Deve ser porque andei
distraída por aí e muito confiante no meu passo. Ou pode ser porque o trem
resolveu acelerar sem aviso prévio. Quando vi, quase tudo estava fora do ritmo.
Perdi o rumo, mas foi só por um tempo. Agora, respiro fundo e vou tentando acertar
na dança. Mas tudo isso são apenas suposições para esses dias estranhos. Certo
mesmo é que é difícil e desafiador abrir o peito, os braços e os olhos para
viver a vida que eu quero.
Soa o apito e os passageiros
se agitam. Com ou sem bagagem, preparados ou não, em êxtase ou entediados,
ouvem o trem anunciar a partida.
Não há tempo para despedidas. –
Senhores passageiros, ocupem seus lugares!
A frase, a mesma de todas as estações, soa como ordem ou convite, conforme a disposição. E lá se vão os passageiros. É gente entre gente. Multidão, coletivo de olhares, de gestos condicionados e esbarros. Multidão, eufemismo para anônimos, condição dos passageiros. Juntos no mesmo trem, prontos para seguir. Os curiosos sentam-se à janela e olham. Lá fora, há uma paisagem diferente, há a cena em movimento. Esses não medem distância nem tempo, não pensam onde vão chegar, apenas aproveitam. Oh, viajar pode ser tão estimulante!
Os assustados, aqueles que temem o destino, encolhem-se graves no assento. Há muita incerteza a esconder. Já os presunçosos se agitam, questionando a existência do maquinista, dos trilhos e do trem. Depois, assentam-se altivos como líderes. Só não se sabe líder de quê.
A frase, a mesma de todas as estações, soa como ordem ou convite, conforme a disposição. E lá se vão os passageiros. É gente entre gente. Multidão, coletivo de olhares, de gestos condicionados e esbarros. Multidão, eufemismo para anônimos, condição dos passageiros. Juntos no mesmo trem, prontos para seguir. Os curiosos sentam-se à janela e olham. Lá fora, há uma paisagem diferente, há a cena em movimento. Esses não medem distância nem tempo, não pensam onde vão chegar, apenas aproveitam. Oh, viajar pode ser tão estimulante!
Os assustados, aqueles que temem o destino, encolhem-se graves no assento. Há muita incerteza a esconder. Já os presunçosos se agitam, questionando a existência do maquinista, dos trilhos e do trem. Depois, assentam-se altivos como líderes. Só não se sabe líder de quê.
Há os que se divertem.
Circulam pelos corredores, arriscam-se, encenam um show e contam casos, falam
de outras bagagens, de outra gente, de outros lugares, inventam histórias
fantásticas e, no final, aguardam os aplausos. Essa gente teme o descaso.
Há moças tímidas, senhoras distintas, senhores oficiais, homens de bem, homens do mal, há meninos esquecidos, jovens esquisitos, bonecas antigas, idosos aflitos... Há passageiros muito interessantes nesse trem. Olho em volta e percebo o vagão em que estou.
Há moças tímidas, senhoras distintas, senhores oficiais, homens de bem, homens do mal, há meninos esquecidos, jovens esquisitos, bonecas antigas, idosos aflitos... Há passageiros muito interessantes nesse trem. Olho em volta e percebo o vagão em que estou.
Há gente nova por aqui. Ainda me ajeitando no
assento, entristeço-me, porque algumas pessoas não embarcaram comigo. Nem tive
a chance de me despedir. Mas a viagem me emociona tanto que, depois da curva,
recomponho-me com entusiasmo.
Percebo que está tudo certo, cá está a minha
bagagem. Trago-a grande e preciosa. Embalei para viagem as lembranças todas... o
que foi realizado, o que aprendi, os sonhos antigos e, claro, dei bom espaço
para os novos.
Talvez, você que me lê agora, esteja no mesmo vagão desse trem.
Então, veja, eu sou a moça ao lado, aquela que olha para fora e vê
possibilidades adiante. Sou aquela que escreve num papelzinho o destino, para
não esquecer que viajar é outra história.
Antes que o trem nos surpreenda com
outra estação, antes que nos separe e convoque para um novo embarque imediato
sem que possamos dar adeus num abraço, vamos nos sentar aqui e trocar
confidências, vamos somar descobertas, vamos aprender a verdade de que a viagem
ainda não chegou ao fim.