Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

terça-feira, 30 de outubro de 2012

ALGUÉM, novamente, FALA POR MIM



Como havia combinado, hoje, partilho o outro texto. Não tem o humor do anterior, mas traz reflexão e complementa o sentir. Quem de nós nunca pensou, em algum percurso da história de vida, em de-sis-tir? Deixar prá lá? E eis que, quando o estoque de verde já sentimos esvaziado, vem uma lagarta crente de fênix ser e voa liberdade! É grande mas vale a leitura... podem acreditar. A moça, blogueira, escreve bem demais.
"Desistir. Essa parecia ser a palavra do dia. Há anos ela rodeava sorrateira, ameaçando invasão de quando em vez. Mas sabia que o momento chegara. E lá estava ela, sentada que nem índio, frente à estranha palavra: DESISTIR. Podia pensar pra ela milhões de significados. Significados grandiosos, fúnebres, assustadores. E a palavra, ali, indiferente e vazia.
O que ela não conseguia era significar aquele cansaço, porque não era um cansaço que coubesse no dicionário. Era um cansaço que arrebentava os poros, arrancava os cabelos, destruía os músculos, envergava as células, principalmente as nervosas. Cansaço acumulado por vidas a fio, que agora desaguava em desânimo. Em tardes tempestuosas, noites alcoólicas e madrugadas comatosas.
Mas, o que doíam mesmos eram as manhãs de coisa nenhuma. Nenhuma vontade. Nenhum brilho. Nenhum sonho.  Nem mesmo um mísero desespero que a incitasse a um arreganhar de dentes. Como uma velha de histórias infantis a arrastar chinelos com as puídas meias de lã arregaçadas, a se ababadar pelos tornozelos, seguia o dia por seguir, afogada em nãos e necessidades. Insatisfeitas.
Lutar. Pra quê? Por que motivos haveria ela de querer matar um leão por dia? Para extinguir o pobre animal da convivência planetária? Sua alma era água corrente que, represada tornava-se uma poça malcheirosa, onde se cultivava microorganismos perigosamente autodestrutivos. Queria ganhar caminhos desconhecidos num fluir infinito. Não viera ao mundo armada, nem mesmo com as armas de Jorge. Se desmoronava inteira na guerra, na briga, na força. Havia nela por demais delicadeza e inocência para vestir-se soldado.
Tentara por tempo demais. Agarrara-se a uma coragem irritante, a um bom-humor ridículo e à esperança. Essa sim uma dama traiçoeira. Ilusão que nos acorrenta noite, em eterna espera de que uma hora, quem sabe, amanheça.
Agora inundava o amargor de uma canção muito antiga, grudada no céu da boca, para todo o sempre sem estrelas, a repetir seu refrão: pois é, pra quê. Pra quê tanto amar, tanto mar, tantas emoções. Ao fim deste dicionário desbotado não a espera o zênite, mas o desistir. Uma corrupção indesejada da língua que põe adiante o ponto final.
Olha a palavra silenciosa à sua frente. Nada mais a dizer, move-se em direção à hora que chegara. Mas vacila, num imperceptível instante. É que habita dentro de si, misturada a seus glóbulos brancos, uma lagarta que pensa que é fênix e que a puxa pela garganta com a força de todos milhões de leões que ela se recusara a matar. Escorrendo goela abaixo, a lagarta a engasga, sufoca, lhe impede o ar. Ela, sem pensar, nem pesar, reage, "como há muito tempo não queria ousar".  E com os olhos, clichemente, saltando das órbitas, enxerga saídas, caminhos, possibilidades em todo um universo delicadamente bordado dentro de si, que de repente escancara toda a sua riqueza.
E enquanto a lagarta, pensando ser fênix tece casa em seu coração, ela abre os braços e baila, tatuando asas pelas paredes." (Cláudia Regina de Barros in www.escrivinhadeira.blogspot.com)

18 comentários:

  1. Bom texto!
    Todos nós temos essa lagarta dentro de nós... "Desanimar NUNCA!
    O caminho "nós temos que construir com a ajuda divina todas as possibilidades se abrem...(?) Momentos de desânimo acontecem pra todos. É preciso tropeçar "cair, para termos mais força "é instintivo isso...O Universo só conspira a nosso favor se fizermos a nossa parte "é só querer" *
    beiju*
    bom dia

    ResponderExcluir
  2. Que bonito esse texto amiga! Realmente tem gente muito boa nesta blogosfera, dá prazer de ler e a gente reflete também sobre esta situação conosco, pois quem de nós nunca pensou assim?!
    Hoje, dia em que se comemora a luta contra o câncer de mama, este texto e alguns comentários que tenho lido daqui e ali pelo mundo virtual, me lembram que a vida é pra ser vivida, doída ou não, mas ela é uma dádiva divina.
    um grande abraço e muitos beijinhos, cariocas.



    ResponderExcluir
  3. A Cláudia Regina entende do riscado. Viver é arriscado. Desistir de viver é morrer.
    Mas você é leoa, e não precisa matar leões...

    Beijos, querida.

    ResponderExcluir
  4. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  5. Temos altos e baixos: ou estamos em zênite- voando logo ao cosmos, ou estamos em seu oposto nadir, onde às vezes necessitamos perfurar toda a esfera terrestre, sair do outro lado (psicodelicamente) para alçar o mesmo voo.
    É quando adentramos o inferno para atingir opostamente o céu!

    ResponderExcluir
  6. Um belíssimo texto.
    Pensamento são que nem todos atingem.
    Os meus parabéns à autora.

    bji, querida Rê

    ResponderExcluir
  7. Uma noite repleta de paz e poesias pra ti minha amiga....beijos e flores e uma bela quarta feira...

    ResponderExcluir
  8. Muito lindo esse texto e reflexão que proporciona. Não podemos matar essa lagarta em nós...Desistir nunca...Vamos que vamos! beijos,chica

    ResponderExcluir
  9. Putz que texto é esse? Não consegui tirar os ohos nem por um momento sequer...

    Como eundisse há pouco, logo ali ,ontem, que ainda existe vida inteligente na blogosfera.

    Esse texto revela essa descoberta e você , loura faz parte disso!

    Blogada arrebatadora!

    Beijo Rê
    **********************************

    ResponderExcluir
  10. Olá, RÊ!

    Quem assim escreve, lindamente, está muito consciente daquilo que é, da situação em que está.E eu acho que pensar em desistir será um pensamento que ocorrerá a muita gente; que lá bem no fundo não quer morrer, apenas encontrar um pouquinho de razão, em alguém, em alguma coisa que a prenda e lhe dê a mão, lhe dê um motivo para não desejar partir.
    Partir é o fim do caminho, e depois já não dá para voltar atrás... E ainda, desistir tem sempre o sabor a derrota...bem melhor tentar ganhar este jogo!

    Beijinhos amigos; boa semana,and CHEER UP!

    Vitor

    ResponderExcluir
  11. Querida amiga, belíssimo texto, nossa lagarta interior deve renovar-se a cada dia, e nunca desistir de nada. Beijocas

    ResponderExcluir
  12. A moça realmente é boa no negócio de escrivinhá e você, que de boba não tem nada, garimpa só coisa bacaninha pra gente ler.

    E não é bom saber que, mesmo quando tudo parecer um imensurável estado de ruindade, ainda assim uma lagartinha pode dizer, sorrindo, que tudo há de melhorar? Ela mostrará e dará ânimo.

    Beijo, Rêzininha.

    ResponderExcluir
  13. To conhecendo teu blog agora e devo dizer que cheguei em boa hora.
    adorei a intensidade do texto, e falar desse ponto de vista que parece "as pessoas fogem" dele.
    gostei e compreendo a vontade de desistir. e na certa, todos em algum momento da vida já abdicaram de algo. basta pensar.


    Hey, segue de volta?
    Também adoraria que tu lesse meu último post pra deixar um comment *.*
    diademegalomania.blogspot.com

    Agradecido, Clive B.

    ResponderExcluir
  14. Olá, Regina!
    Sabe que sou seu fã e adoro seus textos, me façam eles cócegas ou não.
    Bjs!
    Rike.

    ResponderExcluir
  15. Belo texto!
    Para mim, faz muito sentido!
    Obrigado, Rê!

    ResponderExcluir
  16. Oi Rê!
    Boa leitura esta hein?!!
    Muito interessante, penso que foi feita uma reflexão muito profunda, proveniente quiçá de uma vivência sofrida.
    Gostei.
    Bjs.

    ResponderExcluir
  17. Matar a lagarta significa matar os sonhos, a esperança... Que belo texto, Regina. Bom feriado. Bjs

    ResponderExcluir
  18. Completando o comentário que deixei no post anterior, um dos processos que me mantém VIVA é mesmo a teimosia de não deixar instalar no meu idioleto o verbo desistir. Pelo contrário, são os desafios que me fazem saltar pra vida!

    Bjo, querida Rê

    ResponderExcluir

Passou por aqui? Deixa um recado. É tão bom saber se gostou, ou não...o que pensa, o que vc lembra...enfim, sua contribuição!