Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

domingo, 19 de junho de 2011

PORTUGUESES E O VALOR DO DINHEIRO


Somos todos consumistas em potencial. Uns em potências mais elevadas. Alguns poucos totalmente liberados da preocupação do orçamento familiar, saldo em conta-corrente, para exercitar suas compras diárias.
Tenho um cunhado doutor em economia e sempre que há chance, ele lança as três perguntas básicas que deveríamos nos fazer antes de consumir: 
  1. Quero mesmo aquilo que penso em comprar? Ou é apenas um estímulo vindo de um vendedor habilidoso?
  2.  Se quero, eu preciso do que vou comprar? Se não lhe trouxer uma utilidade duradoura, esqueça. Há uso mais inteligente para o seu dinheiro! 
  3.   Se quero e preciso posso comprar?
Na realidade não faço essas perguntinhas quando uma blusa “básica” dá aquela piscada para mim. Nem quando aquele vinho delicioso e na “promoção” quase comete suicídio se jogando da prateleira dentro do meu carrinho de supermercado. Prazeres que duram pouco, bem sei.
Foi pensando neles – esses fugazes – que li a reportagem de Gustavo Carbasi na Folha de São Paulo. Gustavo é autor de “Casais Inteligentes Enriquecem juntos” e “Investimentos Inteligentes”. Não li nenhum. Não enriqueci e não tenho investimentos. Mas isso já é outra estória.
O autor conta que havia ido a Lisboa para o lançamento de mais um livro seu. Com os graves sinais da crise econômica, pedido de socorro à União Europeia, desemprego e inflação em alta e esperança em baixa, questionou seus editores se era o momento de lançar novos títulos no mercado.
Ficou surpreso com a resposta uma vez que supunha que os trabalhadores portugueses tinham menos dinheiro no bolso para consumir qualquer coisa, incluindo livros.
Segundo seus editores, a crise que impunha mudanças até nos hábitos alimentares dos portugueses pouco influenciava o mercado de livros. A explicação é fantástica e me causou mais admiração naquela que já nutria por esses irmãos!
Para eles – portugueses – assim como para a maioria dos europeus, leitura é lazer. Cinema, teatro, viagens, comer fora, práticas esportivas e jogos também são lazer, mas a procura por essas práticas havia caído drasticamente com a crise portuguesa.
O argumento para a sustentação na venda de livros era de que o lazer obtido com um livro era barato, durava vários dias, podia ser repassado para toda a família e, ainda, doado a famílias com poder de consumo mais oprimido.
Resumindo, o que sustentava o comércio livreiro em um país em crise era a durabilidade do prazer ou do benefício obtidos com esse tipo de produto. Nada traduz melhor o conceito de consumo do que a ideia de obter do dinheiro um benefício mais duradouro. Quanto mais benefícios obtemos do nosso dinheiro, menos impulsos de consumo temos afirma Gustavo. E termina categórico: o consumismo está diretamente relacionado à incapacidade de obter prazer duradouro nas compras, como uma droga que gera dependência!
Talvez precise me internar numa clínica de dependentes. Não sem antes reiterar minha admiração pelo povo português! Tenho muito que aprender. Tenho prazeres no criado-mudo me aguardando nesse domingo.

20 comentários:

  1. Formidável, Regina!
    Ah, o consumismo...
    Eu, felizmente, não sou vítima dele, mas tenho amigos e parentes que são, e pagam caro por isso.
    Tenha um excelente domingo, querida!
    Bjs

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  2. Esse tema gera polêmica...ser/estar consumista pode significar tantas coisas...evidenciar tantas coisas...sinalizar mil coisas...mas como consumidora voraz de livros, me penitencio tb, irmiga...mas me junto aos portugueses, pq faço da leitura momentos de puro prazer, além de compartilhar os livros...ontem mesmo aumentei um cadim mais a pilha (que tb tenho...rsrs) dos que esperam pra serem lidos.
    Aqui tá um dia perfeito pra isso....e vou aproveitar!!
    Boa leitura amada minha...bjo no core!

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  3. Pois Regina, posso-te assegurar que o meu orçamento infelizmente, não dá para livros, pois chega e mal para o essencial... e dou outra expliocação para o mercado livreiro no meu País, não mudar por aí além apesar da crise... é que quem tem poder de compra e geralmente interesse em comprar livros é sempre a mesma, a classe média-alta... aquela que insiste em dizer que já não existe e se queixa apesar de ter bastante mais orçamento que a média da população(mas existe e ainda tem dinheiro para a cultura qb)!! Ainda que a restante população gostaria e muito de poder comprar mais livros!!!! (Thank God for Libraries...) :)) Beijinhos

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  4. Rê, eu, que "nasci há dez mil anos atrás", estou convencido de uma coisa: comprar faz um beeem!
    Não importa que a coisa seja supérflua, o que importa é você sentir que pode te-la!
    Aquele teclado sem fio, aquele GPS, o tênis macio, um bom vinho shiraz australiano!
    Só não vale querer o que está fora do nosso orçamento!
    Alguém já andou medindo o grau de satisfação que comprar algo que gostamos nos traz!
    Como dizia Petula Clark: "forget all your troubles,
    forget all your cares,
    so go downtown!"
    Bom domingo!

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  5. Não existe prazer maior que a leitura, pena que no Brasil esse hábito é bem caro!
    Acho que é um consumismo que faz um bem danado!
    òtimas reflexões!
    Bom domingo
    Gd beijo

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  6. Se comprar livros é ser consumista então eu sou um super-consumista,rsrsrsrsrs.

    Beijo meu.

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  7. - Livros são objetos mágicos, que têm o condão de poderem ser "consumidos" inúmeras vezes, e variando seu sabor de um consumidor para outro... e até mesmo quando resolvemos repetir o prato. E por serem mágicos, desafiam as mais comezinhas leis do mercado. Que o digam os sebos e os clubes de leitura... e alguns "blogs" por aí.
    - Beijos, Rê.

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  8. Rê, postagem irretocável, concordância plena. É um outro mundo a Europa. Acabo de ler a postagem da Marina da Silva sobre a recente escolha da Rede Globo pelo vulgar, cafona e descartável, e agora leio sobre os portugueses aqui no divã. E fico me perguntando: de onde surgiu a mania de brasileiro contar piada de português, se os burros somos nós?
    Ponto para os nossos amigos-irmãos lusitanos, filhos da maravilhosa terra de Camões e Fernando Pessoa. Beijinhos, Angelinha
    http:noticiasdacozinha.blogspot.com

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  9. Olá, Regina!
    Mais uma sábia aula, Doutora!!
    Bjs!
    Rike.

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  10. Oi Regina, como vai?
    Olha ser consumista assumida não é fácil rs, e o pior ser consumista do supérfluo rss. Me tornei uma doente consumista por lenços, boinas e acessórios rss, sem necessidade, pois meus cabelos vão crescer né? Mas me dá prazer e me sinto bem no momento..Agora, a leitura é uma fonte de prazer... bons livros nunca é demais.
    Beijocas da Sol

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  11. Olá Rê!
    Li muito curioso este teu post.
    Realmente essa (esta!) maneira de pensar à Portuguesa é verdadeira.
    Pessoalmente considero comprar um livro uma espécie de "luxo", é um bem que nos leva normalmente em grandes viagens no tempo ou mesmo na vida.
    Certas coisas realmente não têm preço, por isso nós também não compramos por comprar, por vezes aguardámos por dias financeiramente melhores, para comprar deste ou daquele autor preferido, não comprando "pelo caminho" um livro qualquer só para matar o tempo.
    Bjs.

    obs: por falar em livros, tenho uma surpresa pra "OCÊ"lá na minha barra lateral "prémios literários".

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  12. Tema polêmico e bom para debate. Não sou consumista e admiro as coisas boas quando são necessárias ou para satisfação de um prazer.
    E com certeza deveria ler mais..rs
    boa semana e um beijo! Zí

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  13. Que espetáculo de post Rê! Dá até gosto ler uma coisa dessas. Isto se chama CULTURA. Um povo que lê, que mesmo passando por dificuldades financeiras, que mesmo em crise econômica sabe o valor da literatura e dos livros...isso chega a me trazer lágrimas aos olhos! Emoção pura, prazer genuíno...já deixei de ser consumista por força dos caminhos que minha vida vem seguindo, mas continuo uma voraz consumidora de livros e ainda que não os possa comprar, tenho-os recebido de presente, justo de amigos portugueses, do meu filho maravilhosos, que sabe o quanto amo e do quanto preciso desse bem durável, infinito, um bem que ficará para as futuras gerações da minha prole quando eu não mais estiver por aqui! Me emocionou amiga! beijo enorme...minha pilha, tb me espera...

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  14. Eu não sou consumista, me acho até bem equilibrada nisso, mas em se tratando de livros.... ai ai ai, não resisto, parece aquelas crianças quando vê doce. Concordo com os portugueses ler é lazer e faz tão bem, nos tranporta para outros mundos. Esse ano li muito or conta de ficar sem andar. Logo vou ter que ler de novo, pois vou fazer cirurgia de novo do tornozelo. E você como está? O que tem lido? Me dá umas dicas tá? Bjsssssssss e boa semana!

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  15. Regina..
    Adoro como vc escreve. A sua irreverencia me encanta.
    Este seu texto digno de aplausos, principalmente o ultimo parágrafo.

    Um beijo, com admiração..

    MA Ferreira

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  16. Comprar é mesmo bom pra caramba, ainda que eu não tenha sido a criatura mais consumista sobre a face da terra, tive que me ajeitar um tiquinho.

    Qualquer coisa, me chama que vou também pra esse lugar me curar da dependência, do prazer sentido em olhar pro produto comprado e pensar: pra que comprei isso??? Tô lascada!

    Beijocas, Rezininha...

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  17. Rê amada. rsrs Vou roubar as palavras
    de memem, será que ela deixa?
    Ahh mas pra roubar nem preciso
    de permissão rsrs , exatamente isso..

    'Qualquer coisa, me chama que vou também pra esse lugar me curar da dependência, do prazer sentido em olhar pro produto comprado e pensar: pra que comprei isso??? Tô lascada!'rsrsrs é bem isso mesmo..

    Um beijo minha flor..

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  18. A minha profissão, por quase toda a minha vida ativa em carteira assinada, e isso vão 27 anos, foi como Compradora.
    Imagine o que é comprar muito, por profissão e com o dinheiro alheio.
    Também é uma relação louca.
    Me lembro de uma Cesta de Aniversário, que montei para o Falecido Comandante Rolim (TAM, com vinho Romanée-Conti, entre outras coisitas.
    Chá Indiano, para um ex-presidente do Brasil, Pé de Cana.
    A Pinga era nacional, mas o chá era indiano.
    Bolo de Mandioca, para
    um presidente anterior a esse e sua esposa Ruth.
    Doce Ruth.
    Toda essa loucura me deu uma visão diferente dessa relação, consumidor-consumo.
    Mas fica para próxima, esqueci que estava no divâ.
    Aliás acho que eu estou precisando de um Divã.
    Bjs.
    Wilma
    www.cancerdemamamulherdepeito@blogspot.com

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  19. Olá Re,
    Será que o comentário que te escrevi sobre este post,referente ao artigo de jornal que te enviei,
    foi postado corretamente? Sempre fico em dúvida se fiz corretamente.
    Me avise por e-mail, pois quase não tenho tempo de entrar no "Divã"
    Grande beijo no seu coração.
    Mary rozenbaum

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  20. Re querida,
    Fiquei feliz em ver que o artigo que te enviei te ajudou a escrever este post. Sabia que vc. iria gostar dele.
    Beijuuusss
    Mary Rozenbaum

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