Outro dia me perguntaram se quando parti senti dor. Que tipo de dor? Questionei. De apartar... Como quando se separam siameses! Essa divisão do que foi um doeu em lágrimas. Gotas nada salgadas... Doces como quando as vertemos no instante mágico de um nascimento do que - por milagre divino - um dia já foi um! "Porque metade de mim é amor, e a outra metade...também"
Metade (Ferreira Gullar*)
Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.
E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.
Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também
*Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira nasceu dia 10 de setembro de 1930, em São Luis, Maranhão, Brasil; esse poeta completou 80 anos! Consagrado, o maranhense é também ensaísta, tradutor, dramaturgo e crítico de arte — além de assíduo palestrante sempre acompanhado por platéias numerosas. A edição 2010 do Prêmio Luís de Camões ficou com esse brasileiro. O mais importante prêmio literário da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, criado em conjunto pelos governos do Brasil e de Portugal, renderá ao escritor 100 mil euros. Já foram agraciados, entre outros, João Ubaldo Ribeiro, João Cabral de Melo Neto, Arménio Vieira, Rubem Fonseca, Miguel Torga, Antonio Candido, Lygia Fagundes Telles, Lobo Antunes.(Fonte:Internet)
Existem muitos tipos de dor a se sentir nessa vida
ResponderExcluiralgumas mais insuportaveis que a outra...beijos de bom dia
Eu conheci esse gênio Ferreira Gullar de uma forma bem popular, assim como Florbela Espanca.
ResponderExcluirNa voz marcante do Fagner em TRADUZIR-SE.
Penso que é quase impossível mensurar a dor do outro, ou traduzir-se a nossa.
Essa dádiva Deus concede aos artistas.
"Traduzir-se uma parte
na outra parte que é uma questão de vida ou morte será arte, será arte, será arte?"
Ferreira Gullar
wilma
www.cancerdemamamulherdepeito@blogspot.com
Como todo o carinho...
ResponderExcluirChegou o bom momento, ou o grande dia!
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Vamos lá!
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JORNAL AFOGANDO O GANSO
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Beijos.
Guará Matos,
@GuararemaMatos
Olá, Regina!
ResponderExcluirTens andado poetisa ultimamentekkk! E isso é muito bom! Pra sote nossa, continue assim!!
Bjs!
Rike.
Olá querida!
ResponderExcluirAmei o Blog!tudo lindo Parabéns!
vc realmente tem o dom de escrever!!!
♥
Vou passar aqui agora que tenho endereço com mais frequecia!
Beijoooo e até quinta-feira!!eeeeeeeeeeeeee Alegria!!!
Fernanda Antunes(Professora Idealis..Garra..etc..)rsrsrs
RÊ, adorei, como sempre NÉ!
ResponderExcluirPorque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também
Cade a dor???
xumiu!!!!
Beijossssssssss
Oi Rê,
ResponderExcluirSimplesmente lindo demais.
Eu precisava ler isto hoje.
Bijocas amorzinho.
Olá, querida e amada Re!
ResponderExcluir"Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito"
Poeta é mesmo assim...
Passa mensagem chave
que acaricia o coração.
pena quando a receita é enclave
e não finda a inquietação.
a dor da lacuna é ausência
preenche-se o vazio
com o perfume, essência
da alma que persiste em reviver o que se sentiu
e na volta do tempo que parou,
quem vislumbra a luz na inquietude
de quem fica,
a espelha em quem partiu.
metades de um que não foi, está...
- vai, vem... mas, sempre estará
completando em plenitude.
Beijo e kandandos meus a atravessar tanto mar...
Querida amiga, lindo post. Beijocas
ResponderExcluirRê,
ResponderExcluirEu acho que voltei para ficar, acabei de sair de uma crise de depressão, rsrsr, espero jamais ter novamente.
Não abandonei você e pode ficar tranquila que a nossa amizade será eterna.
Sorte e muita saúde é o que mais desejo a você.
Fica com Deus.
Beijos
Virna Soledade
www.superandocancerdemama-virna.blogspot.com
Ahã!... O 'um' é um 'tudo' indivisível, não é mesmo? Amo este poema de Ferreira Gullar, leio e releio vez por outra, porque metade dele é lucidez e a outra metade... também!
ResponderExcluirRêencontros são assim mesmo, com abraços, sem abraços, coisa de alma. Beijos.
Angela Fonseca
http://noticiasdacozinha.com.br
É preciso metade do tempo para usar a outra metade.
ResponderExcluirBeijo.
A outra metade de mim é um silêncio... PERFEITOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO...
ResponderExcluirAbração minha querida...
Hola Regina,
ResponderExcluirgracias por compartir tan bello poema.
Te dejo saluditos argentinos,
Sergio.
Rê, Ferreira Gullar é um mestre! Obrigada pelo lindo, maravilhoso presente! Pois a metade de mim é poeta e a outra metade, também! Beijos,
ResponderExcluirLEMBREI DE UMA AMIGA QUE MORA EM BELO HORIZONTE E FICOU SEM O SEU MARIDO A 2 ANOS ..ERA UM AMOR LINDO UMA FAMILIA LINDA E ELE FOI PRA ETERNIDADE E ELA FICOU SEM CHÃO ..ESSES DIAS NA FRASE DO ORKUT DELA ESTAVA ESCRITO ASSIM:
ResponderExcluirMETADE DE MIM É AMOR ..A OUTRA METADE É SAUDADE ...
TRISTE NÉ?MAS SÃO SENTIMENTOS FORTES E REAIS ..COMO ESSE LINDO TEXTO QUE VOCE COLOCOU PRA GENTE LER E SE ENCANTAR
BJS
OTILIA
Rê
ResponderExcluireste poema sempre me seguiu...eu sou assim..movida pelo amor..intensamente...só amor...as vezes minha razão me chama à razão e não encontra eco...
justamente porque:
metade de mim é amor,
e a outra metade...
também
beijocas
Loisane
Olá, RÊ!
ResponderExcluirO ser humano é um misto de contrastes e contradições: algumas, às vezes aparentemente inconciliáves, mas que ainda assim todas convivem dentro de nós, um pouco à semelhança da Natureza, que só quando vista no seu todo consegue fazer sentido.
Beijinhos amigos, e obrigado pelo simpático comentário.
Vitor
Fernanda, minha fêssora já amada.... melhor minha máquina de moer carninha amada!!!
ResponderExcluirQue bom que veio, que bom que gostou e vai voltar! Ah vai...nem que seja prá ler aquilo que lhe pertence rsrs e que insistentemente (ENERRRRRRGIA MININAS... SORRISO BOTOX NO ROSTO!!!) deixa marcas em minha "exuberância conserva" de ser!
Beijuuss n.c.
O melhor das metades não é saber que algo nos divide ou separa, mas ter a consciência de que nenhum Homem é uma ilha e que há sempre algo e/ou alguém que nos completa.
ResponderExcluirOi Regina,
ResponderExcluirGrande figura o Ferreira.
Representante digno do Brasil tão carente de valores e de referencia para todos nós.
Um fraternal abraço, bjs.
E não somos mesmo assim...feitos de metades??
ResponderExcluir"porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade"
Os poetas têm sempre razão!
Beijos
Graça
Gosto muito de Ferreira Gullar!
ResponderExcluirBjs minha amiga.
Regina querida,
ResponderExcluirNossa, eu sempre imaginei que esse texto fosse do Oswaldo Montenegro! Sempre, sempre, associei esse texto a ele.
Mas tudo bem, não tem nenhum problema. Até porque, acho que gostava do Oswaldo Montenegro só por causa desse texto, rsrsrs! De qualquer forma, adoro! esse texto.
Muito mesmo!
Beijo
Carla
Que escolha deliciosa, eu amo essa canção - um poema...minha metade de amor veio te saudar - contar que já cheguei e que trouxe na mala bastante saudade...e a outra metade amorosa promete por em dia a leitura de todas as maravilhas que os olhos já viram por aqui. Fase intensa, Rê...com calma e sem fazer barulho, vou e volto...mas deixo meu bjo e todo carinho, amadamiga!
ResponderExcluirOla Regina,
ResponderExcluirEu sei esse poema de cabeça, consigo lembrar-me dele inteirinho na minha mente, de tanto que gosto.
Também sempre achei que fosse do Oswaldo Montenegro.
Um beijo, querida!
Amo a genialidade de Ferreira Gullar. Amo tua perspicácia em nos mostrar sempre coisas muito bacanas...
ResponderExcluirVoltei serena da praia, aproveite, viu? Isso tem efeito relâmpago, o azedume volta rapidão.
Beijos, moça que adoro.
Prezada Regina,
ResponderExcluirO poema “METADE” é de autoria de Oswaldo Montenegro. Foi escrito e publicado em 1974 no libreto de sua peça “João sem Nome”. Algumas pessoas confundem com o poema “Traduzir-se”, que Ferreira Gullar publicou em 1980 em seu livro “Na vertigem do dia”, ou seja, 6 anos após a publicação do poema “Metade”, de Oswaldo Montenegro. Embora os dois poemas abordem a dualidade humana, são COMPLETAMENTE DIFERENTES.
Solicitação a imediata correção da autoria em sua postagem.
Att,
Jurídico / Oswaldo Montenegro Produções Artísticas.