Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

terça-feira, 14 de outubro de 2014

FRAGMENTOS DE MIM



Não abro mão de ser mulher. Já disse e repito. Quem é mulher sabe deste lado quente de ser.
A fidelidade maior para mim, de memorização, é esta aqui: a que eu escrevo. Se não escrevo, não sei. Quem não vê, não sente. A vida é feita de sentimentos.
Pelo menos para mim, é esta que escolhi. Por isto escrevo. Escrevo com tal fidelidade só comparável à saudade que carrego de amados.
A escrita me situa. Admito minha insignificância e sei de minhas significações.
É que nem esse Divã. Pra uns é insignificante, pra muitos, significação.
Posso apelidar a insignificância de avesso.
É o direito de qualquer um tem de não gostar.
Porque gosto é entendimento. A gente só gosta do que entende.
O mundo tá cheio de quem não tem leitura, nem educação. É coisa do mundo mesmo. É como escrever Diário. Coisa de jovem. Ser jovem é ter coragem. E mulher é corajosa. Daí tantos diários:
De Anne Frank (o mais famoso)
De uma estrela
De uma artista,
Diário de Sofia – o mundo dela é lindo e filosofal, mas é diário.
Nem repórter escreve diário. Escreve crônicas, como Pedro Bial.
Taí uma coisa pra mulherada pensar.
O pensamento da mulher é mutante.
O homem age. A mulher muda.
Isso a gente aprende com a vida, com a maternidade, com a situação.
Tô situada, como o fruto no ventre
                       o filho no colo
                       a água no rio
                       o trem no trilho
                       a neve no frio...
Estar situada é ter nome, ter gosto, ter cheiro. É entender a vida.
O oposto é a insipidez, o anonimato, o travo. É ser sonso e insosso.
Não quero escrever moralidades. Não hoje. Chega de tragédias. De escândalos também. Afinal, to situada, embora tenha me despedido de tantas coisas. Já quase sei ou estarei me despedindo do aqui. Só que esta despedida atual nada tem a ver com o neutro artesanato de minha vida anterior. É que viver é sempre uma questão de vida ou morte. Daí a solenidade.
Me sinto um pouco como a barata de Clarice Lispector: mansa e feroz.
Mansa – de coração.
Feroz – por força de vontade.
Eu preciso ir antes que seja tarde. Quem fica é trem. É conduzido.
O rio vai por determinação e tarefa.
Tô indo.
Me aguardem.
 

 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

PERDOAR É PRECISO!

"Você quer ser feliz por um instante? Vingue-se. Você quer ser feliz para sempre? Perdoe."
Tertuliano


Acredito que é do conhecimento de todos que o Yom Kipur (Dia do Perdão) é a data mais sagrada do calendário judaico. O feriado começa no pôr-do-sol que dá início ao décimo dia de Tishrei, o sétimo mês do calendário judaico, e continua até o final da tarde seguinte. O Tishrei corresponde no calendário gregoriano a um período compreendido entre os meses de setembro e outubro, sendo o calendário lunar judaico o Yom Kipur trata-se de uma data móvel, como ocorre, por exemplo, com a Páscoa dos cristãos.
O que comemora-se: Após o pecado do bezerro de ouro, Moisés rezou e, em dez de Tishrei, D’us concedeu pleno perdão ao povo judeu. Não é fácil perdoar. Eu acho. Quando uma pessoa perdoa outra, isto se deve a um sentimento profundo de amizade e amor que anula o efeito de qualquer mal que tenha praticado. Do mesmo modo, o amor Divino é expressão de Seu amor eterno e incondicional. Embora possamos ter transgredido Sua vontade, nossa essência, a alma, permanece Divina e pura. Yom Kipur é o único dia do ano em que D’us revela mais claramente que nossa essência e a Sua são uma só.
 Alguns Costumes
1. Na madrugada da véspera de Yom Kipur (ou nos dias precedentes) é realizado o ritual de caparot:
• Segura-se um galo branco (para os homens) ou uma galinha branca (para as mulheres), enquanto é recitada uma breve prece .
• As aves são ritualmente abatidas e uma soma equivalente a seu real valor é doada aos pobres.
• Pode-se também fazer caparot com dinheiro, doando-o a seguir para tsedacá.
2. Fazendo as Pazes
• Yom Kipur perdoa o pecado cometido contra D’us; transgressões praticadas contra o próximo são perdoadas somente após ter se desculpado pessoalmente. Temos que chegar cara a cara e pedir esse perdão. Senão não vale. E vou contar: já fiz mais de uma vez e não é nada fácil mesmo! Mas a sensação depois é de leveza. 
3. As Refeições
• Na véspera de Yom Kipur é mitsvá (mandamento) fazer duas refeições fartas – uma no almoço e outra à tarde. Dizem os sábios: “Todo aquele que come e bebe na véspera e jejua em Yom Kipur é considerado como se jejuasse dois dias seguidos.”
• Os alimentos desta refeição devem ser de fácil digestão. O jejum de Yom Kipur inicia-se antes do pôr-do-sol (de hoje 03/10) e termina ao completo anoitecer de amanhã.
Velas: Acendem-se as velas na véspera, do pôr-do-sol com as bênçãos apropriadas. Além de abster-se de comer e beber, em Yom Kipur também é proibido: usar perfumes, óleos, desodorantes, maquiagem ou loções. Lavar-se. Calçar sapatos de couro (mesmo que sejam parcialmente de couro). Manter relações conjugais. A saudação comum durante o período do Yom Kipur é "Que você seja inscrito no Livro da Vida".
Meu desejo e orações é sempre esse: que sejamos – todos - inscritos e selados no Livro da Vida!



(Fonte: chabad.org.br)
 

sábado, 27 de setembro de 2014

ANO NOVO EM SETEMBRO



Acho um privilégio ter dois anos novos para celebrar. Afinal são duas chances, inteirinhas, para desejar e rechear os desejos com intenção. Faço limpeza da casa, faxina diferente, para o novo. Um ritual trabalhoso, mas que gosto imenso.
Limpei todos os cantos, joguei fora papeladas antigas que amarelavam em desuso. Estou mudando, inovando a vida. Então, por que acumular tantos registros do passado??? Bastam algumas peças para ilustrar a história. Guardei pouco, apenas o valioso de mim. A limpeza foi completa. Doei roupas, arrumei armários, inovei nos cantos e nos enfeites da casa. Saí de cena e fui para rua desfazer da tranqueira. Quando voltei, abri a porta, respirei fundo e confesso que havia no ar um quê de leveza, mas também uma coisa meio parada. Faltava abrir as janelas? Talvez.
No dia seguinte, o primeiro do meu 5775, Reginete completou a limpeza. Aí circulei pela casa me sentindo a dona do pedaço e feliz com isso. Em cada cômodo, eu vi meus modos, escolhas e esperanças. Depois pensei: “Chegou a alma da casa!”. Claro, a casa sou eu e fico feliz de saber que, nas gavetas e prateleiras, há espaços de sobra para o novo entrar. Então, sim, eu posso sonhar. SHANÁ TOVÁ! Que seja bom e doce o ano novo. 
P.S: se você tiver interesse em saber mais sobre o ano novo judaico é só clicar aqui (é uma postagem que escrevi em 2011).

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

OCORRE



Ocorre muitas vezes. Estou com o computador aberto, trabalhando na correção de um exame, e eis que chega um texto. O título desperta curiosidade e lá vou eu... Faço uma pausa, abro o arquivo – geralmente powerpoint – e viajo numa sequência de imagens de flores em close, rios do outro mundo, cachoeiras, árvores no outono, estradas instigantes, gotas na pétala de uma rosa, pôr-do-sol em tons maravilhosos, abelhas com as anteninhas cheias de pólen...
E a música? 
Essa também tem lá suas facetas. New Age ganha no ranking. Eu gosto. E muito. Portanto, a quem me envia este tipo de mensagem, digo que não me incomodam de jeito nenhum. Até porque, quando estou ocupada por demais, não leio e pronto. E como gosto das imagens e do som, muitas vezes, vou passando e lendo como quem não lê. Ocorre que ler sem ler é uma armadilha.
Outro dia, recebi uma mensagem de pessoa amaaada e, diga-se de passagem, instruída. Abri. Logo começou a música. Gostei. As imagens eram bem anos 60 e 70. Meio batidas, mas vá lá... Nesse ritmo, fui lendo. Meu parecer final foi: “mais ou menos”. 
Voltei ao trabalho. Mas algo ficou me incomodando. Li o texto novamente e achei as pragas que me picaram: nostalgia extrema e idolatria de uma época. O Ministério da Cultura – ou da Educação – deveria advertir: Apego cega.   
Será, meu Deus, que algum dia eu serei como aquele cara? Será que ele não vê que, com o intuito de mostrar quão grandioso foi o seu percurso ou época (?), no final das contas, mostrou desajuste e indignação? Será que eu corro o risco de me acorrentar ao passado a ponto de não enxergar os erros cometidos pela minha geração, nem os acertos da geração seguinte? Tomara que não, porque, por mais bonito que seja qualquer movimento, há erros. E por pior que se apresente o cenário, há avanços. Eu vejo isso em toda parte.
Não quero envelhecer gastando o lápis cor-de-rosa para pintar o passado e o preto para o presente. Quero a caixa de lápis completa. 
Quero todos os verdes para colorir essa gente honesta que inaugura um novo pensamento, mais humano e ecológico. 
Quero usar os azuis para pintar aqueles que mudam os horizontes com muito respeito. 
Quero os amarelos para aqueles que, como girassóis, buscam a luz e não os aspectos sombrios da existência. 
Quero laranja para desenhar a autoconsciência e a percepção de que o prazer é a realização do potencial de vida. 
Quero todas as cores disponíveis. Até o preto, eventualmente, porque é preciso ver o que ainda pode mudar. 
A minha visão de futuro é colorida e mantenho a escolha. Seguirei traçando com minhas convicções e, com meus sonhos, o arco-íris da minha vida.
Quero envelhecer digna dos meus anos e do afeto pelo humano. 
Quero ir além do respeito, da admiração, do reconhecimento. Quero amor. E tem muita gente que sabe do que eu estou falando, gente que também está buscando outras palavras para traduzir o viver feliz e digno.
Quero estar no ritmo do agora. E pensar o bonito. Ocorre! E com você?!