Assim que recebi esse texto, extraído do livro "Arroz de Palma" de Francisco Azevedo (Editora Record, 2008) não tive dúvidas: tenho que partilhar com meus amados. Aliás, como dizia minha mãe: sempre cabe mais um nessa mesa!
E família, bem, família é a que temos e ai de nós sem ela. Eu amo de viverrrr a minha ,com tudo que tenho direito...inclusive com os jilós (argh) que vez por outra fazem parte da mesa. Como hoje é domingo, desejo um delicioso almoço familiar para todos vocês!
"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida - azeitona verde no palito - sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano - quem diria? - solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias - que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar - tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe “Família à Oswaldo Aranha”, “Família à Rossini”, Família à “Belle Meunière” ou “Família ao Molho Pardo” - em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada - seriam assim um tipo de “Família Diet”, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Há famílias, por exemplo, que levam muito tempo para serem preparadas. Fica aquela receita cheia de recomendações de se fazer assim ou assado - uma chatice! Outras, ao contrário, se fazem de repente, de uma hora para outra, por atração física incontrolável - quase sempre de noite. Você acorda de manhã, feliz da vida, e quando vai ver já está com a família feita. Por isso é bom saber a hora certa de abaixar o fogo. Já vi famílias inteiras abortadas por causa de fogo alto.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.
Aproveite ao máximo.
Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete".
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias - que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar - tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe “Família à Oswaldo Aranha”, “Família à Rossini”, Família à “Belle Meunière” ou “Família ao Molho Pardo” - em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada - seriam assim um tipo de “Família Diet”, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Há famílias, por exemplo, que levam muito tempo para serem preparadas. Fica aquela receita cheia de recomendações de se fazer assim ou assado - uma chatice! Outras, ao contrário, se fazem de repente, de uma hora para outra, por atração física incontrolável - quase sempre de noite. Você acorda de manhã, feliz da vida, e quando vai ver já está com a família feita. Por isso é bom saber a hora certa de abaixar o fogo. Já vi famílias inteiras abortadas por causa de fogo alto.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.
Aproveite ao máximo.
Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete".
- Francisco Azevedo. Devidamente anotado o nome, para futura referência. Texto para ser degustado e não devorado. Saboreado com vagar, aos bocadinhos, paladar e olfato no comando, com o tato sentindo na língua a consistência dos quitutes, a visão apreciando o colorido das receitas e o ouvido registrando os ruídos produzidos pelos aperitivos mais crocantes, o borbulhar dos espumantes e o chiado dos pratos quentes... texto para os cinco sentidos!
ResponderExcluir- Não é à-toa que Minas produz excelentes famílias.
- Não é à-toa que a cozinha mineira é famosa.
- Não é à-toa que a Rê é mineira.
- Valeu, moça! Brigado pelo delicioso banquete.
Mas ainda é de onde retiramos nossas forças, quando nos sentimos desamparadas...
ResponderExcluirBjos achocolatados doce menina.
Olá, Regina!
ResponderExcluirApesar de todos serem filhos dos mesmos pais, viverem sobre mesmo teto, comerem a mesma comida e muitas vezes usarem as mesmas roupas, ainda assim são completamente diferentes as pessoas que compõe uma família.
Bjs!
Rike.
Rê
ResponderExcluireste texto conseguiu encontrar a definição perfeita para o que eu procurava há muito...FAMILIA...amei
descobri que tá faltando tempero na minha...mas eu degusto mesmo assim e amooooooooo
beijocas
Loisane
RÊ, amor da minha vida,
ResponderExcluirComo a Wilma e eu conversamos, quando alguma de nós sumimos um pouco do blog e perdemos um pouco de contato é pq realmente não estamos bem, temos que acostumar com as sumidinhas de cada uma de nós, rsrsr.
Como a vida é estranha , não é mesmo? Não imaginava nunca que eu iria me preocupar novamente com o CA, mas esta é a minha realidade de hoje.
Rê, me conta o que está acontecendo com você, pode me enviar um email, fiquei fora , então não consegui acompanhar todos os seus passos.
Amiga, todas nós estamos com você, Angela, Cris, Wilma e ELE, como você fala sempre.
O importante é que estamos unidas sempre.
Deus abençõe muito .
Beijocas da sua mininha,
Virna Soledade
www.superandocancerdemama-virna.blogspot.com
Familia é sempre algo bom de se falar,,,,um grande beijo de lindo domingo pra ti querida.
ResponderExcluirUma mesa recheada de gente amada e amiga, faz qualquer ceia virar um sonho.
ResponderExcluirBjs.
Amiga, que belo, espressivo, e iluminado texto! Uma mensagem maravilhosa! Deus a abençoe sempre, e obrigada por compartilhar! Amiga linda, é com imenso prazer que lhe deixo carinhos nesse lindo e inspirador domingo... Que o seu dia seja de alegria e paz... Bjsss
ResponderExcluirOlá Amiga Regina,
ResponderExcluiré... familia é para aproveitar mesmo, porque há membros que se vão... e deixam uma saudade danada...!!!
Já me vou, porque uma lágrima se escapa...
Um beijo e bom domingo.
Que perfeito! Família é porto seguro, é calmaria e ao mesmo tempo tempestade... Uma confusão necessária, sem a qual estaríamos na mais profunda solidão.
ResponderExcluirAmo a minha, com toda a sua imperfeição.
Beijos.
O arroz estava uma delícia.
RE AMEI...
ResponderExcluirA MINHA GRAÇAS A DEUS TEM TODOS TEMPEROS QUE VOCE CITOU...TEM OS DESTEMPEROS OS DISSE ME DISSE ...OS ALMOÇOS ONDE TODOS FALAM AO MESMO TEMPO ..AS VEZES TEMOS QUE METER A COLHER MAS GRAÇAS A DEUS NÃO DESANDOU NADA ..AINDA RSRSR TEM AQUELES PITS DE IRMÃ COM IRMÃ TEM AQUELES NATAIS INESQUECIVEIS..TEM A COBRANÇAS DAQUELES QUE VIVEM SE VITIMIZANDO DE TUDO ""NINGUEM ME DA CARINHO""NINGUEM ME DA ATENÇÃO NINGUEM ENTENDE ELE""SABE??MAS NO FUNFO É OQ QUE MENOS DA A TODOS E VIVE SE LAMENTADNO RSRSR MAS ELE TA DENTRO FAZENDO PARTE DA FAMILIA A ATE SE ELE FALTA A FAMILIA FICA MORNA CHATA RSRSR NA MINHA FAMILIA TEM TUDO PARECE A FAMILIA DA MARIA DO CARMO DA SENHORA DO DESTINHO E ATE A MATRIARCA SE CHAMA MARIA DO CARMO QUE É MINHA MÃE ..MAS UMA COISA EU DIGO NÃO SEI VIVER SEM ELA..MINHA FAMILIA É A MELHOR DO MUNDO PRA MIM POR QUE SABE UM INGREDINETE QUE TEM A VONTA DE??AMOR ..AMOR E AJUDA ..NOS NOS AJUDAMOS MESMO QUE AS VEZES NOS DESENTENDEMOS NOS PERDOAMAOS AFINAL PERDÃO FOI FEITO PRA PEDIR E ACEITAR SENÃO DEUS NÃO TINHA CRIADO PERDÃO QUE É BIBLICO..NÉ??ADORO MINHA FAMILIA E O MELHOR ELES ME ADORAM E DESDE QUE EU VOLTEI PRA MT DE NOVO TODOS OS DIAS EU ESCUTO DELES PELO SKIPE""AI OTILIA A CASA NÃO É MAIS A MESMA DEPOIS QUE VOCE SE FOI ..OS DOMINGOS TAMBEM NÃO VOCE ERA A ALEGRIA DAQUI""TEM COISA MELHOR DE SE OUVIR DINHEIRO NENHUM PAGA ISSO NENHUM
BJS QUERIDA
BOA SEMANA COM SUA LINDA FAMILIA QUE DEVE TER POR ESCREVER TANTAS COISAS BELAS ASSIM SO PODE TER UMA E SER MUITO AMADA POR ELA
OTILIA
As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira ...
ResponderExcluirBeijinhos
Rê, mas que texto mais perfeito!!!
ResponderExcluirNão conhecia e adorei!
Ai...saber a hora de meter a colher...essa é díficil. Uma verdadeira arte culinária/familiar..rs
O final é digno de um prêmio: família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete...
Lindo demais!!!!
Obrigada por compartilhar essa pérola com a gente ;)
Beijo grande querida
Bom de ler. Bom de saborear. Bom de viver.
ResponderExcluirUm beijo pra voce!
Olá!, RÊ!
ResponderExcluirInspiradissimo, este texto; delícia de leitura!
Como confeccionar uma família, numa panela onde às vezes se tem que colocar tantos ingredientes - que muitas das vezes nem sequer ligam bem entre si ... É preciso que o cozinheiro tenha arte para não estragar a caldeirada; saber como meter a colher ... para não dar a ideia de querer meter foice em seara alheia.
Óptima escolha; gostei muito!
Beijinhos, boa semana.
Vitor
RÊ, tu arrasa NÉ!!!
ResponderExcluirBom diaaaaaaaaaa!!!
BeijosssSSSSS
Querida Rê,
ResponderExcluirObrigado a você e aos seus seguidores pelas belas palavras e pelas referências generosas ao texto do meu livro "O arroz de Palma". O melhor presente para quem escreve é justamente esse: o carinho dos leitores. Vida longa para o seu blog, com muitas bênçãos e inspiração. O abraço muito afetuoso do Francisco Azevedo.
Caríssimo Francisco Azevedo! Que surpresa deliciosa...como aquela visita inesperada que surge e nos alegra num domingo.
ResponderExcluirFico mais, muito mais que honrada com sua visita...sem palavras diante do seu saboroso "almoço familiar" com que nos brindou, somos nós - essa pequena grande família do Divã - que agradecemos tanta sensibilidade e poesia! OBRIAGADA!!!
Beijuuss carinhosos com gostim de comida mineira
Rê
Hoje encontrei esse mesmo texto no Blog de outra Regina que sou apaixonada, e me encanteeeeeii...já mandei por e-mail pra meus amigos queridos, e se essa é uma provinha do livro, tenho que ler ele TODO!!
ResponderExcluirVc arrasou nos posts destes dias em que estive "fora do ar", affff...amei!
bjãozão, queridona!!!
Como um bom arroz, minha querida, este texto foi degustado no seu primor!
ResponderExcluirêita coisa boa que é viver, MESMO!!!!
Beijo com amor,
Sa
Família a gente escolhe ainda antes de nascer, não é mesmo? E quando nasce, tem que comer o arroz e o jiló. Taí, nunca experimentei arroz com jiló!... Vou provar, depois te falo. Brincadeiras a parte, família é mesmo tudodebom.com.br. Beijos
ResponderExcluirAngela
http://noticiasdacozinha.blogspot.com
Rê, mais uma vez, obrigado por esse seu carinho. Tudo de bom para você e os seus.
ResponderExcluirAbraço muito especial do
Francisco Azevedo.
Re,
ResponderExcluirDei uma olhadinha muito rápida no texto e adorei.
Família é isso mesmo e apesar de tudo devemos amá-la sempre, pois é com ela que a gente pode contar quando se precisa.
Beijuuusss no seu coração.
Shabat Shalom.
Mary Rozenbaum
6a-feira 11/01/2013