas coisas. Hoje não sabem mais.
O médico de antigamente era um herói romântico, vestido de branco. Quem, jamais, ousaria pensar qualquer coisa de mal contra o médico? Hoje são comuns os processos contra os médicos por imperícia. Ser médico transformou-se num risco.
Nos tempos antigos todas as pessoas eram espelhos para o médico. Todos o conheciam. Todos olhavam para ele com admiração: olha lá o Doutor! O médico de hoje é procurado não por ser amado e conhecido, mas por constar no livrinho do convênio. Seus espelhos não são mais os clientes, parentes, todo mundo. São os seus pares: colegas de empresa, sócio de consultório, congressos.
A relação do médico antigo com seus espelhos era uma relação de gratidão e admiração. A relação do médico de hoje com seus espelhos é uma relação de inveja e competição.
O corpo é delicado. É preciso cuidar dele. Para isso, há uma infinidade de recursos médicos. E muitos são eficientes.
Mas o corpo, esse instrumento estranho, não se cura só por aquilo que se faz medicamente com ele. Ele precisa beber a sua própria música. Música é remédio. Se a música do corpo for feia, ele ficará triste – poderá mesmo até parar de querer viver. Mas se a música for bela, ele sentirá alegria, e quererá viver.
Em outros tempos, os médicos e as enfermeiras sabiam disso. Cuidavam dos remédios e das intervenções físicas – boas para o corpo – mas tratavam de acender a chama misteriosa da alegria. Mas essa chama não se acende magicamente. Precisa da voz, da escuta, do olhar, do toque, do sorriso.
Médicos e enfermeiras: ao mesmo tempo técnicos e mágicos, a quem foi dada a missão de consertar os instrumentos e despertar neles a vontade de viver...OBRIGADA!

2 comentários:

  1. Acabo de chegar do SOCOR, onde estive com vc e alguns de seus familiares.
    Sempre tive como grande amigo, aliado inseparável, o silêncio. Que, em alguns momentos, é a única forma de dizer.
    Sei que este texto foi feito quando havia esperança e alguma vida orgânica, e que só fui ler agora, vindo do SOCOR, onde estive com vc e alguns de seus familiares.
    Obrigado, eu que grito.
    Porque, por mais de um ano, pude estar com vc, alguns de seus familiares, e D. Lucy.
    Ela, que, dignamente, se submeteu às vontades da família, pra que, assim, suportassem melhor o que já lhe era insuportável.
    É desta forma que a vida se perpetua, eterna.
    Obrigado Rê.
    Obrigado D. Lucy.
    Obrigado familiares.

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  2. Piga Amado
    Depois de todos esses meses, revendo postagens antigas e com aquela saudade que vc bem conhece, só continuo a ter uma única palavra por vc e para vc: OBRIGADA!
    Beijuuss n.c.

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