Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

RACHADURAS



Olho as paredes dos cômodos rachadas. Trincas que se fizeram à minha revelia. Transformações externas que afetaram o interno. Lembro-me do casal que esteve, diante de mim, questionando as racha_duras da relação. As acusações e julgamentos são mútuos. Momento frágil onde há que se contar com a boa vontade das partes e perseverança. É assertivo afirmar, sem medo de errar, que boa vontade e perseverança predominam sobre todos os outros fatores, inclusive o sentimento, para a sobrevivência duradoura de uma relação. Ele é base, combustível, mas ele apenas não basta. Decidir no imediatismo caloroso - de se livrar do desconforto - não é o melhor caminho. Primeiro passo: desobstruir a escuta que se obturou em mágoas e não tomar nenhuma decisão! Fazemos um acordo: dar um tempo para avaliarmos os estragos e considerarmos as soluções. É possível ouvir o outro sem pretextos? Onde foi parar o encantamento inicial? O tempo – cotidiano - desfez. Todos sabem que o tempo anda sempre avante, indiferente aos questionamentos humanos. Seres vivos nascem, crescem, envelhecem e morrem. Nenhum momento jamais se repete. Cada segundo que passa é menos um segundo que temos de vida. A passagem do tempo é um assunto meio deprimente – e evitado – mas também fascinante. Perante ele, somos todos impotentes. Sua passagem é democrática e, ironicamente, rígida e inflexível. Estamos perdendo tempo com essas brigas? – perguntam. Tempo é um conceito fundamental na descrição das mudanças que ocorrem no mundo e em cada um. Mudanças e transformações são características fundamentais do mundo à nossa volta, e seu estudo necessariamente nos força a pensar na natureza do tempo. Não se perde tempo reconhecendo o que antes nem mesmo era vislumbrado – penso eu. Brigas? Verdadeiras batalhas? Se é assim a possibilidade existente para um acordo de paz... En_frente_mos. Conviver dá trabalho e onde há trabalho não pode haver preguiça de escutar, comunicar, corrigir e acreditar. O reconhecimento das rachaduras e a procura de “mão de obra” especializada é um grande começo, vocês não acham? Sem delegar ou acreditar em milagres, todos – implicados – decidem por as mãos na massa. Temos muito trabalho pela frente... E o tempo há de ter boa vontade também!

28 comentários:

  1. Rêzinha sumidona, que texto bem construído, lúcido e generoso! Sinceramente: se não fossemos amigas, ainda que de encontros bissextos, eu gostaria de fazer análise com você. Relacionamentos são dor e epifania diariamente. Há que ter calma e vontade de seguir. Arguto e compassivo esse seu olhar. Beijos, Angelinha

    ResponderExcluir
  2. Lindo, muito bem escrito e cheio de verdades. Investir numa relação implica vontade de dar certo, conviver , acertar arestas e enquanto isso, o tempo tá passando, para ambos.

    Ele faz estragos no corpo e no interior de casa um e se deixarmos afetar também as "casas" ,aí ,só Deus sabe,srs

    O bom é que se há um amor grandão, tudo fica bem mais fácil.O amor é ótimo pra moldar pessoas...
    beijos,chica

    ResponderExcluir
  3. Dia desses escrevi sobre o processo "trabalhoso" na construção da felicidade...aqui vejo a ressonância absoluta àquele meu pensar...não se pode ter preguiça, de natureza alguma, nesse caminhar...linda reflexão, Rê...e a partir de um fato "corriqueiro"....rachaduras na parede, uma obra danificando a outra...o que gera mais reflexão...

    A boa vontade é primordial, e o tempo...inclemente...mão à obra, né?
    Bjãzão, irmiga!

    ResponderExcluir
  4. Vivendo e aprendendo a jogar,
    nem sempre ganhando
    nem sempre perdendo
    mas, aprendendo a jogar!

    Bjs.

    ResponderExcluir
  5. Já foi dito que toda pessoa humana precisa ser reconhecida como humana pelos outros humanos.
    Nesse processo de reconhecimento e rachaduras se intercambeiam afetos, sonhos aspirações e histórias, quando tudo isso acontece a luz do Divã da Diva Regina, fica mais fácil, até mesmo a vida que pode se seguir.
    Beijos.
    Amei o Post
    Wilma
    www.cancerdemamamulherdepeito@blogspot.com

    ResponderExcluir
  6. Questão complicada essa do relacionamento...
    Cada caso é um caso...
    Infelizmente, não existe uma regra milagrosa, mas tolerância e compreensão ajudam!
    Amor salva!
    Beijos, Rê!

    ResponderExcluir
  7. não sei não minha amiga...
    tem casos e casos, mas quanto a mim só o sentimento ainda vivo, mesmo que com feridas poderá dar a volta ao assunto...
    sem ele para que servem todas as estratégias?
    beijo n. a.
    .

    ResponderExcluir
  8. Olá Regina e demais leitores!
    Olha, em minha adolescência, e com minhas conhecidas, a vida era tão árdua, que não se casava para ser feliz. o lema era: "casar-se cedo para lutar cedo".
    um pouquinho que melhorasse era bom lucro! Assim se tornava fácil qualquer casamento vingar...
    Tão pouca coisa era deixada para trás: tempo curto (com excesso de trabalho e estudo), dinheiro curto (o salário ia para as mãos do pai), espaço curto (geralmente não se tinha seu próprio quarto), conforto curto (uma TV para todos, onde o pai determinava o canal, pouca "mistura" no prato, algumas troquinhas de roupas).
    hoje, com vida de princesas, unigênitas, as garotas estranham muito a entrada no casamento: deixar de ser cuidada e passar a cuidar... Haja estrutura!
    Um respeitoso abraço a todos,
    Cri.

    ResponderExcluir
  9. Oi loura, o respeito numa relação independe do amor, contudo se amor houver as intransigências serão fardo leve.

    Texto impecávelmente elaborado e assunto dominado!
    Aplausos!

    Bacios na madruga, cara mia!

    ResponderExcluir
  10. Rê,queridona!
    Teu post, como sempre, bacana, pura refexão para uma noite como essa, tranqüila e fresca.
    Eu acho que esse processo é trabalhoso, muitas vezes penoso, e tem casais que não agüentam a barra e se consomem. Estou nos 30 anos desta construção, com pequenas rachaduras, coisa fácil, só passar novo embosso, dar uma pinturinha daqui e dali e a gente vai levando, porque o alicerce é forte, que nem construção de português. Kkkkk
    Super abraço carioca




    ResponderExcluir
  11. "Conviver dá trabalho e onde há trabalho não pode haver preguiça de escutar, comunicar, corrigir e acreditar. " Grande verdade, seria tão bom se todos fizessem assim.
    bjs
    Jussara

    ResponderExcluir
  12. Texto rico de verdade e intensidade. Bela escrita, bela história sobre vida!
    Bjs e ótimo fim de semana Regina!

    ResponderExcluir
  13. Nem sempre é possível...mas tudo que queremos por essa vida é acertar,,,serguir o melhor caminho...beijos querida...linda noite pra ti e uma bela quinta feira....

    ResponderExcluir
  14. Se não houver ao menos a tentativa do recomeço, aí lascou tudo, né? Se não se fizer uma autoavaliação pra saber em qual instante a canção perdeu um tanto de ritmo e a culpa não foi alheia, aí lascou também.

    Feito nos velhos tempos, aqui venho e me deito... E nem fico querendo sair.

    Beijos, Rezininha.
    Por onde andarás?

    ResponderExcluir
  15. Nossa! Tantas verdades!
    Rachaduras fazem parte, infelizmente;
    sei que conviver dá trabalho.
    E como dá!
    Não devemos desistir da Pazz do nosso dia a dia; o tempo passa para todos e...Bem, eu não posso "falar muito sobre o assunto, é delicado* é pra se viver e sentir; quem sou eu q nem consegui manter meu casamento, e sozinha estou, que droga!
    Sei não, viu!
    Triste e sem acreditar muito.
    Beijos*
    e se der faz uma visitinha, quero muito saber tua opinião lá no post. É importante(polêmico.
    Tchauzinho.

    ResponderExcluir
  16. Viver implica mudar. Onde não há mudança não há vida. E rachaduras fazem parte - assim como a argamassa do reparo, que tem que grudar bem nos dois lados da fissura.
    Beijos, menina.

    ResponderExcluir
  17. Querida amiga

    Preciosas palavras.
    Penso que nascemos
    com o corpo belo
    e a alma cheia de rachaduras.
    Com o tempo o corpo envelhece,
    mas a alma se cuidada
    se torna bela,
    e depois,
    despindo-se do corpo,
    se revela bela,
    plena,
    perfeita...



    Vamos semear esperanças pelo mundo
    com os nossos mais bonitos sonhos.

    ResponderExcluir
  18. Ei loura, bom dia!

    Depois quando puder, dá uma passadinha no Escritos. Tem mistério por lá ... kkkkkk

    "obriagada" rs
    caríssima
    bacios

    ResponderExcluir
  19. Oi Rê!
    Essas rachaduras olha ...!!!
    Tou de volta, vim deixar aqui um bj.
    Fica bem.

    ResponderExcluir
  20. Re,

    Eu tambem penso que um acordo de paz é sempre a melhor solução.

    As rachaduras são sinais evidentes que alertam para cada um cuidar com mais atenção, modificar e fazer melhorias essenciais na vida porque o tempo não perdoa, ele sempre segue em frente.

    Beijos e otimo domingo

    ResponderExcluir
  21. É isso aí Regina, conviver dá trabalho.... Mas que trabalho bom, especialmente quando aprendemos tanta coisa! Batalhas? Não, não chegamos a tanto! Costumo repetir o que já dizia Cecília Meireles: "Aprendi com a primavera a me deixar cortar e a voltar sempre inteira"

    Beijinho Regina!

    Bia
    www.biaviagemambiental.blogspot.com

    ResponderExcluir
  22. Em primeiro lugar tem de querer que de certo, nada é fácil beijo Lisette.

    ResponderExcluir
  23. Dizia-me há uns tempos atrás o nosso amigo Rui da Bica que uma relação é como uma flor, que necessita de cuidados, sempre.:)

    mil beijinhos, querida Rê

    ResponderExcluir
  24. Amiga Regina, embora tenha sumido do meu Recanto, venho aqui para dizer que não a esqueci.
    Desejo um Shaná Tová. Com meu filho acenderemos uma vela. E junto a ela rezaremos a D'us pela Paz.
    Um fraterno abraço.
    Beijos.

    ResponderExcluir
  25. Uma semana repleta de carinho e muita poesia pra ti minha amiga querida,,,beijos e flores...

    ResponderExcluir
  26. Vivência, convivência, relacionamentos... enfim, tudo é muito complexo e também concordo que a passagem da vida é bem deprimente, e se formos parar para pensar em tudo o que passou, dá uma mistura grande de sentimentos. Beijos e boa semana.

    ResponderExcluir
  27. Relevante este post/partilha...

    Tudo tem de partir de dentro, do nosso querer, seja em que circunstância for.

    Vou fixar a frase que achei adequadíssima "Sua passagem é democrática."

    Continuo no seu/meu aprndizado...

    Bjus, querida RÊ

    ResponderExcluir

Passou por aqui? Deixa um recado. É tão bom saber se gostou, ou não...o que pensa, o que vc lembra...enfim, sua contribuição!