Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

METADE DE MIM


Outro dia me perguntaram se quando parti senti dor. Que tipo de dor? Questionei. De apartar... Como quando se separam siameses! Essa divisão do que foi um doeu em lágrimas. Gotas nada salgadas... Doces como quando as vertemos no instante mágico de um nascimento  do que - por milagre divino - um dia já foi um! "Porque metade de mim é amor, e a outra metade...também"


Metade (Ferreira Gullar*)

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.


Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.


Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...


Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...


Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.


Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.


Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.


Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.


E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.


Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.


Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.


Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.


Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.


E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.


Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.


E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.


Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.


E que a minha loucura seja perdoada.


Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também



*Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira nasceu dia 10 de setembro de 1930, em São Luis, Maranhão, Brasil; esse poeta completou 80 anos! Consagrado, o maranhense é também ensaísta, tradutor, dramaturgo e crítico de arte — além de assíduo palestrante sempre acompanhado por platéias numerosas. A edição 2010 do Prêmio Luís de Camões ficou com esse brasileiro. O mais importante prêmio literário da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, criado em conjunto pelos governos  do Brasil e de Portugal, renderá ao escritor 100 mil euros. Já foram agraciados, entre outros, João Ubaldo Ribeiro, João Cabral de Melo Neto, Arménio Vieira, Rubem Fonseca, Miguel Torga, Antonio Candido, Lygia Fagundes TellesLobo Antunes.(Fonte:Internet)

28 comentários:

  1. Existem muitos tipos de dor a se sentir nessa vida
    algumas mais insuportaveis que a outra...beijos de bom dia

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  2. Eu conheci esse gênio Ferreira Gullar de uma forma bem popular, assim como Florbela Espanca.
    Na voz marcante do Fagner em TRADUZIR-SE.
    Penso que é quase impossível mensurar a dor do outro, ou traduzir-se a nossa.
    Essa dádiva Deus concede aos artistas.
    "Traduzir-se uma parte
    na outra parte que é uma questão de vida ou morte será arte, será arte, será arte?"
    Ferreira Gullar
    wilma
    www.cancerdemamamulherdepeito@blogspot.com

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  3. Como todo o carinho...
    Chegou o bom momento, ou o grande dia!
    O sorteio estar lançado e você por me seguir e ler-me, convido-lhe a participar. Leia o regulamento e respondas as perguntas. São 20 livros que serão sorteados.
    Vamos lá!
    Sua participação é o meu grande presente.
    JORNAL AFOGANDO O GANSO
    http://afogandooganso.blogspot.com

    Beijos.
    Guará Matos,
    @GuararemaMatos

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  4. Olá, Regina!
    Tens andado poetisa ultimamentekkk! E isso é muito bom! Pra sote nossa, continue assim!!
    Bjs!
    Rike.

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  5. Olá querida!
    Amei o Blog!tudo lindo Parabéns!
    vc realmente tem o dom de escrever!!!

    Vou passar aqui agora que tenho endereço com mais frequecia!
    Beijoooo e até quinta-feira!!eeeeeeeeeeeeee Alegria!!!
    Fernanda Antunes(Professora Idealis..Garra..etc..)rsrsrs

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  6. RÊ, adorei, como sempre NÉ!
    Porque metade de mim é amor,
    e a outra metade...
    também
    Cade a dor???
    xumiu!!!!
    Beijossssssssss

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  7. Oi Rê,

    Simplesmente lindo demais.
    Eu precisava ler isto hoje.
    Bijocas amorzinho.

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  8. Olá, querida e amada Re!

    "Que não seja preciso
    mais do que uma simples alegria
    para me fazer aquietar o espírito"

    Poeta é mesmo assim...
    Passa mensagem chave
    que acaricia o coração.
    pena quando a receita é enclave
    e não finda a inquietação.
    a dor da lacuna é ausência
    preenche-se o vazio
    com o perfume, essência
    da alma que persiste em reviver o que se sentiu
    e na volta do tempo que parou,
    quem vislumbra a luz na inquietude
    de quem fica,
    a espelha em quem partiu.
    metades de um que não foi, está...
    - vai, vem... mas, sempre estará
    completando em plenitude.

    Beijo e kandandos meus a atravessar tanto mar...

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  9. Rê,

    Eu acho que voltei para ficar, acabei de sair de uma crise de depressão, rsrsr, espero jamais ter novamente.
    Não abandonei você e pode ficar tranquila que a nossa amizade será eterna.
    Sorte e muita saúde é o que mais desejo a você.
    Fica com Deus.

    Beijos
    Virna Soledade
    www.superandocancerdemama-virna.blogspot.com

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  10. Ahã!... O 'um' é um 'tudo' indivisível, não é mesmo? Amo este poema de Ferreira Gullar, leio e releio vez por outra, porque metade dele é lucidez e a outra metade... também!
    Rêencontros são assim mesmo, com abraços, sem abraços, coisa de alma. Beijos.
    Angela Fonseca
    http://noticiasdacozinha.com.br

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  11. É preciso metade do tempo para usar a outra metade.
    Beijo.

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  12. A outra metade de mim é um silêncio... PERFEITOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO...

    Abração minha querida...

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  13. Hola Regina,

    gracias por compartir tan bello poema.

    Te dejo saluditos argentinos,

    Sergio.

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  14. Rê, Ferreira Gullar é um mestre! Obrigada pelo lindo, maravilhoso presente! Pois a metade de mim é poeta e a outra metade, também! Beijos,

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  15. LEMBREI DE UMA AMIGA QUE MORA EM BELO HORIZONTE E FICOU SEM O SEU MARIDO A 2 ANOS ..ERA UM AMOR LINDO UMA FAMILIA LINDA E ELE FOI PRA ETERNIDADE E ELA FICOU SEM CHÃO ..ESSES DIAS NA FRASE DO ORKUT DELA ESTAVA ESCRITO ASSIM:
    METADE DE MIM É AMOR ..A OUTRA METADE É SAUDADE ...
    TRISTE NÉ?MAS SÃO SENTIMENTOS FORTES E REAIS ..COMO ESSE LINDO TEXTO QUE VOCE COLOCOU PRA GENTE LER E SE ENCANTAR
    BJS
    OTILIA

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  16. este poema sempre me seguiu...eu sou assim..movida pelo amor..intensamente...só amor...as vezes minha razão me chama à razão e não encontra eco...
    justamente porque:
    metade de mim é amor,
    e a outra metade...
    também

    beijocas

    Loisane

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  17. Olá, RÊ!

    O ser humano é um misto de contrastes e contradições: algumas, às vezes aparentemente inconciliáves, mas que ainda assim todas convivem dentro de nós, um pouco à semelhança da Natureza, que só quando vista no seu todo consegue fazer sentido.

    Beijinhos amigos, e obrigado pelo simpático comentário.
    Vitor

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  18. Fernanda, minha fêssora já amada.... melhor minha máquina de moer carninha amada!!!
    Que bom que veio, que bom que gostou e vai voltar! Ah vai...nem que seja prá ler aquilo que lhe pertence rsrs e que insistentemente (ENERRRRRRGIA MININAS... SORRISO BOTOX NO ROSTO!!!) deixa marcas em minha "exuberância conserva" de ser!
    Beijuuss n.c.

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  19. O melhor das metades não é saber que algo nos divide ou separa, mas ter a consciência de que nenhum Homem é uma ilha e que há sempre algo e/ou alguém que nos completa.

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  20. Oi Regina,
    Grande figura o Ferreira.
    Representante digno do Brasil tão carente de valores e de referencia para todos nós.
    Um fraternal abraço, bjs.

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  21. E não somos mesmo assim...feitos de metades??
    "porque metade de mim é partida
    mas a outra metade é saudade"
    Os poetas têm sempre razão!
    Beijos
    Graça

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  22. Gosto muito de Ferreira Gullar!
    Bjs minha amiga.

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  23. Regina querida,

    Nossa, eu sempre imaginei que esse texto fosse do Oswaldo Montenegro! Sempre, sempre, associei esse texto a ele.
    Mas tudo bem, não tem nenhum problema. Até porque, acho que gostava do Oswaldo Montenegro só por causa desse texto, rsrsrs! De qualquer forma, adoro! esse texto.

    Muito mesmo!

    Beijo

    Carla

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  24. Que escolha deliciosa, eu amo essa canção - um poema...minha metade de amor veio te saudar - contar que já cheguei e que trouxe na mala bastante saudade...e a outra metade amorosa promete por em dia a leitura de todas as maravilhas que os olhos já viram por aqui. Fase intensa, Rê...com calma e sem fazer barulho, vou e volto...mas deixo meu bjo e todo carinho, amadamiga!

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  25. Ola Regina,
    Eu sei esse poema de cabeça, consigo lembrar-me dele inteirinho na minha mente, de tanto que gosto.
    Também sempre achei que fosse do Oswaldo Montenegro.
    Um beijo, querida!

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  26. Amo a genialidade de Ferreira Gullar. Amo tua perspicácia em nos mostrar sempre coisas muito bacanas...
    Voltei serena da praia, aproveite, viu? Isso tem efeito relâmpago, o azedume volta rapidão.

    Beijos, moça que adoro.

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  27. Prezada Regina,
    O poema “METADE” é de autoria de Oswaldo Montenegro. Foi escrito e publicado em 1974 no libreto de sua peça “João sem Nome”. Algumas pessoas confundem com o poema “Traduzir-se”, que Ferreira Gullar publicou em 1980 em seu livro “Na vertigem do dia”, ou seja, 6 anos após a publicação do poema “Metade”, de Oswaldo Montenegro. Embora os dois poemas abordem a dualidade humana, são COMPLETAMENTE DIFERENTES.

    Solicitação a imediata correção da autoria em sua postagem.
    Att,
    Jurídico / Oswaldo Montenegro Produções Artísticas.

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