O que dizer desse ano inimaginável e absolutamente vivido? De 2020 carrego algumas dores. E elas estão registradas onde a memória e o sentimento alcançam. São como cicatrizes, só que, ao contrário delas, não enfeiam, apenas enobrecem minha alma. Essas marcas são aprendizados. Aprendi que não posso mais me calar, porque doeu demais ver fome, abandono, violência, abuso, covardia. As diferenças - sempre sabidas - escancararam-se por conta de um vírus. E haja solidariedade, boas ações, silenciosas e precisas! Doeu assistir aos números se agigantarem ao redor do mundo dia após dia, à imbecilidade subir ao palco e menosprezar o inimigo mundial num diminutivo qualquer! Isso lá é uma "gripizinha"? Doeu ler as mentiras, a manipulação e o engodo, abalando a fé do povo. Doeu ver o cenário obscuro e doeu tanto que elegi as flores como arma. Aí, doeu saber que poucos entenderam a metáfora. A ternura teria perdido espaço? Não. Foi só a pressa de engolir as news, as fakes e os demais fragmentos desse tempo estúpido que impediu a apropriação do belo. Pois esta sou eu, uma mulher que se coloca de pé para fazer bom uso do aprendizado. Observem, ergue-se uma mulher pronta para a luta.
Gostei de toda a caminhada, realizei com tanto amor que, dizendo assim, parece que atenuo o difícil e finjo que foi fácil. Mas não. Esta não sou eu.
De 2020, carrego agradecimento. Vivi momentos de alegria e de maturidade com minha família. Mesmo à distância sinto que ficamos mais próximos. Alguns não foram fáceis, mas todos me valeram. As semanas foram passando e eu me apropriando mais do meu ser, da minha existência. Ficou claro o quanto a minha família pode despertar o melhor de mim. Essas pessoas estão ao meu lado incondicionalmente, de mãos estendidas, prontas para ver a criança andar. Esta criança e neste ano de pandemia completou 6.0 de vida! E esta foi apenas uma alusão à teimosa infância que carrego no peito. Esta sou eu por inteiro, com amor, raiva, drama e medo.