Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O MISTÉRIO DO FUTEBOL

O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?
Começa quando a gente é criança. Quando qualquer coisa - até o corredor da casa - é um campo de futebol e qualquer coisa vagamente esférica é a bola. Se é genético, não se sabe. Um brasileiro criado na selva por chimpanzés, quando se pusesse de pé, começaria a fazer embaixadas com frutas, mesmo sem saber o que estava fazendo? Não se sabe.
Nenhum prazer que teremos na vida depois, incluindo a primeira transa, se iguala ao prazer da primeira bola de verdade. Autobiografia: sou do tempo da bola de couro com cor de couro. A oficial, número 5. Ganhei a minha primeira com cinco ou seis anos. Ainda me lembro do cheiro. Depois de ganhá-la, você ficava num dilema: levá-la para a calçada e começar a chutá-la, ou preservar o seu couro reluzente? Uma bola futebol de verdade era uma coisa tão preciosa que se hesitava em estragá-la com o futebol.
Futebol de calçada. O tamanho dos times variava. De um para cada lado a 14 ou 15 para cada lado. Duração das partidas: até escurecer ou a vizinhança reclamar, o que acontecesse primeiro.
Nada interrompia as partidas. Ninguém saía. Joelho ralado, a mãe via depois. Gente passando na calçada que se cuidasse. Só se respeitava velhinha, deficiente físico e, vá lá, grávida. Os outros não estavam livres de ser atropelados. Quem mandara invadir nosso campo?
Comparado com calçada, terreno baldio era estádio. E terreno baldio com goleiras, então, era Maracanã. As goleiras podiam ser feitas com sarrafos ou galhos de árvore. Não importava, eram goleiras. Um luxo antes inimaginável.
O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?
Todos estes prazeres passam - com o tempo e as obrigações, com a vida séria, com a barriga - mas o amor pelo nosso time continua. Confiamos ao nosso time a tarefa de continuar nossa infância por nós. Passamos-lhe a guarda dos nossos prazeres com a bola. A relação com o nosso time é a única das nossas relações infantis que perdura, tão intensa e irracional quanto antes. Ou mais.
De onde vem isso? Que tipo de amor é esse? Um mistério. Dizem que no fundo é uma necessidade de guerra. De ter uma bandeira, ser uma nação e arrasar outras nações, nem que seja metaforicamente. Psicologia fácil. Não explica por que a pequena torcida do Atlético Cafundó, que nunca arrasará ninguém, continua torcendo pelo seu time. Talvez o que a gente ame no futebol seja o nosso amor pelo futebol. Isso que nos faz diferentes dos outros, que amam o futebol mas não tanto, não tão brasileiramente.
Ou talvez o que a gente ame seja justamente o mistério.
(Mais uma do meu amado Luis Fernando Verissimo – Jornalista e escritor -Texto publicado no Jornal MARCA DA CAL, abril de 2007).





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5 comentários:

  1. Esse mistério também existe aqui do outro lado do Oceano...Amor á camisola até morrer!!Já que fomos eliminados do mundial, não há dúvidas que
    hoje Portugal estará a torcer pelo Brasil, com certeza!! Força Brasiuuuuuu!!!

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  2. Isabel, diva, amada!
    ACABOU-SE O QUE ERA DOCE... escuto os locutores dizerem: "era só uma competição de futebol", "era só um jogo de futebol"... Agora, depois da eliminação do Brasil, vamos nos ocupar do "JOGO" das eleições presidenciais!
    Nesse não vai dar para dizer: é só uma competição!!!!
    Beijuuss n.c.

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  3. Brasil fora, que injustiça!
    A bola não tem culpa, a indisciplina e o excesso de confiança foram os responsáveis...
    Foi pena!

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  4. Negativo, Rê, nem jogadores e/ou comissão técnica têm tanta culpa assim. O erro maior foi levar a seleção para o beija-mão com o maior pé-frio do universo, o Lulla.
    È só pesquisar, a seleção de volei, o Popó, o Corinthians antes da Libertadores, ginastas olímpicos, etc, etc.
    É passar pelo Planalto e não ganhar mais nada.
    Bjs.

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  5. Rouxinol, amado!
    É uma pena mesmo, mas agora...sair em busca de quem e do quê culpar, não adianta mais. Talvez essa busca seja válida para consertar erros e não repetí-los em 2014, onde seremos os anfitriões. E anfitrião que se preze, brilha!
    Beijuuss n.c.

    JC, de casa, amado!
    rsrsrs foi ótimo vc ter nos lembrado desse "pequeno" detalhe.
    Beijuuss n.c.

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