Hoje minha mãe desceu para o C.T.I. -Centro de Tratamento Intensivo- ela estava no 11ºandar e foi para o 5º.
O C.T.I. é uma unidade de atendimento de urgência, lugar de tomada de decisões e ações rápidas e, se possível, efetivas para a cura, a salvação da vida.
Hoje quase não se morre mais em casa. O hospital tornou-se o lugar oficial da morte, mais ainda o C.T.I. E esse espaço fechado, isolado, quase sagrado, faz com que a morte se torne indefinida, selvagem, prolongada e escamoteada.
Eu tentei, ah mãe, como eu tentei, nunca ter que vê-la deitada nessa cama fria e insuportavelmente aquecida pelo colchão de plástico. Deixá-la na sua cama, a mesma, do início do casamento, não teria sido melhor?
Eu tentei alimentá-la com as burrecas, azeitonas pretas, queijo parmesão, pudim de leite condensado, para não ver essa sonda enfiada nas suas narinas te dando “suporte nutricional”.
Eu tentei hidratá-la com goles de água, sucos variados, chás, café, para não ver as tantas agulhadas tomadas em suas veias já tão fracas.
Eu tentei fazendo você caminhar, do seu quarto para a sala de jantar, se exercitar e assim conseguir respirar, para não vê-la ligada nesse respirador artificial.
Eu tentei levando você ao banheiro, urinar e evacuar para a fralda evitar.
Eu tentei contando-lhe os “causos” mais absurdos te despertar, para não vê-la sedada.
Eu tentei deixá-la em casa, com suas filhas, genros e netos para não ter que esperar o horário de visita e só dois poderem entrar.
Eu tentei dando-lhe banho e fazendo “day SPA”, evitar mãos estranhas a te manipular.
Eu tentei ouvir seu lamento para evitar seu forçado silêncio.
Eu tentei entender sua(s) escolha(s) para evitar que escolhessem por você.
Eu ouvi seu pedido em casa - “Madre mia piedosa”- tentei traduzir, e trazer a vovó para bem pertinho de você. Mas não consegui deixar de escutar – “Socorro, Regina, socorro” no 11º andar do hospital e ouvir todos lhe dizendo que você estava sendo socorrida.
“O que os olhos não vêem o coração não sente”. Se eu não te vejo o meu coração sente. Se eu te vejo, mãe, o meu coração também sente. Então, esse ditado é uma mentira?
Não, eu não acredito que a vida biológica deva ser preservada a qualquer preço. Eu não acredito que ela deva estar ligada por um (ns) fio(s). Ainda que a parafernália dos médicos continue a emitir seus bips e a produzir ziguezagues no vídeo.
“Para todas as coisas há o momento certo. Existe o tempo de nascer e o tempo de morrer” (Eclesiastes 3.1-2).
O C.T.I. é uma unidade de atendimento de urgência, lugar de tomada de decisões e ações rápidas e, se possível, efetivas para a cura, a salvação da vida.
Hoje quase não se morre mais em casa. O hospital tornou-se o lugar oficial da morte, mais ainda o C.T.I. E esse espaço fechado, isolado, quase sagrado, faz com que a morte se torne indefinida, selvagem, prolongada e escamoteada.
Eu tentei, ah mãe, como eu tentei, nunca ter que vê-la deitada nessa cama fria e insuportavelmente aquecida pelo colchão de plástico. Deixá-la na sua cama, a mesma, do início do casamento, não teria sido melhor?
Eu tentei alimentá-la com as burrecas, azeitonas pretas, queijo parmesão, pudim de leite condensado, para não ver essa sonda enfiada nas suas narinas te dando “suporte nutricional”.
Eu tentei hidratá-la com goles de água, sucos variados, chás, café, para não ver as tantas agulhadas tomadas em suas veias já tão fracas.
Eu tentei fazendo você caminhar, do seu quarto para a sala de jantar, se exercitar e assim conseguir respirar, para não vê-la ligada nesse respirador artificial.
Eu tentei levando você ao banheiro, urinar e evacuar para a fralda evitar.
Eu tentei contando-lhe os “causos” mais absurdos te despertar, para não vê-la sedada.
Eu tentei deixá-la em casa, com suas filhas, genros e netos para não ter que esperar o horário de visita e só dois poderem entrar.
Eu tentei dando-lhe banho e fazendo “day SPA”, evitar mãos estranhas a te manipular.
Eu tentei ouvir seu lamento para evitar seu forçado silêncio.
Eu tentei entender sua(s) escolha(s) para evitar que escolhessem por você.
Eu ouvi seu pedido em casa - “Madre mia piedosa”- tentei traduzir, e trazer a vovó para bem pertinho de você. Mas não consegui deixar de escutar – “Socorro, Regina, socorro” no 11º andar do hospital e ouvir todos lhe dizendo que você estava sendo socorrida.
“O que os olhos não vêem o coração não sente”. Se eu não te vejo o meu coração sente. Se eu te vejo, mãe, o meu coração também sente. Então, esse ditado é uma mentira?
Não, eu não acredito que a vida biológica deva ser preservada a qualquer preço. Eu não acredito que ela deva estar ligada por um (ns) fio(s). Ainda que a parafernália dos médicos continue a emitir seus bips e a produzir ziguezagues no vídeo.
“Para todas as coisas há o momento certo. Existe o tempo de nascer e o tempo de morrer” (Eclesiastes 3.1-2).
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