Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

domingo, 27 de maio de 2012

BANDINHA OU GIL?


De sexta prá sábado fui dormir às três da manhã. Depois de show de Gil, pizza, vinho, e umas tantas risadas. Sábado é dia que posso acordar mais tarde... Fazer aquela horinha na cama, exercer o pecado da preguiça sem culpa e necessidade de confissão. Danem-se as tarefas domésticas e que aguardem minha vontade de rainha em executá-las. Na sexta-feira, à noite, choveu por aqui entrando pela madrugada. Meu sono foi embalado pelo barulhinho da água na janela, o friozinho minimizado por uma manta deliciosa e o amanhecer escuro reafirmava que poderia pecar. Mais ou menos. Às seis e meia começo ouvir vozes animadas bem debaixo da janela. Estariam chegando de alguma balada? E o volume de gente e vozes só aumentava. Tentei fazer ouvidos de mercador até quando, pontualmente as sete da matina, escuto uma bandinha (é gente, bandinha que nem essas que tocam em coreto de praça de cidade de interior):
Acorda Maria Bonita / Levanta vai fazer o café
Que o dia já vem raiando / E a polícia já está de pé
Ok vocês venceram: não sou Maria, nem Bonita, muito menos polícia, mas já estou de pé! Tá, tudo bem que as músicas tocadas atualizaram as saudades de mamãe, mas carecia de ser tão cedo e no sábado?! Aniversário de 89 anos da senhorinha vizinha do outro lado da rua. Parabéns pra ela – que de fato é bem fofa - e agradeço por esse despertador sui generis.  Enquanto passava o café (sou cumpridora de ordens) penso no show intimista, só cordas (violão, violino, celo e baixo), de comemoração aos 70 anos de vida de Gil. Posso contar? Não gostei. Achei suas novas canções um tanto velhas melancólicas pro meu gosto e pro meu momento. Talvez ele tenha sido contaminado pelo vírus da impermanência e está tentando se imortalizar nessas letras e melodias. Nem carecia. Já está num Expresso 2222 a caminho de um Domingo no parque. Afirma ele, numa dessas novas, que Não tenho medo da morte, mas a letra é sim uma reflexão – intensa - da morte em vida e seus acontecimentos inesperados:
Não tenho medo da morte
mas sim medo de morrer
qual seria a diferença
você há de perguntar
é que a morte já é depois
que eu deixar de respirar
morrer ainda é aqui
na vida, no sol, no ar
ainda pode haver dor
ou vontade de mijar

A morte já é depois
já não haverá ninguém
como eu aqui agora
pensando sobre o além
já não haverá o além
o além já será então
não terei pé nem cabeça
nem fígado, nem pulmão
como poderei ter medo
se não terei coração?

Não tenho medo da morte
mas medo de morrer, sim
a morte e depois de mim
mas quem vai morrer sou eu
o derradeiro ato meu
e eu terei de estar presente
assim como um presidente
dando posse ao sucessor
terei que morrer vivendo
sabendo que já me vou

Então nesse instante sim
sofrerei quem sabe um choque
um piripaque, ou um baque
um calafrio ou um toque
coisas naturais da vida
como comer, caminhar
morrer de morte matada
morrer de morte morrida
quem sabe eu sinta saudade
como em qualquer despedida.

Quer saber? Prefiro despertar - para a vida - ao som da bandinha a dormir com medo de morrer!

13 comentários:

  1. Olá, Regina!
    Eu também prefiro, viva a vida - sempre!
    Bjs!
    Rike.

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  2. Bom dia, querida Regina!
    É mesmo! Não 'carecia' uma letra tão melancólica do felizardo Gil que já fez tanta coisa bonita e pra cima.
    Mas, acho que de uma maneira geral foi uma ótima pedida esta para um fim de semana. E, acordar com uma musiquinha gostosa dessas, não dá nem pra ficar chateado.
    Tenha um lindo e descansado domingo, cara amiga!
    beijos cariocas

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  3. Acho que você fez uma boa opção, escolhendo viver!
    Eu nunca posso me dar ao luxo de ficar na cama um pouco mais, pois minhas duas "filhas" de quatro patas acordam cedo e precisam de mim!
    Mas, será que a velhinha gostou mesmo de ser acordada com serenata?
    Bom domingo, Rê!

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  4. Com todo o respeito a senhorinha aniversariante, se meus braços sonolentos alcançassem, eu jogaria ovinhos na bandinha.

    Show de Gil? Invejona! Drão... Exotérico... Refazenda. Que massa! Eu quero.

    Levanta, Maria Bonita, vá ver a banda passar.

    Beijo!!!

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  5. Regina Bunita
    Vai fazê café
    Pra Parca maldita
    Largá do seu pé...

    Alegria! E beijos!

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  6. Caracas.
    Um pergunta se a "velhinha" gostou?
    A outra se fosse com ela jogaria ovos.
    Agora entendo, a melâncolia do poeta Gil.
    Os tempos mudaram, e sensibilidade dos ouvitem também.
    Beijinhos.
    Uma boa semana.
    Wilma
    www.cancerdemamamulherdepeito@blogspot.com

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  7. Querida Rê,

    O te comentário foi um bálsamo.
    É claro que vou abusar e mandar esse e-mail. Muito obrigada, de coração!
    beijinhos

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  8. Não gosto muito dessas celebrações de idades redondas: 50, 60, 70... Acho que a vida deve ser celebrada momento a momento, até mesmo nos de mau humor (!). E quer saber? Acho que o Gil já deixou seu recado para a posteridade há muito tempo. Ele é tão pedante, se acha tão brilhante que me dá uma preguiiiiiça... Caetano e o resto da troupe vêm envelhecendo melhor.
    Sou mais a musiquinha da roça qualquer dia de manhã, adoro manhãs. Beijinhos, Angelinha

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  9. Já esqueci, todas as palavras que queria ouvir
    Todo os sentires por sentir
    Já não sou protagonista de uma comédia de enganos
    Sou apenas demiurgo de uma perversa cena de uma chegada sem partir

    Sou uvas amargas do mês de Abril
    Vinho de travo verde ao beber
    Semente atirada ao meio das pedras
    Olhos na bruma na inquietação do ver

    Uma imensa e incontida força neste peito
    Na alma uma cicatriz, qual estigma
    Serei apenas um barco de papel à deriva!?
    Ou como já alguém disse, um…Enigma…

    Doce beijo

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  10. Ah Regina, essa bandinha aí foi tudo de bom, mesmo de madrugada, né?
    Concordo que a letra dessa música é melancólica, gosto mais de viver a vida vivendo.
    Xeros!

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  11. Regina, a vida sempre! E quando posso, levanto quem desanima! E se me dão "corda" .... faço todo mundo rir ou sorrir!

    Achei fofinho como voce falou comigo, então... direi boa noite assim:

    Beijos da Fadamada! rssss

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  12. Confesso que também não gostei, não, Regina. Evito pensar na morte, embora saiba que será inevitável. Bjs e bom fim de semana!

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