Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

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sábado, 11 de fevereiro de 2017

ESCOLHAS DE SER

Ondas elevam-se e, em seguida, arrebentam-se. Entre uma e outra, fica uma lacuna, um fragmento de segundo, em que o que há é o nada. Mas o tempo passa e outra onda sempre vem... E vai. Como, aliás, quase tudo na vida. Na transitoriedade dos momentos, o que há de perene é o espírito, são os sentimentos, é o conhecimento. O resto passa. E se quase tudo passa, neste sábado que parecia vazio de opções, escolhi o bonito e mais duradouro para mim. E o leque da felicidade se abriu em escolhas.
Primeiro, uma tarde de cochilo merecido, que não foi bem uma escolha, mas um imperativo do cansaço de noites insones. Depois do sono, banho morno com aquele sabonete especial, roupa velha, de ficar em casa, mas que conta histórias se falasse. Um canto ventilado, uma taça de vinho e a constatação, abismada, que já estou no segundo mês de um novo ano. Assim, como só acontece quando se desacelera, o tempo passou a fluir.
Aproveitar o tempo não tinha mais importância e eu fui chegando mansa de onde estava brava, lá, onde a vida me ocupou demais. Desocupei-me felizmente.
Fiquei feliz. Nesse sentimento, não tinha nada de euforia, de alegria, do entusiasmo de um encontro inesperado. Tinha a paz de ser e a opção de estar. Primeiro, fiquei quieta, observando, para não assustar a fera em repouso. Depois movi-me devagar...
 
Devagar e sem premeditar, fui até a gaveta dos bons guardados e, de lá, resgatei  um incenso suave, uma vela de mel, presentes de pessoas queridas. 
O meu canto ganhou vida e minha vida mais sentido. 
Reencontrei um CD que pensei desaparecido e senti a eternidade soar em mim. Viver com o coração aberto é ter boa companhia. 
De um jeito ou de outro, algumas pessoas estiveram comigo e eu compartilhei minha felicidade com um mundo de gente. Sinta-se comigo também, porque estou em cada palavra.

sábado, 25 de junho de 2016

TUDO PELA ESSÊNCIA



Tenho um dom ou uma maldição. Ainda não sei bem. Meu olfato é dos meus sentidos, o mais sensível e apurado. Sinto os aromas e suas nuances a léguas de distância. Distingo notas. Defino os componentes. Quando em excesso, minha alma grita! Na falta, clama por mais. Foi assim que aprendi a distinguir as essências!
Não perca sua essência. Pode entender essência como perfume. Pode. Leia então: não perca seu perfume. Não perca o que te dá personalidade; o que vem de você chega suavemente, e agrada; o que traduz quem você é, suas crenças, seus valores, seu humor mais presente, sua fala mais convincente. Seu perfume, como o perfume que vem em frascos, não pode ser um exagero. Isso é deselegância em todos os sentidos.
Não perca seu perfume significa preservar raízes, eleger o que pode ser cultivado a vida inteira e que fica melhor com o tempo, mais leve, mais suave, mais bonito. Na minha rua tem um pé de jasmim que nunca deu flores. Passo por ele e vejo uma planta bonita, verde, viçosa, mas também vejo incompletude. Fico imaginando como seria passar e ser inspirada pelo perfume. Passo por algumas pessoas e sinto a mesma falta de flores. Fazer o que? Seguir em frente na torcida que um dia floresça.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

MÁGICO E MARAVILHOSO 2016





Não tem jeito, não dá para começar o ano a 100 por hora. É preciso engatar a primeira, pensar na vida, nos planos e sonhos, renovar o ânimo e, então, acelerar. Sei, por experiência, que fazer uma boa faxina, além de preparar a casa, de dar espaço para o novo entrar, também ajuda a organizar as ideias. Limpando, jogando fora, reciclando, lustrando e renovando... É assim que eu começo o ano. Bem devagar por enquanto.
Por que colocar o foco no futuro, se tudo o que se tem é o agora? Ah, vamos viver a vida! Dia após dia, hora após hora, minuto após minuto. Agora: o que conta é isso. O que você está fazendo pelo seu momento? Ser tudo o que se é, em cada atitude e a todo o momento, é a chave do otimismo. É possível a gente se preocupar menos e ser mais. Claro que é.
Ouço a música e fico atenta ao trecho em que o compositor declara: "viver é tão raro!" O pensamento que, mais do que tudo, é atitude e tem a ver com o momento presente, com o estar atento para as raridades do viver, leva-me a outras elucubrações. Penso que é raro a gente acordar para ver o dia nascer e se sentir em paz com o tempo que tem. É raro desfrutar com calma um bom prato, sem preocupações com o relógio, com as calorias ou com agrotóxicos, apenas explorando as alegrias do paladar. É raro acordar no meio da noite, abrir os olhos, ver o ambiente conhecido e voltar a dormir na paz dos que encontram o seu canto. É raro olhar para o lado e se encantar com a beleza e com o afeto de uma presença companheira e amiga. Também é rara a percepção da leveza de um andar sem dor, raridade que só o convalescente sabe dar valor. São raros os momentos em que os braços se alargam para o aconchego de um abraço, quando os ouvidos captam nas palavras costumeiras a tradução de um afeto verdadeiro e quando a boca se cala pelo incomunicável. É rara a percepção da respiração, do ar que entra, revitaliza e dá vida até o último suspiro.
São muitas as raridades. E cada um tem a sua lista. A minha poderia continuar longa, mas o tempo é raro e eu vou ali desfrutá-lo. Deixo a inspiração: "Vai, aproveita a vida!" O que há de raro neste momento, se não ele mesmo?"
E eis que a página foi virada. Começa a história do ano de 2016. Hoje é apenas o décimo quarto dia e relembro nos escritos recebidos e enviados dezenas de propostas, desejos e de promessas de mudanças misturadas aos votos de felicidades. Ecoam ainda nas mensagens recebidas incentivos aos novos passos e aclamações às novidades. A sintonia é o novo. Assisto a isso como quem assiste a uma reprise. Então, acostumada por Urano ao movimento contrário, cismo em olhar para o outro lado. 
Volto minha atenção para o passado, para o velho e bom da vida. E digo: este ano, vou valorizar meus ganhos, meus guardados, meus bons hábitos, meus velhos amigos do peito, meu baú de memórias, minhas conquistas, a força cultivada pelo tempo e os meus rastros.  
Claro, é preciso seguir em frente, dar espaço para novidades estimulantes, desafiadoras, engrandecedoras. Essas vou investigar bem de perto, lembrando que tudo o que é grande de verdade  não elimina – até enaltece – a força do velho.
Um novo negócio exige a velha experiência; um novo passo exige a firmeza do passo consolidado. Sim, optei por mudar a sintonia. Sintonizei com o antigo, com o guardado, com o que é velho, agradável ao corpo, à alma e aos olhos. Fiquei aliviada. Mais do que isso, fiquei grata! Deve ser bom começar o ano assim. Começo rica, começo vencedora, começo firme, começo sábia.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Segunda-Feira Calada





Comecei a segunda-feira assim, devagar, mas inspirada. Tudo sempre dá certo quando respeito o meu ritmo. Então, ouço uma canção, passeio pela casa como quem não quer nada, saboreio um pedaço de manga e encaro a contabilidade chata. No final, vivencio a satisfação de dar conta.
Eu estava ali, circulando pela casa, concentrada na pequenez gostosa de afazeres que pouco importam como molhar uma planta sedenta, limpar a poeira de um canto que não habito jogar ervas secas na água quente e ficar ali, admirando o chá tomar cor. Na verdade, eu apenas adiava a hora do trabalho, buscava inspiração nesse nada. E estava feliz com tanto bem-estar sem causa.
Às vezes são carícias. Outras, inspiração para algo mais bonito. Acontece de ser como luz em meio a sombras, traçando um sentido, um rumo. É triste quando são vazias. Mais triste quando são flechas lançadas ao acaso. Não existe explicação para as impensadas. Pesam como pedra quando resolvemos carregá-las com fé cega. Na maioria das vezes são dispensáveis. E a vida faz-se delas. Usamos o tempo todo em pensamentos, atos e omissões. Talvez por acreditar que, como personagens da história, temos que ter roteiro e muitas falas. Ninguém quer ser o coadjuvante mudo. A estratégia é falar muito. Hoje acordei atenta às palavras. Também não uso sempre a palavra mais certa. Ocorre de usar palavras que ferem. Ocorre de ser frouxa como mel escorrendo pela boca. Ocorrem vômitos de palavras engolidas a contragosto. E também palavrões. Sobra o quê? Confidências suspeitas, mentiras gentis, citações aprováveis, besteiras do dia-a-dia, como o leite derramado... Talvez seja hora de calar para a alma. Calo-me e cito uma frase de Barry Stevens do livro Não apresse o rio – ele corre sozinho, o mais zen que eu já li:
 “Como criança, eu sentia fome 

antes de conhecer as palavras que rotulam tudo isso. 

Eu sentia. 

Agora, quase só uso palavras 

e não sinto quase nada.”
Fiquei com fome de dizer:
Quando eu me calar no coração, 

ouça-me com os olhos.