SÓ UM TELEFONEMA

Era sexta-feira e ao tirar o celular do bolso para atendê-lo, se desfez em minhas mãos. Não, não me perguntem como aconteceu, pois não saberei contar-lhes. Os que me conhecem e acompanham meu blog, há algum tempo, já sabe quem e como sou diante dessas modernidades todas. Diante desse aparelhinho então, sempre pergunto na operadora – quando me está “ofertando” modelito fashion, no up da onda, lançamento – depois de ouvir todos os recursos disponíveis: ele faz ligação? Eu vou receber os telefonemas? Para mim é o que basta!

Tive que trocá-lo. Depois de gastar todas àquelas horas esperando pelo atendimento e ouvindo tudo que o tal aparelho, top de linha, oferecia, quis saber do básico. Se com ele estarei conectada a web, posso tirar não sei quantas fotografias, que tem não sei quantos gigas, que abaixa e guarda uma quantidade enorme de músicas, que tem comando por voz, que tem bluetooth, que liga no carro sei lá de que jeito, quero saber não. Chego à casa munida de uma caixa com trezentos e um manuais para ler, acessórios e nem sei mais o quê. Fui fazer uma ligação e o bendito estava travado. Quem travou? Eu não fui! Pego dos 301, o manual resumido e olho os sinais, aperto, desaperto e nada dele destravar.

 Lembrei que um dos meus sobrinhos, há meses, tinha o tal modelito e penso: resolvido o problema, ligo para ele e assistência técnica imediata receberei! Mas qual é o telefone dele? Está na agenda do celular! Não sei de memória, nem o dele nem de ninguém mais... Todos e tudo arquivado no chip do antigo celular. Não é assim? Com apenas um toque temos o celular, o fone residencial, comercial, email, endereço, página na web, etc. e tal? TAQUEOSPARIU!!! Quero minha agenda de papel... Quero voltar aos tempos antigos quando, todos, só tinham telefone residencial e comercial. Tudo arquivado no chip da nossa memória e que falávamos do que realmente importava, do que fazia a vida ser simples e gostosa de ser vivida: Como vai você? E as crianças? Estou ligando para te convidar... Vovó foi internada! Esse final de semana a turma vai se reunir na casa de... Dá para levar um tira-gosto? Você pode me dar uma carona para o casamento? Você vai à festa de 15 anos da...? É festa a rigor ou passeio completo? Você tem uma bolsa para me emprestar? Você vai ao aeroporto buscar nosso amigo? Mamãe já avisou que, nesse domingo, tem canjica temperada!

Ah, quanta saudade... Tá legal, eu sei, não precisa me dizer que esses tempos, mais que modernos, facilitaram em muitas coisas nossas vidas e até já salvaram tantas outras. Que se não fossem por eles, não os teria conhecido, nem vocês a mim. Mas eu só queria dar um simples telefonema!