Regina Rozenbaum
Fico pensando sobre algo que é muito falado e pouco analisado: a afinidade. A afinidade não é o mais brilhante, mas é, o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente também.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que ele foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial.
É raro. Ter afinidade é muito raro. Mas quando ela existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Ela existia antes mesmo do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro de sua boca diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar de longe, pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar uma palavra. É receber o que vem do outro com uma aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com. Nem sentir “contra”, nem sentir “para”, nem sentir “por”, nem sentir “pelo”. Quanta gente ama, loucamente, mas sente “contra” o ser amado! Quantos amam e sentem “para” o ser amado e não para si mesmos?
Sentir com, é não ter necessidade de explicação do que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar. Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.
A afinidade é um sentimento singular, discreto e independente. Não precisa do amor. Pode existir quando ele está presente ou quando não está. Independe dele. Pode existir a quilômetros de distância. É adivinhado na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
A afinidade é singular, discreta e independente, repito, porque não precisa do tempo para existir. Vinte anos sem ver aquela pessoa, com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade, e no dia em que você a vê de novo, prossegue a relação exatamente do ponto em que parou. É mágico. Afinidade é a adivinhação das essências não conhecidas nem pelas pessoas que as têm.
Além de prescindir do tempo e ser a ele superior, a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente. Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós, para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos sempre presentes.
Sensível é a afinidade e exigente apenas de uma coisa: que as pessoas evoluam parecidas. Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau nas pessoas. Porque o que define uma afinidade é a sua existência também depois.
Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado e anos após encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária. E afinidade verdadeira não é temporária. É supratemporal. Nada tão doloroso do que contemplar uma passada afinidade, ou ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade. A pessoa mudou diferente, transformou-se por outros meios. A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas e plantios de resultado diverso.
Afinidade é ter estragos semelhantes e iguais esperanças permanecentes. Afinidade é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quanto das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação. Porque ele (tempo) e ela (separação) nunca existiram. Foram apenas as oportunidades dadas (tiradas) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada um pudesse ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado!
*Inspirado por vários afins que habitam meu coração... E motivado a ir para o papel, pela delícia de um reencontro.
Fico pensando sobre algo que é muito falado e pouco analisado: a afinidade. A afinidade não é o mais brilhante, mas é, o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente também.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que ele foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial.
É raro. Ter afinidade é muito raro. Mas quando ela existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Ela existia antes mesmo do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro de sua boca diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar de longe, pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar uma palavra. É receber o que vem do outro com uma aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com. Nem sentir “contra”, nem sentir “para”, nem sentir “por”, nem sentir “pelo”. Quanta gente ama, loucamente, mas sente “contra” o ser amado! Quantos amam e sentem “para” o ser amado e não para si mesmos?
Sentir com, é não ter necessidade de explicação do que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar. Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.
A afinidade é um sentimento singular, discreto e independente. Não precisa do amor. Pode existir quando ele está presente ou quando não está. Independe dele. Pode existir a quilômetros de distância. É adivinhado na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
A afinidade é singular, discreta e independente, repito, porque não precisa do tempo para existir. Vinte anos sem ver aquela pessoa, com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade, e no dia em que você a vê de novo, prossegue a relação exatamente do ponto em que parou. É mágico. Afinidade é a adivinhação das essências não conhecidas nem pelas pessoas que as têm.
Além de prescindir do tempo e ser a ele superior, a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente. Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós, para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos sempre presentes.
Sensível é a afinidade e exigente apenas de uma coisa: que as pessoas evoluam parecidas. Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau nas pessoas. Porque o que define uma afinidade é a sua existência também depois.
Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado e anos após encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária. E afinidade verdadeira não é temporária. É supratemporal. Nada tão doloroso do que contemplar uma passada afinidade, ou ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade. A pessoa mudou diferente, transformou-se por outros meios. A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas e plantios de resultado diverso.
Afinidade é ter estragos semelhantes e iguais esperanças permanecentes. Afinidade é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quanto das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação. Porque ele (tempo) e ela (separação) nunca existiram. Foram apenas as oportunidades dadas (tiradas) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada um pudesse ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado!
*Inspirado por vários afins que habitam meu coração... E motivado a ir para o papel, pela delícia de um reencontro.
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