Conheci Frei Cláudio através da minha sogra. D.Dora fez parte da paróquia da Igreja Nossa Senhora do Carmo prestando serviço voluntário - ensinando bordados, tricô e crochê – até
na semana de sua morte. Foi em 1984 que, através dela, conheci Frei Cláudio e suas idéias inovadoras. Entre tantas a criação e o funcionamento de um ambulatório de Psicologia. Queria que atendêssemos crianças, adolescentes e respectivos pais. Mesmo sendo uma prestação de serviços à comunidade carente, Frei Cláudio já sabia que para esse atendimento funcionar, um tipo de pagamento deveria existir. Recebíamos um valor que fosse "simbolicamente" significativo para os clientes: em cruzeiros, ovos caipiras, legumes e hortaliças, frangos, bolos, biscoitos, panos de prato com bico de crochê, mas recebíamos. Nos anos que ali fiquei e das reuniões semanais com ele, muito aprendi e até hoje carrego comigo, sua maneira de ouvir, doação, amor, realização de sonhos "impossíveis" e firmeza em seus atos.
Hoje os serviços prestados - em sua paróquia – cresceram muito e as pessoas ali atendidas e beneficiadas são maiores ainda.
Recebi essa mensagem ontem e não pude acreditar e sem créditos desejaria anular. Mera força de expressão para dar voz à minha perplexidade, incredulidade. Essa carta foi escrita pelo famoso Frei Betto e diz, de maneira linda, quem é Frei Cláudio e o que está ocorrendo com ele, sua paróquia e seus párocos. É impressionante – e nunca vou me acostumar – como só fazem atrapalhar e desconstruir o trabalho dedicado e irrepreensível de décadas! Como inovação gera repreensão, medo e até mesmo abolição. Será em nome dos bons costumes da T.F.M. (Tradicional Família Mineira) e da visão/ facção de uma Igreja medieval que Frei Cláudio irá “queimar” junto às bruxas? Não me cabe - nem competência tenho - julgar qualquer posição da Igreja em relação aos assuntos exaustivamente escritos e discutidos em todos os meios de comunicação: homossexualidade, divórcio, aborto, células- tronco, pílula, celibato, crimes de pedofilia e abusos sexuais, etc. Mas, me reservo o direito de dizer que, a igreja católica é hoje vista, por muitas pessoas religiosas, como uma instituição dedicada à defesa do preconceito tolo, em vez de se dedicar à promoção da vida espiritual! E ainda o direito de dizer: FREI CLÁUDIO: TÔCOMVOCÊENÃOABRO e com todo o meu respeito AMO VOCÊ DE VIVERRRRR!!!
“Pessoas não são descartáveis. Muito menos quando se trata de um frade da venerável Ordem dos Carmelitas que abandona o conforto de sua terra, a Holanda, para servir à comunidade cristã numa paróquia de Belo Horizonte.
Falo de frei Cláudio van Balen, ordenado sacerdote há 50 anos e brasileiro de coração há 44. Ruivo, espigado, gestos decididos e orador de frases curtas e contundentes, o bom humor faz de frei Cláudio um dos melhores contadores de piadas que conheço. Talvez esse seja o segredo de sua perene jovialidade. Desde que o conheci, na década de 1970, tem a mesma alegria de viver.
Escritor profícuo, autor de inúmeras obras de espiritualidade e liturgia, pároco da Igreja Nossa Senhora do Carmo, frei Cláudio jamais foi um mero burocrata da fé, como certos padres que se restringem a cumprir horários de missas dominicais e a agenda paroquial de batizados e casamentos. Quase nunca tem tempo para visitar seu rebanho, em especial a parcela mais pobre.
Há párocos do “venhais vós ao nosso reino”. Jamais se preocupam de, espontaneamente, ir ao encontro de seus paroquianos. Frei Cláudio é um pastor dedicado às suas ovelhas. Visita com freqüência as famílias da paróquia nos bairros Carmo e Sion. Em especial, aquelas que se encontram em dificuldades.
Quando estive preso, sob a ditadura militar, ao longo de quatro anos, frei Cláudio me animava com suas generosas cartas, publicada em Cartas da prisão (Agir), e visitava meus pais, seus paroquianos, quase toda semana.
Corre a notícia de que, por discordar da ação pastoral de frei Cláudio, a Arquidiocese de Belo Horizonte teria dado a ele prazo para abandonar a paróquia do Carmo até dia 31. Será que há diálogo entre o colégio episcopal e o conselho paroquial do Carmo?
Frei Cláudio teve oportunidade de se defender das suspeitas que pesam sobre ele (é acusado de ser demasiadamente heterodoxo em suas pregações e nos boletins dominicais) e apresentar as razões de sua inovadora ação pastoral?
A Paróquia do Carmo é um dinâmico centro de evangelização e serviços prestados à população carente. Ali trabalham 82 funcionários e 316 voluntários! Entre os vários serviços destacam-se: Pastoral da Saúde, que beneficia crianças de até seis anos (e já fez quase 30 mil atendimentos); Centro de Atendimento Terapêutico (psicoterapia, orientação profissional e fonoaudiologia); Pastoral da Promoção Humana (alfabetização de adultos); Projeto Conviver (crianças e adolescentes em situação de risco); Bazar da Vovó (idosas); Clube de Mães; biblioteca; Centro de Atendimento Jurídico (às famílias pobres de vilas e favelas); Escola Profissional (informática, digitação, eletricidade, mecânica de automotores, massagem para a terceira idade etc.); ambulatório; Bazar da Família (venda de produtos a preços simbólicos); Equipe de Costura; Creche do Morro do Papagaio (65 crianças); Creche Terra Nova (100 crianças); e Instituto Zilah Spósito (334 crianças e adolescentes em situação de risco).
De janeiro a novembro de 2009, a Paróquia do Carmo arrecadou – com dízimos, aluguéis, doações e eventos – R$ 1.468.026 e gastou com projetos sociais e despesas administrativas R$ 1.507.745. Tudo ali é transparente, como os serviços e a contabilidade.
No sínodo dos bispos em 1971, em Roma, um arcebispo africano apresentou a seus pares, por documentário, a liturgia em sua diocese. O filme mostrava um tronco de árvore, cortado quase rente à raiz, como altar. Em volta, negros de tanga tocando tambores e negras, com os seios à mostra, dançando na missa. Um cardeal romano protestou indignado: “Isso é uma blasfêmia. Não é a liturgia da Igreja.” O africano reagiu calmamente: “Pode não ser a de Roma, mas da Igreja é. Porque se nós africanos tivéssemos evangelizado a Europa, a esta hora todos os senhores estariam dançando desnudos em volta do altar.”
Esta a questão: a atividade pastoral de frei Cláudio van Balen contradiz a Igreja Católica? Nem o próprio Jesus quis uniformidade em sua igreja. Não são quatro os evangelhos? Vejam as brigas entre Pedro e Paulo na Carta aos gálatas. A pluralidade de métodos de evangelização é uma riqueza. A tolerância, uma virtude. O diálogo, a via mais fácil para as pessoas se entenderem."
(Frei Betto é escritor, autor de Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/.)
“Pessoas não são descartáveis. Muito menos quando se trata de um frade da venerável Ordem dos Carmelitas que abandona o conforto de sua terra, a Holanda, para servir à comunidade cristã numa paróquia de Belo Horizonte.
Falo de frei Cláudio van Balen, ordenado sacerdote há 50 anos e brasileiro de coração há 44. Ruivo, espigado, gestos decididos e orador de frases curtas e contundentes, o bom humor faz de frei Cláudio um dos melhores contadores de piadas que conheço. Talvez esse seja o segredo de sua perene jovialidade. Desde que o conheci, na década de 1970, tem a mesma alegria de viver.
Escritor profícuo, autor de inúmeras obras de espiritualidade e liturgia, pároco da Igreja Nossa Senhora do Carmo, frei Cláudio jamais foi um mero burocrata da fé, como certos padres que se restringem a cumprir horários de missas dominicais e a agenda paroquial de batizados e casamentos. Quase nunca tem tempo para visitar seu rebanho, em especial a parcela mais pobre.
Há párocos do “venhais vós ao nosso reino”. Jamais se preocupam de, espontaneamente, ir ao encontro de seus paroquianos. Frei Cláudio é um pastor dedicado às suas ovelhas. Visita com freqüência as famílias da paróquia nos bairros Carmo e Sion. Em especial, aquelas que se encontram em dificuldades.
Quando estive preso, sob a ditadura militar, ao longo de quatro anos, frei Cláudio me animava com suas generosas cartas, publicada em Cartas da prisão (Agir), e visitava meus pais, seus paroquianos, quase toda semana.
Corre a notícia de que, por discordar da ação pastoral de frei Cláudio, a Arquidiocese de Belo Horizonte teria dado a ele prazo para abandonar a paróquia do Carmo até dia 31. Será que há diálogo entre o colégio episcopal e o conselho paroquial do Carmo?
Frei Cláudio teve oportunidade de se defender das suspeitas que pesam sobre ele (é acusado de ser demasiadamente heterodoxo em suas pregações e nos boletins dominicais) e apresentar as razões de sua inovadora ação pastoral?
A Paróquia do Carmo é um dinâmico centro de evangelização e serviços prestados à população carente. Ali trabalham 82 funcionários e 316 voluntários! Entre os vários serviços destacam-se: Pastoral da Saúde, que beneficia crianças de até seis anos (e já fez quase 30 mil atendimentos); Centro de Atendimento Terapêutico (psicoterapia, orientação profissional e fonoaudiologia); Pastoral da Promoção Humana (alfabetização de adultos); Projeto Conviver (crianças e adolescentes em situação de risco); Bazar da Vovó (idosas); Clube de Mães; biblioteca; Centro de Atendimento Jurídico (às famílias pobres de vilas e favelas); Escola Profissional (informática, digitação, eletricidade, mecânica de automotores, massagem para a terceira idade etc.); ambulatório; Bazar da Família (venda de produtos a preços simbólicos); Equipe de Costura; Creche do Morro do Papagaio (65 crianças); Creche Terra Nova (100 crianças); e Instituto Zilah Spósito (334 crianças e adolescentes em situação de risco).
De janeiro a novembro de 2009, a Paróquia do Carmo arrecadou – com dízimos, aluguéis, doações e eventos – R$ 1.468.026 e gastou com projetos sociais e despesas administrativas R$ 1.507.745. Tudo ali é transparente, como os serviços e a contabilidade.
No sínodo dos bispos em 1971, em Roma, um arcebispo africano apresentou a seus pares, por documentário, a liturgia em sua diocese. O filme mostrava um tronco de árvore, cortado quase rente à raiz, como altar. Em volta, negros de tanga tocando tambores e negras, com os seios à mostra, dançando na missa. Um cardeal romano protestou indignado: “Isso é uma blasfêmia. Não é a liturgia da Igreja.” O africano reagiu calmamente: “Pode não ser a de Roma, mas da Igreja é. Porque se nós africanos tivéssemos evangelizado a Europa, a esta hora todos os senhores estariam dançando desnudos em volta do altar.”
Esta a questão: a atividade pastoral de frei Cláudio van Balen contradiz a Igreja Católica? Nem o próprio Jesus quis uniformidade em sua igreja. Não são quatro os evangelhos? Vejam as brigas entre Pedro e Paulo na Carta aos gálatas. A pluralidade de métodos de evangelização é uma riqueza. A tolerância, uma virtude. O diálogo, a via mais fácil para as pessoas se entenderem."
(Frei Betto é escritor, autor de Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/.)