Sou não. Melhor dizendo, não
sou. Descubro nas evidências dos dias que os meus opostos, as minhas faltas,
carências, dificuldades e os meus avessos me definem tão bem quanto minhas
afirmações, realizações, escolhas, aptidões e talento.
Para todo não, existe um sim e
eu vou completando a figura retorcida pelos caminhos da vida, como a figura de
yin e yang. Lado negro, cabeça para baixo, regresso e retrocesso. Desse modo,
não sou yin. Não sou e não gosto. Mas aprendo que dar e receber, ouvir e falar,
calar e dar o grito, acertar e errar, ser feliz e sofrer fazem parte do
movimento.
Já tive receio da roda da
fortuna, quando se torna descendente e me remete para longe dos altos a que
aspiro. Depois, descobri que lançar fora o que não me cabe apenas me deixa mais
próxima de quem eu quero ser. Digo não agora: não sou santa nem beata, não sou
dura nem madura, não sou dona nem quero, não sou rica nem renúncia, não sou
alegre que nem gargalhada, não sou triste nem cinza, não sou sexta nem de
segunda, não sou ida nem volta, não sou distância percorrida, não sou dia nem
noite, não sou madrugada, não sou bicho do mato nem cidade, não sou daqui nem
de lá, não sou ocidente nem me oriente...
Não quero e não me defino.
Encho
a página de palavras e me esvazio.
Quanto menos eu sou, mais o mundo me é. No
paradoxo do copo meio cheio, meio vazio, sou mais de mim nos nãos, senãos e nas
promessas de algum sim, até que a morte nos separe. Viva la vida!