Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

terça-feira, 21 de julho de 2009

HOMOSSEXUALIDADE IV

Desde o começo da Psicanálise, teoria que sistematiza a forma em que os seres humanos assumem uma posição sexuada, consciente e inconsciente, vem se apresentando para os psicanalistas uma questão que insiste em ficar aos olhos de todos sem poder ser completamente resolvida, qual seja, a relação da “homossexualidade” com a psicopatologia.
Os movimentos modernos de afirmação homossexual propõem, cada vez com mais força, a localização da “questão homossexual” no campo dos direitos humanos.
Freud descobriu cedo que “feminilidade” e “masculinidade” são construtos sociais que se desenvolvem na criatura humana a partir de seu contato com os outros nos primeiros anos de vida. Esse processo culmina, segundo este autor, com as identificações “normalizadoras” que representam a solução do que ele denominou “complexo de Édipo”.
Normalizadoras porque, segundo alguns pensam, estas identificações deveriam coincidir com o sexo que a anatomia assinala. Mas nem sempre acontece desta forma. Justamente neste ponto a Psicanálise vem para iluminar os pressupostos do passado, na medida que Freud esclarece, já em 1905, no artigo “Três ensaios sobre a sexualidade”, que a pulsão não tem um objeto predeterminado associado a ela.
Neste trabalho, ele diz que:
“... Assim, do ponto de vista da Psicanálise, o interesse sexual exclusivo de homens por mulheres também constitui um problema que precisa ser elucidado... (.) A atitude sexual definitiva do indivíduo não se define senão depois da puberdade e é o resultado de numerosos fatores, nem todos ainda conhecidos, alguns são de natureza constitucional; os outros, porém, são acidentais”.
Sabemos, então, que o sexo biológico de uma pessoa pode não corresponder com seu sentimento de identidade sexual. As identificações não levam, necessariamente, à coincidência socialmente esperada. E mais, elas nem sempre supõem a presença de desejos por um parceiro do “sexo contrário”, se assim podemos falar. Ou seja, nem a “normalidade” das identificações garante que o sujeito se defina como “heterossexual”, que seria o “natural” para um modelo reprodutivista inato, mas não há naturalidade na sexualidade humana.
E aqui começam os problemas. Para o psicanalista e para os leigos que "sofrem" da Psicanálise em alguma das muitas formas em que ela faz parte da Cultura moderna. Penso que nosso dever como psicanalistas frente aos direitos de quem sofre, pelos seus sintomas ou pelos sintomas sociais, é o de apresentar uma teoria que diferencie claramente os aspectos descritivos e as construções metapsicológicas daqueles aspectos normativos, ideológicos e preconceituosos com os que muitas vezes são confundidos.
A Psicanálise não pode atribuir para si o poder de legislar ou de emitir juízos sobre o que está certo ou errado, sobre se a forma de estruturação da identidade ou do desejo sexual "escolhida" pelo sujeito é a adequada.
Continua...

2 comentários:

  1. Gostaria de parabenizá-la pela maneira clara e esclarecedora que vem abordando o tema. Além disso a forma respeitosa e profissional que trata seus pacientes,é percebido em cada postagem. Meus sinceros agradecimentos.
    J.C.F

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  2. Apesar de não lhe conhecer, agradeço seu comentário. É muito importante para mim, principalmente nos posts relacionados à minha clínica saber se estou sendo clara, linguagem acessível,etc. Obrigada.
    Um abraço
    Regina

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