Esperta é a vaca que já nasce malhada e não precisa fazer musculação!
Quando
quatro amigas - que há muito não se viam - sentam ao redor de uma mesa com comidinhas
e bebidinhas deliciosas é prosa pra mais de horas. A língua chega a ficar
dormente e as bochechas doloridas de tanta risada. Mas há que se ter um certo
treinamento para acompanhar o conversê, pois da mesma maneira que fazemos
quatro coisas ao mesmo tempo, os assuntos pipocam de forma desordenada. Uma
começa, a segunda aborda outro assunto, a terceira responde perguntando a
primeira e a quarta tenta coordenar a balbúrdia. Quem observa de fora é capaz
de enlouquecer. Se for homem então? Sai de fininho com interrogação tatuada
bem no meio da testa. Tudo começa bem civilizado. Teatro, cinema, viagens,
trabalho, filhos, família, até chegar às últimas novidades descobertas com a
idade. Virgínia* começa contando que estava no salão quando entrou uma
senhorinha vendendo soutiens italianos. Curiosa foi logo se decepcionando com a
falta de armação - ou sustentação se preferir – dos mesmos e lascou na moça
vendedora:
“Minha querida, quem tem samambaias
choronas jamais pode usar um desses!” Meus peitos já foram nomeados por quase
todo o hortifruti – limões, laranjas, melões - mas de samambaia e chorona foi
primeira vez. Lembrei-me da varanda da casa de mamãe e elas lá, caindo
maravilhosas até o chão. Renata* desabafa sua insônia - e consequentes olheiras
de urso panda – além de confidenciar que não usa mais camisolas de renda. Como
assim? Perguntamos. “Você vai dormir lisa e acorda estampada. A renda fica
desenhada no seu corpo. Aliás, até a fronha tem me marcado. Isso é coisa da
idade – tudo marca!” E a moça ainda canta Chico: Quero ficar no teu corpo, feito tatuagem, que é pra te dar
coragem, pra seguir viagem.... É, o tempo passa, mas também
amassa! Letícia* dando outro tom na prosa – chorosa – diz estar se sentindo uma
ONG. E nós: como assim? “Não sei explicar direito, mas é como se a gente
deixasse de ser mulher pra virar uma entidade, uma instituição, uma
organização, uma repartição pública, talvez. Sabe aquela coisa que tem uma
função na sociedade, cumpre um papel, presta um serviço, mas a que ninguém dá
atenção, ninguém admira, ninguém vê direito? É assim que eu me sinto. Sou uma
boa profissional, uma ótima ex-mulher, uma amiga pra todas as horas, uma cidadã
correta, mas, como mulher, ninguém me enxerga mais. Lembram quando uma mulher
madura passava na rua e um ou outro homem brincava que não era rei, mas gostava
de uma coroa? (Me lembrei na hora e nem faz tanto tempo assim...início do divã rsrs) Hoje, nem isso!”A gente tem que rir disso tudo.
Senão, além de velhas, vamos ficar emburradas?! Esses desabafos - com a escuta
solidária – servem mais que qualquer botox, preenchimento, aspiração, etc e
tal. E não abro mão, viu mininas?! Sigamos em frente na arte de bem envelhecer.
No cardápio diário muitos quilos de humor. Fica tudo tão leve que até nos
esquecemos desses detalhes!
(* nomes fictícios)