A mentira é uma verdade que se
esqueceu de acontecer. Mário Quintana
Ah Pantaleão quantas saudades
de suas histórias. Nesses últimos dias tenho me lembrado de você. Após alguns
episódios, surpreendentes, venho pensando sobre a mentira e a verdade. Há
controvérsias. Muitas eu diria. Olhe bem como Fernando Pessoa
reflete:
Menti? Não, compreendi. Que a mentira, salvo a que é
infantil e espontânea, e nasce da vontade de estar a sonhar, é tão somente a
noção da existência real dos outros e da necessidade de conformar a essa
existência a nossa, que se não pode conformar a ela. A mentira é simplesmente a
linguagem ideal da alma, pois, assim como nos servimos de palavras, que são
sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os
mais íntimos e sutis movimentos da emoção e do pensamento, que as palavras
forçosamente não poderão nunca traduzir, assim nos servimos da mentira e da
ficção para nos entendermos uns aos outros, o que com a verdade, própria e
intransmissível, se nunca poderia fazer. Fernando Pessoa
A mentira faz parte, de tal
forma, de nosso cotidiano que chegamos a considerá-la verdade. Ela está no
cotidiano social e cultural, permeia as questões educacionais e os livros
didáticos, sustenta a ficção em suas diferentes formas; está na gênese das
religiões; é central na política e é integrante da paixão e do amor; enfim, faz parte do humano.
É difícil falar da mentira sem falar também
da verdade. Mentira e verdade constituem um par antitético. Um conceito se
afirma e se define por oposição ao outro. Será? A mentira também passa pela discussão acerca do engano, do falso, da
paródia, da paráfrase, da quimera e da impostura, do embuste, das fraudes e das
falsificações, da vida cotidiana, e dos etecéteras. A ética e a moral também
necessitariam ser convocadas, assim como a psicanálise, a literatura, a
religião, o humor, entre tantos outros campos da cultura humana, para esta
conversa básica. Para que possamos desconstruir o conceito de mentira, ou fazer
como Jack, o “estripador”, transformando o corpo do conceito de mentira em
pedaços, e, assim, talvez, compreendê-lo um pouco melhor. É como uma collage
ou uma colcha de retalhos, onde os pedaços ou citações isoladas não significam
muito, mas quando juntados nos revelam um todo coerente e harmônico. Não vou
convocar! Não carece para algo tão simplista... Divagações dessa vivente que
vos fala. Dizem que a mentira tem pernas curtas.
Mas, desde cedo, aprendemos que ela tem mesmo é o nariz comprido. Basta lembrar
de Pinóquio, personagem bastante presente no imaginário infantil ocidental, que
recebeu como castigo por sua má conduta um nariz expansível e retrátil. Assim,
toda vez que faltasse com a verdade, seu nariz cresceria e denunciaria a farsa.
O boneco é uma referência para as crianças do significado das mentiras e da
internalização das regras. Deveria ser assim com os adultos. Deveria. Internalização das regras para uma boa convivência. E não
teríamos narizes tão compridos a nos cutucar diariamente. Mentir é uma tentativa de viver como se queria
viver e não o que se vive de fato. Está vivendo como?
Ando pasmada com minha
incapacidade de lidar com mentira... Com o que não se vive de fato. Ou seria com meia verdade? Ou com minha miopia?
Então, no princípio dos contos e no final dessa história, fico com Drummond e
sua sabedoria em nos ensinar. Um dia aprendo!
“A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.”
(Imagem: Karin Izumi e internet)
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.”
Mentira.. problema sério né?
ResponderExcluirBeijinhos ;*
Ótima Semana ")
"Mentir" é iludir outrem intencionalmente. Se a motivação é vil ou nobre, é uma questão de ética. Se usa argumentos falsos ou verdadeiros, é questão de lógica e semântica. E assim por diante.
ResponderExcluirPoetas e escritores de ficção mentem? Não... porque eles não tencionam iludir seus leitores; pelo contrário, os leitores se permitem voluntariamente serem iludidos.
Há muito a dizer sobre mentiras, enganos, fraudes e descaminhos. Excelente o seu resumo, Rê.
Verdade.
Beijos.
Re,
ResponderExcluiràs vezes me acho realista demais, sempre prefiro enfrentar os fatos!
Mentiras só as piedosas, assim mesmo são poucas prefiro a omissão.
Eu não entendo quem mente, principalmente para si mesmo.
bjs
Jussara
Ei Rê, grande postagem esta amiga!
ResponderExcluirVocê deveria escrever um livro sobre o comportamento humano, porque tua escrita flui branda e a leitura é de fácil compreensão.
Texto muito inteligente e super bem delineado, estruturando "verdades" inteiras e incontestáveis sobre a essência do tema escolhido
Gostei tanto que cismei de inventar... Me aguarde! rs
bacios !
Olá, Regina!
ResponderExcluirGosto do Fernando, é uma excelente pessoa! kkkkk
Bjs!
Rike.
P.s.: que piada horrível!!
Também lido muito mal com a mentira, Rêzinha. Chego a ser intolerante. Certa vez contei uma mentira para o meu pai e o castigo foi tão doído, que passei a ter um compromisso cego com a verdade. Por vezes me dou mal, porque a maioria prefere os hipócritas. Costumam ser mais sedutores. Sigo adiante. Não adianta: mais cedo ou mais tarde há um preço a pagar. E pode não ser baixo: a máscara cola-se de tal modo ao rosto que tirá-la exige choro e ranger de dentes. Quando a pessoa cai em si, já era. Beijinhos verdadeiros, Angelinha
ResponderExcluirRê, eu precisava falar contigo em off. Envia um mail pro meu endereço, por favor
ResponderExcluirleregostar@gmail.com
Obrigada
bacios
mentira e verdade...
ResponderExcluiramor e ódio...
bem e mal...
yin e yang
nós somos tudo isso e nossas lutas interiores nunca conseguem resolver tudo...
nem o que se passa dentro de nós quanto mais quando é em relação a outra pessoa
adorei a viajem Regina
beijo
Oi Regina,
ResponderExcluirMentira e verdade são, no mínimo, intrigantes
O problema é que nossas mentiras são sempre tão simples, tão relativas e a mentira do outro é sempre tào intensa, tão cruel.
Mas o assunto é sempre passível de grandes reflexões. Quanto mais amadurecemos, menos toleramos a mentira.
Beijos
Leila
Simplesmente brilhante esta sua dissecação dos conceitos opostos: mentira e verdade!
ResponderExcluirEstranhamente, os seres humanos parecem ter certa dificuldade em lidar com a verdade e frequentemente buscam refúgio na mentira...
Se os políticos fossem como Pinóquio, o congresso seria pequeno para caber narizes tão grandes...
Abraços, Rê!
Também não tenho paciência(a menos) com a mentira. Detesto, sempre detestei,mas atualmente, piorei...
ResponderExcluirE há tantas que nos rodeiam, acham que somos idiotas, querem enganar o povo e tantas coisinhas mais...beijos,lindo fds!chica
Pois é, pois é, pois é!
ResponderExcluirBjs.
Bem massa essa sua reflexão, Rê. Verdades, nunca acreditei no seu absolutismo,
ResponderExcluirQuanto a minha relação com ela, absoluta ou não, é de uma imensa preguiça em praticá-la. Mentir dá trabalho demais e eu gosto das coisas descomplexas.
Beijo, meu bem.
OI REGINA!
ResponderExcluirFIQUEI AQUI A PENSAR SOBRE A MENTIRA.
NUNCA FUI MUITO ADEPTA, LEMBRO-ME QUANDO PEQUENA, AO FAZER ALGO QUE IA DE ENCONTRO AOS ENSINAMENTOS DE MEUS PAIS, QUANDO DESCOBERTA A "ARTE", EU LOGO ME ACUSAVA E FICAVA ALIVIADA, MESMO QUE LEVASSE UM BOM CASTIGO.
ACHO QUE MENTIRA É UMA FALHA NO CARÁTER.
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
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Eu posso até concordar que uma mentirinha faz parte da vida,,,mas existem pessoas que abusam disso...são realmente viciadas,,,ai já complica tudo,,,então é melhor dizer sempre não a mentira...beijos querida e um lindo final de semana pra ti com flores e versos...
ResponderExcluirAh que bom quer você foi lá no blog, assim pude recuperar sua URL!
ResponderExcluirEntão, acho melhor ficarmos com Drummond e sua sabedoria em versos ou então com a tal lenda do índio cherokee que explica pro netinho a batalha do bem e do mal, caracterizadas por dois lobos. A mentira fica ao lado do Mal, da inveja, do ressentimento, do egoísmo e tantas outras mazelas horríveis que nós seres humanos acumulamos. E o Bem ao lado da esperança, amor, fé, compaixão, só coisas engrandecedoras.
E aí o netinho pergunta ao velho índio, qual dos lobos vence? Ele responde: aquele que você alimentar.
Vamos alimentar nosso lobo do bem para que ele cresça e vença dentro de nós.
beijos, muitos, cariocas
Muito interessante este post!
ResponderExcluirGosto quando deixas a inspiração levar freio nos dentes.
De fato ... vivemos como?!!
Em meia verdade?!
Quiçá isso seja a verdade inteira?!!!!!
Bjs. bom fim de semana, fica bem.
Hei,loira!
ResponderExcluirEsse teu texto maravilhoso me lembrou a frase de uma canção:Você diz a verdade e a verdade é o seu dom
de iludir ...
Como é bom te ler!
Beijos!