Em 26/11/2002 minha mãe fez 80 anos e escrevi e li para ela, familiares e amigos, durante a festa, o seguinte:
Tenho pouco mais que a metade dos anos de vida de minha mãe. Confesso que não consigo me imaginar aos 80, seja pela ilusão de que ainda faltam muitos anos para chegar lá, seja pela dificuldade diante do envelhecimento, ou pelo que vejo nela e através dela.
Quando sabemos que uma senhora está fazendo 80 anos, imediatamente nos vem a imagem de uma “velhinha”, de cabelos brancos, passos lentos, corpo curvado e marcado pelas linhas do tempo. Essa descrição não coincide com minha mãe! Sempre convivi com um corpo ereto, passos firmes no ir e vir do dia-a-dia, mãos ágeis e habilidosas para fazer o necessário e para além dele, energia e vigor para a luta de dar conta do recado... E que recado!
Além da admiração descobri que invejo minha mãe, pois sei que, se chegar aos 80, mesmo com todos os recursos tecnológicos, avanços da medicina e cosmetologia, não serei igual a ela.
Seu luto se transformou em sua luta: a disposição de buscar e descobrir como viver com dignidade, continuar a sonhar, a despeito das perdas, mantendo um espaço aberto para a imaginação conectada às condições reais. Desenvolveu a habilidade de usufruir e desfrutar o que estava disponível, de encontrar soluções, não ficando paralisada nos soluços da saudade.
Sua luta envolveu escolhas e decisões de ser capaz de ir além do sobreviver aprendendo e nos ensinando sobre o viver.
Aceitou que a vida, mais do que ordem, tem propósito e é proporcional, nos oferecendo tanto perdas quanto ganhos.
Seus passos já não são tão firmes limitando, um pouco, sua independência no ir e vir, as mãos continuam a fazer, mas, se cansam com mais rapidez, os cabelos não são branquinhos (viva a cosmetologia) e as linhas marcam sim, as estradas que buscou e os caminhos que teve que percorrer para chegar até aqui.
D.Lucy não é uma “velhinha”, ela vem ao longo dessas décadas envelhe/sendo.
Desejo que minha mãe viva muitos anos mais. Mas não a qualquer preço, apenas enquanto estiver acesa dentro dela a capacidade de se comover diante da beleza. Beleza que para ela tem nome de alegria, quando as lágrimas escorrem pela sua face, num momento divino do nascimento de seu bisneto Felipe, marcando assim a continuidade de sua história.
Alegria de estar aqui hoje, como sempre diz, ao lado de sua família, seus bens mais preciosos: irmãos, cunhadas, sobrinhos, sobrinhos netos, filhas, genros, netos, bisnetos e amigos!
E de acordo com Rubem Alves, gostaria de hoje inverter o ritual do “Parabéns para você”: “... na sala escura e silenciosa um fósforo é riscado e uma vela é acesa – vela que nenhum sopro vai apagar, e que vai ficar brilhando por todo tempo que durar a festa. Com o acender da vela explode a alegria, não pelos anos que foram desfeitos, mas por aqueles que estão à espera para serem vividos. Ao invés de soprar as velas, acenderemos a vela”.
Quando sabemos que uma senhora está fazendo 80 anos, imediatamente nos vem a imagem de uma “velhinha”, de cabelos brancos, passos lentos, corpo curvado e marcado pelas linhas do tempo. Essa descrição não coincide com minha mãe! Sempre convivi com um corpo ereto, passos firmes no ir e vir do dia-a-dia, mãos ágeis e habilidosas para fazer o necessário e para além dele, energia e vigor para a luta de dar conta do recado... E que recado!
Além da admiração descobri que invejo minha mãe, pois sei que, se chegar aos 80, mesmo com todos os recursos tecnológicos, avanços da medicina e cosmetologia, não serei igual a ela.
Seu luto se transformou em sua luta: a disposição de buscar e descobrir como viver com dignidade, continuar a sonhar, a despeito das perdas, mantendo um espaço aberto para a imaginação conectada às condições reais. Desenvolveu a habilidade de usufruir e desfrutar o que estava disponível, de encontrar soluções, não ficando paralisada nos soluços da saudade.
Sua luta envolveu escolhas e decisões de ser capaz de ir além do sobreviver aprendendo e nos ensinando sobre o viver.
Aceitou que a vida, mais do que ordem, tem propósito e é proporcional, nos oferecendo tanto perdas quanto ganhos.
Seus passos já não são tão firmes limitando, um pouco, sua independência no ir e vir, as mãos continuam a fazer, mas, se cansam com mais rapidez, os cabelos não são branquinhos (viva a cosmetologia) e as linhas marcam sim, as estradas que buscou e os caminhos que teve que percorrer para chegar até aqui.
D.Lucy não é uma “velhinha”, ela vem ao longo dessas décadas envelhe/sendo.
Desejo que minha mãe viva muitos anos mais. Mas não a qualquer preço, apenas enquanto estiver acesa dentro dela a capacidade de se comover diante da beleza. Beleza que para ela tem nome de alegria, quando as lágrimas escorrem pela sua face, num momento divino do nascimento de seu bisneto Felipe, marcando assim a continuidade de sua história.
Alegria de estar aqui hoje, como sempre diz, ao lado de sua família, seus bens mais preciosos: irmãos, cunhadas, sobrinhos, sobrinhos netos, filhas, genros, netos, bisnetos e amigos!
E de acordo com Rubem Alves, gostaria de hoje inverter o ritual do “Parabéns para você”: “... na sala escura e silenciosa um fósforo é riscado e uma vela é acesa – vela que nenhum sopro vai apagar, e que vai ficar brilhando por todo tempo que durar a festa. Com o acender da vela explode a alegria, não pelos anos que foram desfeitos, mas por aqueles que estão à espera para serem vividos. Ao invés de soprar as velas, acenderemos a vela”.
Regina
ResponderExcluirEstou lendo seu blog e adorado... Precisamos nos encontrar. Bem sei como deve estar sendo difícil para vc esses anos. Quem´conheceu e conviveu com D.Lucy sabe bem a estranheza de não vê-la na cozinha, jogando buraco, viajando. Vc é sim muito parecida com ela: tem sua energia, sua garra, sua generosidade e principalmente esse CORAÇÃO que transborda amor. E plagiando vc: "Beijuuss no seu coração, amiga".
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi Regina fiquei emocionada quando li o texto.
ResponderExcluirMãe é tudo prá gente, né? O importante é estarmos de mãos dadas com elas em todos os momentos.Li uma mg repetidas vezes emum livro que me chamou muito a atenção:
"Ninguém pode livrar os homens da dor, mas será bendito aquele que fizer renascer, neles, a coragem para a suportar." ( Selma Lagerlof )
Beijo!
Amei a frase da sua amiga Paula, é de grande sabedoria.Nunca se esqueça, por mais difícil que nos pareça este plano é só uma passagem, os vinculos de Amor são eternos. Você pra mim você é um "GIGANTE" em força e sabedoria.
ResponderExcluirBjs no coração.
Idia