O prefixo “re-“, de origem latina, pode ter segundo a nossa gramática, três sentidos: repetição (recarregar, rever, repensar), reforço (revirar, revidar,revirar), retrocesso, recuo (reiniciar, retornar,reflorestar).
Em sua clínica, Freud se deparava com aquilo que insistia, que não cessava em buscar se fazer dizer, que provinha do passado, que não encontrava seu caminho em direção à consciência e que redundava na formação do sintoma. A repetição foi, assim, se transformando, ao longo do percurso freudiano, de um fenômeno clínico a um conceito de grande importância: a compulsão à repetição.
Em Recordar, Repetir e Elaborar, de 1914, Freud destaca: “o que nos interessa, acima de tudo, é, naturalmente, a relação desta compulsão à repetição com a transferência e com a resistência”. Sob o efeito da resistência, o paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e recalcou, mas o expressa pela atuação ou acting out. Repete não como lembrança, mas como ação e sem saber que está repetindo.
Mais tarde, em 1920, Freud se deparou com um impasse ao perceber que havia algo que se repetia “Para Além do Princípio do Prazer”. Deu-se conta de outra espécie de satisfação que se dá no nível da pulsão e que desafia os princípios do prazer e da realidade. Foi este o momento da formulação do conceito da pulsão de morte. Mas nesse momento não me estendo aqui.
Lacan fez da repetição um dos quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Ele afirma que a repetição nunca é a repetição do mesmo. Há invariavelmente algo novo: “O que se repete é sempre algo que se produz.” (Lacan) Ou seja, é diferente da reprodução.
O que se repete é o real, que volta sempre no mesmo lugar, em que o sujeito procura e não acha. Isso se articula com o gozo que “...encontra sua origem na busca, tão repetitiva quanto inútil, do momento de satisfação de uma necessidade, que só se constitui como demanda no só-depois da resposta que lhe foi dada.”(Lacan)
Em Lacan, a repetição se articula com a subjetividade e está relacionada com poder fazer outra coisa com aquilo que, inicialmente, levava o sujeito ao sintoma. “Não existe uma resposta racional no sentido do entendimento. Só existe uma resposta necessária: fazer uma ação perante isso”. (Forbes) Assim, cada sujeito, em sua singularidade, dispõe da possibilidade de fazer algo novo.
Foi imbuída dessa possibilidade que me foi necessário repetir, recuar e reforçar para poder fazer outra coisa, que não sintoma(s).
De todos os apelidos que fui ganhando ao longo da minha vida (Rainha, Gina, Regis, Rex, Ré, Leoa,Guerreira) Rê foi e é aquele mais usado, carinhosamente, pelos amigos, familiares, ao me chamarem. Também foi o que mais internalizei, e hoje, talvez, tenha descoberto o porquê! Nele está incluído os tres sentidos desse prefixo latino: repetição, reforço, retrocesso. Assim após um tempinho revendo, refazendo, recarregando, volto a me reunir, reintegrar, religar, reconectar com todos vocês, amados, meus. Reinicio, tentando retribuir o carinho que me foi dedicado, de maneiras singulares, repartindo minha alegria nesse renascimento, reatando os laços de amizade e reassumindo com todos vocês o nosso Divã. O B R I A G A D A!!!
"RÊ"COMEÇAR SEMPRE...