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Imagem Revista Veja/BH |
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Ando sem inspiração para escrever. Acontece. Em compensação excede na
vivência diária. Ajustes, fechamentos de ciclos, metas sendo alcançadas. Recebi
o texto abaixo por email da amiga, amada, Eli. A autoria é de uma moça que
conheço bem: a Cris Guerra, jornalista. Além de ser dona do 1º blog de looks diários
do Brasil (Hoje vou assim), frequentou a Casa do Richard. Também escreveu um
livro que teve sua semente em outro blog nomeado Para Francisco. Vale demais a
leitura pessoal. A crônica abaixo é uma homenagem linda a todas as mulheres. E
a gente se identifica que só! Espero que gostem!
"Dizem: quando nasce um bebê, nasce uma mãe também. E um polvo. Um
restaurante delivery. Uma máquina de chocolate prontinho. Uma mecânica de
carrinhos de controle remoto. Uma médica de bonecas. Uma
professora-terapeuta-cozinheira de carreira medíocre. Nasce uma fábrica de
cafuné, um chafariz de soro fisiológico, um robô que desperta ao som de choro.
E principalmente: nasce a fada do beijo.
Quando nasce um bebê, nasce também o medo da morte – mães não se
conformam em deixar o mundo sem encaminhar devidamente um filho.
Não pense você que ao se tornar mãe uma mulher abandona todas as
mulheres que já foi um dia. Bobagem. Ganha mais mulheres em si mesma. Com seus
desejos aumentam sua audácia, sua garra, seus poderes. Se já era impossível,
cuidado: ela vira muitas. Também não me venha imaginar mães como seres
delicados e frágeis. Mães são fogo, ninguém segura. Se antes eram incapazes de
matar um mosquito, adquirem uma fúria inédita. Montam guarda ao lado de suas
crias, capazes de matar tudo o que zumbir perto delas: pernilongos, lagartas,
leões, gente.
Mães não têm tempo para o ensaio: estreiam a peça no susto. Aprendem a
pilotar o avião em pleno voo. E dão o exemplo, mesmo que nunca tenham sido
exemplo. Cobrem seus filhos com o cobertor que lhes falta. E, não raro, depois
de fazerem o impossível, acreditam que poderiam ter feito melhor. Nunca estarão
prontas para a tarefa gigantesca que é criar um filho – alguém está?
Mente quem diz que mãe sente menos dor – pelo contrário! Ela apenas
aprende a deixar sua dor para outra hora. Atira o seu choro no chão para ir
acalentar o do filho. Nas horas vagas, dorme. Abastece a casa. Trabalha.
Encontra os amigos. Lê – ou adormece com um livro no rosto. E, quando tem tempo
pra chorar – cadê? -, passou. A mãe então aproveita que a casa está calma e vai
recolher os brinquedos da sala. “Como esse menino cresceu”, ela pensa, a
caminho do quarto do filho. Termina o dia exausta, sentada no chão da sala,
acompanhada de um sorriso besta.
Já os filhos, ah… Filhos fazem a mãe voltar os olhos para coisas que não
importavam antes. O índice de umidade do ar. Os ingredientes do suco de
caixinha. O nível de sódio do macarrão sem glúten. Onde fica a Guiné-Bissau. Os
rumos da agricultura orgânica. As alternativas contra o aquecimento global.
Política. E até sua própria saúde. Mães são mulheres ressuscitadas. Filhos as
rejuvenescem, tornando a vida delas mais perigosa – e mais urgente.
Quando nasce
um bebê, nasce uma empreiteira. Capaz de cavar a estrada quando não há caminho,
só para poder indicar: “É por ali, filho, naquela direção”." (Publicado na Veja/BH)