
Então
nesse próximo domingo é dia das mães. A segunda data, depois do natal, ansiada
pelos comerciantes. Eu, que nunca fui fã de dias de, não me importava, nem um
cadiquim, de sair pelo comércio da cidade em busca de mais um presente especial
para minha Pãe. Gostava de viver aquela confusão entre as seis filhas de D.Lucy
decidindo como e onde passaríamos. Eram sugestões das mais variadas e cada uma
tentando valer a sua. No final dava tudo certo: filhas, genros, netos e
bisnetos reunidos numa mesa onde a alegria imperava e D.Lucy reinava absoluta.
Ela tinha um gosto nesses encontros que sempre nos lembrava, temerosa, que com
sua ausência isso deixasse de acontecer. Não mãe! Nesses quatro anos, de
saudades diárias, seu legado continua a se reunir para além de dias de. Só não lhe
asseguro que algumas lágrimas-saudades não rolem. Mas sei que, de onde está,
você as recolhe transformando-as em doces. A doçura de quem sempre soube
celebrar a vida. A todas as mães, que pariram ou não, meu carinho e amor para
além desse dia! A vocês que ainda as tem ao seu lado um pedido: dê-lhes um
beijinho dizendo que é meu! Isso é um abusar consentido de mãe alheia... E
vocês, generosas, permitirão. Compartilho
ainda, abaixo, um texto que “resume” bem essa nossa função. FELIZ DIA(s) PARA VOCÊ(s)!


“Mãe é aquele ser estranho, louco, capaz de heroísmos, dramas e breguices com a mesma fúria.
Mãe faz escândalo, tira satisfação com professor, berra em público, dá vexame, deixa a gente sem graça, compra briga; é espaçosa, barulhenta, tendenciosa, leoa, tiete, dona da gente. Mãe desperta extremos, ganas, irrita, enlouquece, mas... é mãe.
Mãe faz promessa, prestação, hora extra pra que a gente tenha o que é preciso e o que sonha.
Paga mico: escreve carta para Papai Noel, se faz passar por fadinha do dente, coelho da páscoa, cuca.
Pede autógrafo para artistas deploráveis, assiste a programas, peças, shows horríveis, revê milhares d e vezes os mesmos desenhos animados, conta as mesmas histórias centenas de vezes, vai pra Disney e A D O R A!
Mãe surta, passa dos limites, às vezes até bate, diz coisas duras; mãe pede desculpas, mortificada...
Mãe é um bicho doido, louco pela cria.
Mãe é visceral!
Mãe chora em apresentação de balé, em competição de natação, quando o filho namora pela 1a. vez, quando dá o primeiro beijo, quando vê o filho apaixonado no casamento, no parto...
Xinga todo e cada desgraçado que faz o filho sofrer, enlouquece esperando ele chegar da balada, arranca os cabelos diante da morte...
Mãe é uma espécie esquisita que se alterna entre fada e bruxa com uma naturalidade espantosa.
É competente no item culpa e insuperável no item ternura, mas pode ser virulenta, tem um lado B às vezes C, D, E...
Mãe é melosa, excessiva, obsessiva, repulsiva, comovente, histérica, mas não se é feliz sem uma.
Mãe é contrato: irrevogável, vitalício, intransferível!
Mãe lê pensamento, tem premonição, sonhos estranhos. Conhece cara de choro, de gripe, de medo; entra sem bater, liga de madrugada, pede favor chato, palpita e implica com amigos, namorados, escolhas.
Mãe dá a roupa do corpo, tempo, dinheiro, conselho, cuidado, proteção.
Mãe dá um jeito, dá nó, dá bronca, dá força.
Mãe cura cólica, porre, tristeza, pânico noturno, medos. Espanta monstros, pesadelos, bactérias, mosquitos, perigos.
Mãe tem intuição e é messiânica: mãe salva. Mãe guarda tesouros, conta histórias e tece lembranças.
Mãe é arquivo!
Mãe exagera, exaure, extrapola. Rumina o passado, remói dores, dá o troco, adora uma cobrança e um perdão lacrimoso.
Mãe abriga, afaga, alisa, lambe, conhece as batidas do nosso coração, o toque dos nossos dedos, as cores do nosso olhar e ouve música quando a gente ri.
Mãe tem coração de mãe!
Mãe é pedra no caminho, é rumo; é pedra no sapato, é rocha; é drama mexicano, tragédia grega e comédia italiana; é o maior dos clássicos; é colo, cadeira de balanço e divã de terapeuta...
Mãe é madona-mia! É deus-me-acuda; é graças-a-deus; é mãezinha-do-céu e é a mãe, é minha, e-eu-mato – quando-quiser; é a que padece no paraíso enquanto nos inferniza...
Mãe é absurda e inexoravelmente para sempre e é uma só: não há mistério maior! Só cabe uma mãe na vida de uma filha (o)... e olhe lá! Às vezes, nem cabe inteira.
Mãe é imensurável!
Mãe é saudade instalada desde o instante em que descobrimos a morte.
Mãe é eterna, não morre jamais. Bicho estranho, entranha, milagre, façanha, matriz, alma, carne viva, laço de sangue, flor da pele.
Mãe é mãe, e faz cada coisa..." (Texto de Hilda Lucas)