Em junho do ano passado escrevi aqui sobre uma peça que me encantou tanto quanto o impacto, marcante e sentido, ao ler o livro na qual foi baseada: A alma imoral de autoria do Rabino Nilton Bonder. A interpretação - magnífica - da atriz Clarice Niskier ficou tatuada imortalmente em minh'alma! Bonder tem 18 livros publicados. Reconhecido nacional e internacionalmente como pensador nas áreas de humanismo, filosofia e espiritualidade, tem obras lançadas com grande sucesso nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. No Brasil, seu livro mais recente, “O Sagrado", editado pela Rocco, figurou na lista de mais vendidos. Eu gosto muito do "Tirando os sapatos" (Rocco) e sugiro a leitura! E como hoje é domingo, final de semana prolongado e preguiçoso de mais um feriado ,deixo para vocês uma - das minhas favoritas - de suas crônicas.
"Toda sexta-feira à noite começa o Shabat para a tradição judaica.Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino no sétimo dia da Criação.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.
A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje, o tempo de "pausa" é preenchido por diversão e alienação.
Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações para não nos ocuparmos. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.
Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo...
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.
As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado...
Nossos namorados querem "ficar", trocando o "ser" pelo "estar".
Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.
Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...
Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida.
A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é: o que vamos fazer hoje? Já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo.
Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande "radical livre" que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.
Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído."
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.
A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje, o tempo de "pausa" é preenchido por diversão e alienação.
Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações para não nos ocuparmos. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.
Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo...
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.
As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado...
Nossos namorados querem "ficar", trocando o "ser" pelo "estar".
Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.
Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...
Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida.
A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é: o que vamos fazer hoje? Já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo.
Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande "radical livre" que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.
Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído."
Belíssimo, Regina!
ResponderExcluirQuanta sabedoria num ensinamento assim, porque é um ensinamento.
Anotei os títulos dos livros e amanhã saio em busca.
Grata pela indicação e pela beleza do post como um todo.
Abraço bem apertado!
Lindo e pertinente, como tudo que Nilton Bonder escreve. Descansar é preciso, já que viver não é preciso (=seguro, matematicamente exato. Bonder é o meu 'guru' quando o assunto é Cabala. Além de ser gracinha, amoroso e gentil. A tradição judaica é ma-ra-vi-lho-sa: tolerante, respeitosa com o sagrado, muito compassiva.
ResponderExcluirBeijos voadores até Santa.
As vezes eu fico igual a esse Puma, numa preguiça, hahahahaha!
ResponderExcluirbjs magnífica.
Olá, Regina!
ResponderExcluirEu estou numa fase em que preciso de ação, já estou por demais descansado.
Quanto ao aoutor não conheço, mas vindo de você, vou procurar me informar!
Bjs!
Rike.
A arte do descanso é uma parte da arte de trabalhar ,beijinho e bom descanso.
ResponderExcluirUma linda crônica mesmo essa!Foi boim reler.beijos,tudo de bom,chica e um lindo e preguiçoso feriado!
ResponderExcluirMuito verdadeiro esse texto, Regina. Uma frase me chamou bem a atenção: "Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante."
ResponderExcluirQuem foi que disse isso? Acho um absurdo que as coisas tenham chegado nesse ponto. E detesto quando alguém me dá essa desculpa: "Tô sem tempo" ou "Ainda não fiz, porque não tive tempo". Essas coisas. Detesto.
Gostei também do final: " mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído". É a teoria da iniciativa e da acabativa. Muitos tem iniciativa, mas poucos tem "acabativa", a arte de finalizar uma tarefa, um relacionamento, um processo, uma fase.
Ótimo post!
Beijos
Carla
Para mim, lazer é poder escolher a sua própria atividade! Algumas pessoas podem parecer estar trabalhando, quando estão na realidade ocupadas no seu lazer.
ResponderExcluirMas, o importante é não estar sob pressão.
Saudações!
Nossa amiga que interessante...
ResponderExcluirEu não tenho esse soninho...Durmo tão pouquinho.Bjos achocoaltados e tenha uma linda semana
Regina: Testo belo que dá para refletirmos, Domingo dia de descanso, mas nem sempre é assim, adorei ler o teu texto fiquei encantado com a sabedoria com que tu escreves.
ResponderExcluirBeijos
Santa Cruz
Olá RÊ!
ResponderExcluirBelíssimo texto, recheado de verdades incómodas, que parecemos não ter vontade, ou capacidade, para mudar-(nos)...
Nem tudo o que evolui, necessariamente evolui para melhor, e quando se ganha num lado, perde-se no outro - só que às vezes demora um pouco até disso tomarmos consciência.
Vivemos, cada vez mais, para ter, e menos para o ser, e uma grande parte de nós já só se consegue diverir de forma progamada e organizada... por outros!
Pertinente e muito actual, este texto.
Beijinhos amigos; bom resto de domingo - aproveite!
Vitor
Ré Para leres os meus poemas tens que visitar o meu blog Silenciodosmeussonhos.blogspot.com
ResponderExcluirOrações ou refexões blog: Santacruzdouro.blogspot.com
Meus textos em forma de Prosa: blog asvozesdaminhaalma.blogspot.com
Beijos
Santa Cruz
Texto pertinente! Basta observar os animais: eles têm sempre o tempo de "descanso".
ResponderExcluirQuerida amiga, belíssimo texto. Cresci convivendo diretamente com o povo judeu e tenho muito amor e respeito por eles e suas tradições. Tenha uma linda semana. Beijocas
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